Bresser-Pereira critica 'dupla injustiça' a Lula e pede união de centro-esquerda por Ciro
Com a determinação da execução da pena de prisão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelo juiz Sergio Moro, nesta quinta-feira (5), o ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira, 83, defende uma união político-eleitoral de centro-esquerda em torno da pré-candidatura de Ciro Gomes (PDT) à Presidência da República. Bresser-Pereira foi ministro da Fazenda do governo do presidente José Sarney (MDB) e da Administração e Reforma do Estado e da Ciência e Tecnologia no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
"A política não é o campo da justiça e a candidatura de Lula está inviabilizada. Diante disso, defendo que a centro-esquerda se ponha a pensar em um candidato. Já existe um candidato que me parece excelente, que é o Ciro Gomes", disse Bresser-Pereira ao UOL.
Segundo o ex-ministro, Ciro é "um homem altamente preparado para ser presidente da República, muito equilibrado".
"Conhece profundamente a economia brasileira, a sociedade, a política e sabe que a política é a arte dos acordos, da argumentação, mas também dos compromissos com a nação. Minha esperança é a eleição de Ciro."

Ciro tem se aproximado do núcleo de estudos do novo desenvolvimentismo, teoria econômica desenvolvida por Bresser-Pereira sob o guarda-chuva da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas de São Paulo), onde também dá aulas.
O novo desenvolvimentismo retoma tradição brasileira iniciada com o economista Celso Furtado, considerado o "pai" do desenvolvimentismo, de participação do Estado brasileiro como indutor de desenvolvimento e riquezas. Na síntese de Bresser-Pereira: "Preconiza que sejam dadas condições iguais de competição para a indústria brasileira, para todo o setor de bens industriais e de serviços que são comercializados internacionalmente".
"Dupla injustiça"
Sobre o processo judicial contra Lula e a prisão pedida, Bresser-Pereira diz acreditar que o ex-presidente seja vítima de "dupla injustiça".
Primeiro, na condenação por Moro no caso do tríplex em Guarujá (SP), que, ao ver do ex-ministro, ocorreu "sem prova digna do nome".
Segundo, a rejeição do habeas corpus da defesa do petista pelo STF (Supremo Tribunal Federal), que Bresser-Pereira avalia como decisão "claramente inconstitucional". Para ele, desconsidera a Constituição no chamado trânsito em julgado, de só se cumprir pena após esgotados todos os recursos possíveis.
Infelizmente a injustiça faz parte da política e faz parte daqueles que estão mais fortes
Bresser-Pereira, ex-ministro
Para Bresser-Pereira, tanto a confirmação da sentença na segunda instância quanto a da rejeição do habeas corpus foram decisões corporativas. "Moro e a Lava Jato têm apoio da população, então ficaram poderosos. E o resto do Judiciário se sentiu obrigado a fechar com eles."
Ele considera "Lula o maior líder político que o Brasil teve desde [o ex-presidente] Getúlio Vargas". "É um personagem extraordinário na história brasileira, mas infelizmente a injustiça faz parte da política e faz parte daqueles que estão mais fortes."
O risco Bolsonaro
Mas a maior preocupação do ex-ministro não é a execução da pena de prisão de Lula e o momento de incerteza que representa para o país, nem mesmo a pressão das Forças Armadas sobre a política.
O maior perigo, para ele, leva o nome de Jair Bolsonaro (PSL-RJ), segundo nas pesquisas de intenção de votos para presidente.
"É um candidato absolutamente comprometido com o autoritarismo e que está combinando seu autoritarismo fascista com o neoliberalismo e obtendo apoio de uma quantidade grande de jovens financistas. É uma vergonha, uma tristeza muito grande que possa acontecer uma coisa dessas [eleição dele] no Brasil."
Que a gente tenha neoliberais, o que fazer? Mas neoliberais fascistas é demais
Bresser-Pereira, ex-ministro
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