Compra de trens da linha 5 foi "erro gravíssimo", diz promotor sobre ex-presidentes do Metrô
O promotor de Justiça do patrimônio público de São Paulo, Marcelo Milani, afirmou, nesta quarta-feira (18), que o Metrô de São Paulo cometeu um "erro gravíssimo" em ter comprado os trens da linha 5-lilás em 2011, já que eles não puderam ser utilizados na época devido ao atraso na entrega das estações.
Milani foi o autor da ação aceita nesta quarta (18) pela Justiça de São Paulo que tornou réus o atual presidente e outros cinco ex-presidentes do Metrô paulista. Eles, e outras três pessoas, são investigados pela compra de 26 trens para a linha 5-lilás por R$ 615 milhões, em 2011, sem que todas as estações da linha tivessem sido inauguradas.
Ao UOL, o promotor criticou o fato de a compra ter sido executada mesmo com obras paradas. Ele ainda atacou o modelo das composições adquiridas, que só têm especificações para serem usadas na linha 5-lilás e não podem ser utilizadas nas outras quatro linhas do metrô de São Paulo.
"Fora esse trecho [de estações inauguradas] aonde roda esse trem? Só lá, não serve nem na linha um, nem na dois, nem na três e nem na quatro, porque o tamanho [do espaço entre os trilhos] é específico", apontou Milani, que recebeu a imprensa na sede do Ministério Público de São Paulo, no centro da capital paulista, no final da tarde de quarta.
Quem fez esse projeto já fez, no mínimo, sendo incompetente, e digo mais, é um erro gravíssimo, o trem ficou parado, não podia rodar porque não tinha aonde por
Marcelo Milani, promotor de Justiça
O promotor rebateu a nota da Secretaria de Estado de Transportes Metropolitanos, em resposta à investigação, que dizia não haver conduta irregular na compra dos trens, uma vez que eles estão em operação agora.
"'Operação' [sinal de aspas]. Não é bem assim. Está terminada a linha? Não tá, tem estação com tapume, tem estação que está sendo construída, a linha não terminou, ela vai do nada pra lugar nenhum", disse.
"O projeto original é [estação] João Dias à [estação] Chácara Klabin. Está indo até lá? Não, então não está rodando, o trem não rodou, isso está comprovado por documento pericial, temos fotografias e filmes que os trens estavam parados, ficaram durante anos parados, parte no pátio da fábrica, envelopado, ao relento, sem rodar", completou.
Milani afirmou, também contrariando nota enviada pela Secretaria, que os presidentes e ex-presidentes tinham relação direta com o contrato de compra dos trens e que devem ser responsabilizados pela compra e pela omissão em não impedir o ato, ainda que dois deles - Clodoaldo Pelissioni e Paulo Menezes Figueiredo - tenham presidido a companhia após a assinatura dos acordos.
"Eu compro um trem sem ter a linha pra rodar, isso é uma decisão grave, uma falta administrativa grave que deve ser responsabilizada. Vamos discutir qual a medida para essa omissão, porque eles [o presidente e ex-presidentes do Metrô] não fizeram o que deveriam fazer", apontou.
"É dinheiro público e a população que fica parada porque não pode utilizar a mobilidade. E mais, a população paga por isso, pra construir e pra usar. Omissão que significa improbidade administrativa. Não é a população que tem que pagar por isso, é o responsável que deve pagar", finalizou.
Entenda a ação
A Justiça de São Paulo tornou réus, nesta quarta-feira (18), o atual presidente e outros cincos ex-presidentes do Metrô de São Paulo por improbidade administrativa pela compra, em 2011, de 26 trens por R$ 615 milhões para a linha 5 Lilás. Esses trens ficaram inutilizados e guardados em pátios, já que a linha 5 ainda não estava completamente pronta.
Alem deles, outras três pessoas viraram réus, totalizando nove suspeitos.
Entre os réus, dois são atualmente membros do governo e da prefeitura de São Paulo: Clodoaldo Pelissioni, secretário de Transportes do Estado, e Sergio Avelleda, chefe de gabinete da prefeitura de São Paulo. Todos os ex-presidentes do Metrô comandaram a empresa durante gestões do PSDB no governo do Estado.
Na época da compra, o governador de São Paulo era Geraldo Alckmin (PSDB), que deixou o cargo no começo deste mês para ser pré-candidato à Presidência nas eleições de outubro de 2018. Ele não é alvo da investigação.
Todas as 26 composições compradas (com seis vagões cada uma) seriam utilizadas na linha 5-lilás do metrô, que atualmente liga as estações Capão Redondo e Eucaliptos. Após adiamentos, a inauguração de algumas estações da linha 5 acontecem desde 2015.
Além de Pelissioni e Avelleda, tornaram-se réus:
- Jurandir Fernandes, ex-secretário dos Transportes Metropolitanos
- Laércio Mauro Biazotti, ex-diretor de planejamento e expansão dos transportes metropolitanos
- David Turbuk, ex-gerente de concepção e projetos de sistemas no Metrô
- Jorge José Fagali, ex-presidente do Metrô (12 de agosto de 2008 a 11 de fevereiro de 2011)
- Peter Berkely Bardram Walker, ex-presidente do Metrô (19 de abril de 2012 a 05 de junho de 2013)
- Luiz Antonio Carvalho Pacheco, ex-presidente do Metrô (10 de junho de 2012 a 11 de março de 2013)
- Paulo Menezes Figueiredo, atual presidente do Metrô (desde 04 de setembro de 2015)
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