Com os bens bloqueados pela Justiça, Cunha diz viver em "situação de penúria"
Em depoimento à Justiça Federal de Brasília, o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) afirmou viver em "situação de absoluta penúria financeira" após ter tido os bens bloqueados pela Justiça no curso das investigações contra ele.
"Neste momento estou sem renda. Absolutamente sem renda. E os bens bloqueados. É uma situação de absoluta penúria."
Segundo Cunha, até o advogado que o defende na Justiça está trabalhando "para receber depois", disse.
A Justiça Federal do Paraná, onde Cunha é investigado na Operação Lava Jato, determinou o bloqueio de R$ 220 milhões em bens do ex-deputado, como carros e empresas.
O ex-deputado prestou depoimento nesta segunda-feira (6) por cerca de 6h30 como réu no processo em que foi acusado de integrar um esquema de corrupção na Caixa Econômica para liberação de recursos do FI-FGTS, fundo de investimentos gerido pelo banco estatal.
A denúncia aponta que entre os anos de 2011 e 2015 o esquema funcionava por meio da cobrança de propina de empresas para liberar investimentos feitos com recursos do FI-FGTS.
O ex-ministro e ex-deputado federal Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) também foi denunciado neste processo por suspeita de ter se beneficiado do esquema.
Uma peça-chave no esquema, segundo a acusação, era o então vice-presidente de Fundos de Governo e Loteria da Caixa Fábio Cleto, que representava o banco no comitê de investimentos do FI-FGTS e fechou acordo de colaboração premiada.
Os delatores dizem que Cunha foi o principal responsável pela indicação e manutenção de Cleto no cargo.
Em seu depoimento à 10ª Vara Federal, o ex-vice-presidente da Caixa afirmou que a aprovação dos projetos pela Caixa sofria influência de Cunha e de Funaro.
"Desde o início comecei sob orientação de Lúcio Funaro ou de Eduardo Cunha", disse.
Segundo Cleto, ele informava a Cunha e Funaro quais empresas tinham pedidos de financiamento e aguardava a resposta de Cunha ou Funaro sobre se deveria reter ou dar seguimento à aprovação do pedido. Segundo o delator, posteriormente ele era informado do valor de propina cobrado das empresas.
Apesar de os financiamentos serem decididos por 12 votos do conselho que deliberava sobre os investimentos, Cleto afirmou considerar que seu voto exercia influência sobre os demais, pelos argumentos técnicos que trazia.
"Não acredito que meu voto era o decisivo, mas acredito sim que tive influência dentro desse comitê", afirmou Cleto.
A denúncia cita nove casos em que teria sido cobrado propina pelo grupo ligado a Cunha para a aprovação de projetos do FI-FGTS.
O delator Lúcio Funaro, que atuava como corretor de valores e indicou Cleto a Cunha, afirma ter como provar todos os pagamentos que ele fez para o ex-deputado.
"Eu tenho como provar como gerei o dinheiro, como paguei, que eu paguei o advogado dele na Suíça, tenho todas essas provas. Aí eu quero ver como ele vai negar", disse Funaro eu depoimento à 10ª Vara Federal.
O delator Alexandre Margotto, que trabalhou na empresa do corretor, em São Paulo, disse em seu depoimento ter visto um funcionário de Cunha buscar dinheiro no escritório de Funaro.
O próprio Funaro afirmou, também em audiência desse processo, que Cunha teria alugado um flat próximo ao escritório dele para buscar dinheiro de propina e distribuir a aliados.
"O deputado Eduardo Cunha alugou um flat na mesma rua que a minha para pegar dinheiro no meu escritório, levar pro flat e lá distribuir dinheiro de propina", disse o delator.
Cleto, Funaro e Margotto, réus nesse processo, firmaram acordos de colaboração premiada com a Justiça.
Eduardo Cunha, que está preso desde outubro do ano passado, tem negado o envolvimento em qualquer prática ilegal e afirma que Funaro mente.
A defesa de Henrique Alves afirma que não há provas contra ele. Henrique Alves afirmou em seu depoimento que as acusações contra ele são "inteiramente falsas e mentirosas".
O que Cunha já disse no depoimento
Cunha negou que Funaro fosse um operador do PMDB em esquemas ilícitos.
"Zero [relação]. Todo mundo que ele conheceu foi através de mim. Ninguém sabe quem é Lúcio Funaro. Operador coisa nenhuma. Isso é uma história que ele está criando para fazer delação", disse Cunha.
O ex-deputado também desafiou Funaro a provar que pagou a ele dinheiro de propina. Segundo Cunha, todos os valores que ele recebeu são fruto de lucros em operações no mercado financeiro.
Eduardo Cunha também negou ter indicado Fábio Cleto para a vice-presidência de Fundos de Governo e Loterias da Caixa. "Eu só vim conhecer [Fábio Cleto] depois da nomeação dele", disse. O ex-deputado também afirmou que a responsabilidade pela nomeação de Cleto para representar o banco no comitê gestor do FI-FGTS foi do então presidente da Caixa, Jorge Hereda. Segundo Cunha, o PMDB não fez nenhum pedido para que Cleto ocupasse o cargo.
Cunha também negou a acusação de Funaro de que ele teria pedido dinheiro para comprar votos contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) no processo de impeachment. Segundo Cunha, o delator não apresentou provas, como ligações ou mensagens de celular, de que o pedido foi feito.
"Nessa data do impeachment tinha seis meses que eu não encontrava Lúcio Funaro", disse.
Eduardo Cunha afirmou não duvidar da possibilidade de que o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) tenha recebido propina do suposto esquema de corrupção na Caixa Econômica.
Cunha, no entanto, não apontou conhecimento de qualquer irregularidade praticada por Moreira, e disse fazer a afirmação apenas com base no conhecimento que ele tem do colega de partido.
"Se Moreira Franco recebeu, e se tratando de Moreira Franco até não duvido, mas não foi por minhas mãos", disse.
Cunha disse que a pedido de Funaro marcou uma reunião com Moreira Franco, em 2010, quando o este era vice presidente de Fundos de Governo e Loterias da Caixa. Mas o ex-deputado disse não ter participado do encontro e não ter conhecimento sobre o que foi tratado.
Funaro alega que nesse encontro foi acertada propina do grupo Bertin para políticos do PT e do PMDB.
Cunha diz que recebeu doações oficiais do grupo, mas que o valor não tem relação com irregularidades.
O ex-deputado também afirmou que Funaro nunca teve proximidade com o presidente Michel Temer.
"Lúcio Funaro nunca teve acesso a Michel Temer", disse.
Ao responder a perguntas do procurador da República Anselmo Lopes, Cunha se negou a afirmar se é dele uma assinatura em uma das planilhas apresentadas por Lúcio Funaro sobre o suposto controle de pagamentos de propina.
O ex-deputado pediu que o Ministério Público antes realizasse uma perícia sobre a assinatura para comprovar se foi ou não assinada por ele.
O advogado de Funaro, Bruno Espiñeira Lemos, pediu que fosse juntado ao processo um supoto bilhete escrito a lápis entregue por Cunha a Funaro com uma conta corrente na Suíça que pertenceria a Fábio Cleto.
Cunha nega a autoria do bilhete. "Faço questão absoluta de fazer a perícia para configurar que não é nada escrito por mim", disse o ex-deputado.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.