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Barbosa diz que não decidiu se será candidato, mas classifica Datafolha como "muito bom"

Gustavo Maia

Do UOL, em Brasília

19/04/2018 14h53Atualizada em 19/04/2018 19h08

Cotado para ser o candidato do PSB à Presidência da República, o ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa afirmou nesta quinta-feira (19) que ainda não decidiu se será candidato, mas classificou como "muito bom" o resultado da pesquisa Datafolha divulgada no último domingo (15).

Barbosa obteve entre 8% a 10% das intenções de voto no levantamento, chegando a ficar em terceiro lugar em cenários sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"Para quem não frequenta ambiente político, não dá entrevista, que leva uma vida pacata, está muito bom, né?", disse o ex-ministro, que se aposentou do Supremo em julho de 2014.

A primeira declaração a jornalistas desde que se filiou ao PSB no último dia 6 foi dada na chegada de Barbosa à sede do partido, em Brasília, onde ele se reuniu com a cúpula da legenda nesta quinta (19).

O possível presidenciável foi recebido por mais de 10 militantes da Negritude Socialista Brasileira, que levaram cartazes com a foto dele e frases como "compromisso para mudar o Brasil".

Cercado por jornalistas na entrada da sede do partido, Barbosa foi abordado por uma militante do movimento negro do PSB e se negou a parar para cumprimentar o grupo que o aguardava. Informou que tinha "horário" a cumprir. Eram 14h35 e a reunião estava marcada para as 14h30.

No dia de sua filiação ao PSB, no último dia 6 e véspera do fim do prazo para quem pretendia disputar cargos eletivos, Barbosa divulgou um comunicado falando sobre suas intenções eleitorais e admitiu pela primeira vez a possibilidade de concorrer ao Palácio do Planalto.

"No ano passado, fui estimulado por amigos a manter conversas com líderes de partidos políticos com vistas a uma possível filiação e candidatura a cargo eletivo. Essas conversas mostraram-se mais construtivas e consequentes com o PSB, presidido pelo doutor Carlos Siqueira", escreveu o ex-ministro.

Ainda não consegui convencer a mim mesmo de que devo ser candidato

Joaquim Barbosa, nesta quinta-feira

No comunicado, Barbosa ponderou, no entanto, que "dar esse passo --sobretudo neste momento conturbado da vida nacional-- tem sido um dilema pessoal" para ele.

"Não mudou nada em relação à nota que eu divulguei na internet no dia em que eu me filiei ao PSB. Ou seja, há dificuldades dos dois lados", disse Barbosa ao ser indagado após a reunião sobre o que falta para decidir se será o candidato do partido.

"O partido tem a sua história, tem as suas dificuldades de alianças regionais e eu, do meu lado, tenho as minhas dificuldades de ordem pessoal. Eu ainda não consegui convencer a mim mesmo de que devo ser candidato. Persiste essa dúvida muito grande da minha parte", declarou.

No entendimento do ex-ministro, que hoje atua como advogado, a candidatura afeta sua vida pessoal, a de seus familiares e "de várias pessoas do entorno". Questionado se a família é contra a incursão eleitoral, ele respondeu que "não é a favor".

Na nota, ele destacou que, embora, uma parcela considerável das lideranças do partido externe simpatia por sua filiação, "o fato é que, em total transparência, o PSB deixou claro que não me garante de antemão a legenda para uma possível candidatura à Presidência da República". "Tal arranjo me convém, pois, como dito anteriormente, ainda questiono se devo ou não ingressar na disputa político-eleitoral", acrescentou.

Questionado ao final da reunião se não temia perder eventuais apoios por conta da demora em definir a candidatura, Barbosa respondeu com duas palavras em inglês: "Who  cares? ["quem se importa?", em português]. Perguntado se apoiaria uma reforma da Previdência, Barbosa desconversou e disse ainda que não é candidato.

19.abr.2017 - Militantes da Negritude Socialista Brasileira levam cartazes de apoio a Joaquim Barbosa - Kleyton Amorim/UOL - Kleyton Amorim/UOL
Militantes da Negritude Socialista Brasileira levam cartazes de apoio a Joaquim Barbosa
Imagem: Kleyton Amorim/UOL
O ex-ministro nunca disputou cargos públicos. Antes de integrar o STF, que presidiu entre 2012 e 2014, foi procurador da República no MPF (Ministério Público Federal) de 1984 a 2003.

Barbosa se reuniu na tarde desta quinta com Siqueira, com os quatro governadores do partido, Márcio França (SP), Rodrigo Rollemberg (DF), Paulo Câmara (PE) e Ricardo Coutinho (PB), e com os líderes da bancada da sigla na Câmara, Júlio Delgado (MG), e no Senado, Antonio Carlos Valadares (SE).

Além deles, participam do encontro o secretário-geral do PSB, Renato Casagrande --ex-governador do Espírito Santo--, o vice-presidente para relações institucionais do partido, Beto Albuquerque --que foi vice na chapa de Marina Silva em 2014-- e o perfeito do Recife, Geraldo Júlio. Nenhum dos participantes falou em prazo para a definição da candidatura.

Em entrevista para jornalistas após a reunião, Siqueira disse que o PSB tem meses pela frente para bater o martelo sobre a candidatura de Barbosa. A data-limite para a realização das convenções partidária é 5 de agosto. "Quem tem prazo não deve ter pressa", comentou.

"Ninguém [da cúpula] disse que não concorda com a candidatura", declarou, frisando que governadores do partido "têm seus cuidados".

Presidente do PSB descarta Barbosa como vice

Sobre o cronograma da disputa eleitoral desse ano, o dirigente partidário criticou o que chamou de "visão no retrovisor". "Essa eleição é atípica. Não vai se repetir tudo que nós já vimos nesses 31 anos de democracia", declarou.

"O único que conseguiu decolar é um candidato que não pode ser candidato [Lula], e que tem rejeição alta. Surge um cidadão, uma personalidade do mundo jurídico. E este cidadão, na primeira pesquisa, fica praticamente empatado em 3º lugar com outros pré-candidatos [...] Isso é revelador da situação política que nós vivemos no país", afirmou Siqueira.

"Nós não convidamos Joaquim Barbosa para o PSB para ser vice de ninguém. Quem tiver essa esperança, pode se desfazer dela", declarou.

Questionado se aceitaria ter os pré-candidatos Marina Silva (Rede) ou Ciro Gomes (PDT) como vice na chapa do PSB, Siqueira desconversou. "Não se pode tratar de vice de um candidato que ainda não foi confirmado", respondeu.