"Querem transformar o Brasil no Caldeirão do Huck", diz Lula em ato no Rio
A poucos dias de ser julgado em segunda instância, pelo TRF4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), no caso do tríplex do Guarujá (SP), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou nesta terça-feira (16) de um encontro com artistas e intelectuais no Rio de Janeiro. Batizado de “Em Defesa da Democracia e de Lula”, o evento reuniu cerca de 1.000 pessoas no teatro Oi Casagrande, no Leblon, zona sul da capital fluminense.
Entre os presentes estavam a escritora Conceição Evaristo, a filósofa Márcia Tiburi, os cantores Beth Carvalho e Otto, os atores Osmar Prado, Dira Paes e Elisa Lucinda, o humorista e escritor Gregório Duvivier e o cineasta Silvio Tendler. Outros, como Leonardo Boff e Yamandu Costa, enviaram mensagens de apoio ao evento. O cantor e compositor Chico Buarque participou da mobilização para o evento, mas não pôde comparecer.
Também participaram o líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) Guilherme Boulos, a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), o senador Lindbergh Farias (RJ), o ex-ministro Celso Amorim e a ex-governadora do Rio Benedita da Silva.
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Primeiro colocado nas principais pesquisas de intenção de voto para a eleição presidencial de outubro, Lula aproveitou o ato para provocar alguns dos possíveis candidatos à presidência. Ele citou tanto o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), quanto o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que já manifestaram interesse em concorrer, além do apresentador de televisão Luciano Huck, que tem dito que não disputará cargos eletivos.
"Eles querem transformar o Brasil no Caldeirão do Huck. O Congresso tem um pouco a forma do caldeirão”, gracejou, depois citando sua terra-natal. “Por que não podem ver o cadeirão de Garanhuns?”
Na avaliação de Lula, os outros partidos estão com dificuldades de achar um candidato capaz de derrotá-lo nas urnas.
"[Eles pensam] 'Quando a gente faz uma pesquisa de opinião pública não aparece o Alckmin, o [senador José] Serra, o Merval [Pereira, jornalista da GloboNews], o Huck, o Faustão. Por que fizemos tudo isso e aparece o Bolsonaro ao lado dele?' Agora que viram que está ficando muito complicado, começaram a bater no Bolsonaro. Ele vai ver o quanto é bom comer do pão que o diabo almoçou”, disse o petista.
Ele citou ainda a composição da eleição de 1989, em que perdeu no segundo turno para Fernando Collor, sugerindo que os candidatos daquele ano fossem mais gabaritados do que seus atuais rivais. “A gente tinha Ulisses Guimarães, [Leonel] Brizola, [Mario] Covas. Também Fernando Collor e [Paulo] Maluf. Agora…”
Lula criticou, mas não nominalmente, o presidente do TRF4, desembargador Thompson Flores, que elogiou a sentença do juiz Sergio Moro no caso do tríplex do Guarujá (SP) no ano passado, e o desembargador Leandro Paulsen, revisor de seu caso na 8ª turma do Tribunal que julgará o processo na segunda instância.
“Não vou falar mal dos juízes de Porto Alegre, porque não os conheço. Estranhei um juiz [Thompson] não ter lido a sentença e dizer que era irretocável. Estranhei ser capaz [Paulsen] de ler uma sentença de mais de 6 mil páginas em seis dias. Mas tem leitura dinâmica, pode ser…”, afirmou, referindo-se ao tempo que o revisor levou entre receber o relatório e colocar o caso em pauta.
Lula foi condenado a 9 anos e meio de prisão em primeira instância, pelo juiz Sergio Moro, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Segundo a denúncia, ele teria recebido da OAS um apartamento no Guarujá em retribuição a benefícios concedidos à empresa em contratos com a Petrobras. O ex-presidente nega as acusações.
Ele será julgado no dia 24, no TRF4, em Porto Alegre, e pode ficar inelegível caso a condenação seja mantida.
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Após dizer em entrevista ao site Poder 360 que para se cumprir um pedido de prisão do ex-presidente Lula "vai ter que matar gente", a senadora Gleisi Hoffmann afirmou nesta terça no Rio que o reforço na segurança em Porto Alegre, sede do TRF4, é desnecessário. "Não precisam ter medo, pedir reforço da segurança para Porto Alegre. Nunca fizemos atos agressivos, mas não seremos mansos vendo os direitos do povo brasileiro serem retirados”, afirmou.
Ela criticou o processo contra o presidente, que considera surreal -- “não porque não tenha provas, mas porque não tem crime” --, e defendeu que o julgamento tenha por base a Constituição.
No começo do ato, o advogado Fernando Lacerda comentou a situação jurídica de Lula no caso do tríplex e argumentou que a ideia de “proprietário de fato”, como defende o Ministério Público em sua denúncia ao dizer que o ex-presidente é de fato o dono do apartamento, não existe no Direito brasileiro. Segundo ele, o petista foi condenado sem provas.
Tiburi questionou o presidente pela formação atual do STF (Supremo Tribunal Federal), que classificou como “uma bosta, epistemologicamente falando”. Dos 11 ministros que compõem atualmente a Corte, sete foram indicados por presidentes petistas: Ricardo Lewandowski (2006), Cármen Lúcia (2006) e Dias Toffoli (2009), por Lula; e Luiz Fux (2011), Rosa Weber (2011), Luis Roberto Barroso (2013) e Edson Fachin (2015), por Dilma Rousseff (PT).
Gregório brincou que o ato era importante só por trazer tantas pessoas de vermelho ao Leblon - um dos bairros mais ricos da capital -- e disse que o movimento ecoava às Diretas Já ao lutar pela liberdade de votar em um candidato à presidência. Também frisou a importância de cobrar que ele, se eleito, fizesse de fato alianças à esquerda.
Elisa Lucinda disse que ficava feliz de ver o teatro cheio -- o evento lotou a casa -- e que chegou a ter medo de que o ato não tivesse quórum. “A gente ficou desacostumada de ser esquerda, perdemos a mão. Ninguém esperava chegar a esse ponto. O PT cometeu muitos erros, fez alianças que nos custaram muito caro. Nem por isso deixei de ser esquerda”, afirmou.
Ela disse ainda estar ansiosa para ver o ex-presidente de volta ao governo. “Foi a primeira vez que vimos o povo no poder. Lula foi o mais perto de ter um presidente negro que a gente chegou”.
Protestos contra Lula
No mesmo horário do encontro, um grupo contrário ao ex-presidente se reuniu do outro lado da rua, em frente ao teatro, na Avenida Afrânio de Melo Franco, em ato denominado "Lula no Leblon Não".
Desde as 18h, um pequeno grupo com bandeiras do Brasil e cartazes onde se liam "Lula na cadeia" e "Intervenção militar já" provocava as pessoas que aguardavam para entrar no evento. Entre os manifestantes estavam defensores da intervenção militar e fãs do juiz Sergio Moro
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