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Pergunta de Moro a FHC gera bate-boca com defesa de Lula

Mirthyani Bezerra

Do UOL em São Paulo

11/06/2018 15h23

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse, nesta segunda-feira (11), que a "única coisa" tem para ser reformada era a própria "cabeça" ao ser questionado pelo juiz federal Sergio Moro se alguma das empresas que o contrataram para dar palestras já reformou alguma propriedade do tucano. A resposta bem-humorada foi dada após embate entre a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o juiz federal, ao qual FHC assistiu sorrindo.

FHC depôs por videoconferência, na sede da Justiça Federal em São Paulo, como testemunha de defesa de Lula na ação penal que investiga se o petista recebeu R$ 1 milhão em propina da Odebrecht em reformas no sítio em Atibaia (SP).

“Nunca, jamais, nada disso, nem por fora, nem participar em nenhum momento de reforma. Na verdade, não tem muita coisa que reformar, só minha cabeça mesmo”, brincou FHC.

O questionamento de Moro foi feito no final do depoimento, que durou cerca de meia hora, e gerou mal-estar com a defesa de Lula. Ao fazer a pergunta, o juiz federal se desculpou com FHC, afirmando que o assunto havia sido colocado pela defesa do petista.

“Desculpe até perguntar esse tipo de situação, mas já que foi colocado pela defesa [de Lula]”, disse. Sendo posteriormente interrompido pelo advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins: “Só para repor a propriedade excelência, a defesa não fez nenhum tipo de afirmação de reforma ou valores por fora. Não é uma solicitação da defesa. Gostaria de registrar”.

Moro rebateu: “Não estou dizendo que a defesa afirmou isso, estou dizendo que tem um contexto então vamos perguntar isso nesse contexto”.

Martins insistiu que Moro atribuiu a defesa afirmações sobre reformas e Moro encerrou a discussão dizendo: “Não, eu não coloquei dessa forma”. FHC sorriu durante o embate entre juízo e defesa.

Na ação penal, Lula é acusado de ter recebido da Odebrecht, OAS e Schahin, por meio do pecuarista José Carlos Bumlai, R$ 1,02 milhão em obras de melhorias no sítio de Atibaia em troca de contratos com a Petrobras.

Durante o depoimento, a defesa de Lula pediu para que FHC falasse sobre o instituto criado pelo tucano depois de deixar a Presidência da República em 1998 e como se dá a realização de palestras. A Fundação FHC administra os documentos e objetos recebidos por ele na época em que era presidente. Parte do acervo presidencial de Lula foi guardado no sítio em Atibaia (SP)

O ex-presidente afirmou que seu instituto foi montado baseado em um modelo português, mas que ao contrário do que aconteceu no país europeu, ele teve que comprar uma casa para abriga-lo.

“Implantamos modelo que Mario Soares [primeiro presidente civil da democracia portuguesa] implantou em Portugal. Com a diferença que a assembleia de Portugal doava uma casa. A mim ninguém doou nada, tivemos que comprar”, contou. 

Palestras

Ele explicou ainda que as atividades da sua, hoje, fundação não se confundem com as palestras que costuma dar na condição de ex-presidente da República. “Palestras são outra coisa. Elas não se confundem com a atividade da fundação. Sempre falei que falo muito, como vocês estão vendo aqui, e falo de graça normalmente. Quando eu descobri que poderiam pagar por aquilo que eu fazia de graça fiquei satisfeito”, brincou.

As palestras dadas por Lula também são alvo de investigação. Criada para que o ex-presidente pudesse dar palestras, a LILS movimentou entre 2011 e 2015 um total de R$ 52,3 milhões. Foram R$ 27 milhões recebidos, a maior parte de empreiteiras e grandes empresas, e R$ 25,2 milhões em débitos. 

Moro questiona se FHC já foi contratado por empreiteiras para dar palestras e se a remuneração recebida por elas foram todas declaradas, se ele recebia valores por fora. Em reposta, FHC diz que não se lembra de ter sido contratado por nenhuma empreiteira. “Tudo tem contrato, tem agente, no Brasil, no exterior. Há briga entre os agentes, mas está tudo declarado”, disse, novamente rindo.