Qualquer ação de Temer sobre desabamento em SP seria criticada, dizem auxiliares
Para auxiliares do presidente Michel Temer (MDB), qualquer ação dele perante o desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida, no centro de São Paulo, seria criticada, apurou o UOL. Temer visitou o local do prédio nesta terça-feira (1º) e saiu do local às pressas após ser hostilizado.
O edifício desabou por volta das 2h20 de terça depois de um incêndio. Pelo menos 169 famílias ficaram desabrigadas. Há pessoas desaparecidas, mas ainda não se sabe se estão sob os escombros. Uma linha de investigação com que a Polícia Civil trabalha é de que a explosão de um botijão de gás ou de uma panela de pressão tenha dado início ao fogo.
Temer, que estava em São Paulo, chegou à área do desabamento por volta das 10h de ontem. Na visita, ele foi alvo de protesto de integrantes de movimentos sociais e foi embora sob atos hostis e gritos. "Nós queremos casas!", "vagabundo", "pilantra", gritava a multidão. Pessoas chegaram a lançar objetos em direção ao presidente e seguranças tiveram de levantar uma pasta para usar como barreira no ar.
Nesta quarta, Temer voltou a repetir que não poderia deixar de verificar a situação in loco como presidente da República e disse não ter se incomodado com as críticas. Na avaliação de auxiliares de Temer, qualquer atitude do presidente -- presença ou ausência -- seria criticada.
“Ele foi ao local como presidente, demonstrou que o governo federal está disponível para ajuda e acompanhou o caso. Se ele não fosse, iam reclamar dizendo que ele não compareceu e não estava preocupado. Do jeito que ele foi, ressaltam que ele foi vaiado e hostilizado. Ou seja, em qualquer situação, sempre haveria críticas”, disse um assessor.
Todas as pessoas ouvidas pela reportagem foram unânimes em dizer que vaias a Temer eram esperadas pelo fato de os movimentos sociais ligados à habitação serem tradicionalmente vinculados a partidos de viés de esquerda, como o PT e o PSOL, ambos de oposição ao atual governo.
O pré-candidato do PSOL à Presidência e eventual adversário de Temer na corrida eleitoral deste ano, Guilherme Boulos, por exemplo, é um dos coordenadores do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto).
“Ele sabia que estava indo para um reduto de esquerda. Sabia que estava indo para uma casa de marimbondos”, falou outro interlocutor. “Ele fez a visita como presidente, tinha essa responsabilidade.”
Na avaliação de um terceiro assessor, o presidente e sua equipe tinham consciência de que a visita implicaria em cenas de hostilidade, mas não esperavam que Temer se tornaria alvo de ataques e tentativas de agressão.
“São reações bem diferentes. Em última instância, foi uma decisão dele. Ele fez o que tinha que ser feito, mas realmente não com a estrutura preparada. Se tivesse ido depois, com mais estrutura, iam dizer que ele demorou para aparecer lá. Ia sofrer crítica de algum lado de alguma maneira”, afirmou.
O ministro da Secretaria de Governo, responsável pela articulação política do Planalto, Carlos Marun, defendeu a atitude do presidente e ressaltou que Temer não poderia se abster da visita ao local.
“A gente pode até discutir a estrutura, mas a ida foi correta. Ele se mostrou atento, conversou com a imprensa, recebeu informações sobre o caso. A animosidade demonstra que ele poderia ter ido mais preparado, revela que talvez deveria ter sido mais precavido. No mais, foi correto”, disse.
Marun relatou ter conversado por telefone com Temer poucas horas após sua presença na área do prédio. O presidente teria ficado impressionado com o tamanho da tragédia e citou ter sido hostilizado.
De acordo com o ministro, no entanto, Temer não demonstrou sinais de irritação. “Nada além disso [do relato]”, comentou.
Popularidade baixa
Os atos de hostilidade a Temer coincidem com sua baixa popularidade. Segundo pesquisa Datafolha divulgada em 17 de abril, 70% da população brasileira considera o governo Temer como ruim ou péssimo, mesmo índice verificado em janeiro.
A gestão do emedebista recebeu nota zero de 41% dos entrevistados e somente 2% a avaliaram com a nota máxima – dez pontos. A nota média de janeiro para abril passou de 2,6 para 2,7.
A mesma pesquisa Datafolha também revela que Temer atinge, no máximo, 2% das intenções de voto. O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, que se licenciou do cargo e se filiou ao MDB para se lançar candidato à Presidência, alcança 1%.
O levantamento foi feito entre os dias 11 e 18 de abril com 4.194 pessoas em 227 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
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