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Senadora Marta Suplicy recusa ser vice de Meirelles e deixa o MDB

Eduardo Anizelli/Folhapress
Imagem: Eduardo Anizelli/Folhapress

Gustavo Maia e Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

03/08/2018 17h21Atualizada em 04/08/2018 00h11

A senadora Marta Suplicy se desfiliou nesta sexta-feira do MDB, partido em que estava desde setembro de 2015 após ter deixado o PT. Ela está no último ano do mandato no Senado.

A decisão ocorre depois de Marta ter recusado o convite do candidato do MDB à Presidência, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, para ser vice em sua chapa.

A saída foi confirmada pelo presidente do MDB, senador Romero Jucá (RR). Segundo ele, Marta deixou a legenda "por motivos pessoais".

"Os dois se falaram há pouco pelo telefone. O partido lamenta, mas respeita a decisão da senadora", informou a assessoria de Jucá. O senador disse ainda que tem "carinho e respeito por toda sua trajetória ao longo dos anos na vida pública e política do país".

Em carta endereçada aos seus eleitores escrita nesta sexta, Marta Suplicy anunciou que não concorrerá à reeleição como senadora e a desfiliação do MDB. Em seguida, diz não ser “novidade que os partidos políticos brasileiros, de forma geral, encontram-se fragilizados, acuados e sem norte político”.

Segundo ela, os partidos “não conseguem dar respostas à crise de credibilidade que se abateu sobre eles e nem tampouco estão empenhados na mudança de posturas que os levaram à mais grave crise de suas histórias”, além de se movimentarem apenas com o objetivo de aumentar as bancadas no parlamento.

“Neste momento, creio que poderei contribuir mais para mudanças atuando na sociedade civil do que continuando no parlamento. Permanecerei participando politicamente da vida pública brasileira. A partir de 2019, não mais como parlamentar, mas em todas as trincheiras que me levem ao lado da defesa dos interesses dos mais pobres, dos injustiçados e na luta pelo empoderamento das meninas e das mulheres”, escreveu.

Antes, Marta foi filiada ao PT por 34 anos, desde 1981. Nesse período, foi deputada federal por São Paulo, de 1995 a 1999, e prefeita da capital paulista, de 2001 a 2004.

Marta foi ministra do Turismo entre 2007 e 2008, no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e da Cultura, de 2012 a 2014, na gestão de Dilma Rousseff (PT). Em 2016, já no MDB, a senadora votou a favor do impeachment da petista.

A última eleição disputada por Marta foi para a prefeitura de São Paulo em 2016, vencida por João Doria (PSDB). Ela obteve 587.220 votos e ficou em quarto lugar, atrás de Doria, Fernando Haddad (PT) e Celso Russomanno (PRB).

Veja a íntegra da carta de Marta:

Carta aos paulistas

"Muitas vezes, vi-me em tempos de travessia. Em alguns deles, acreditei ter luzes no outro lado do rio. Agora, com toda a energia necessária para continuar remando, tomei a decisão sobre o futuro da minha vida política, encarando a realidade de frente, para poder seguir com coerência, ousadia e coragem.

Anuncio que não concorrerei à reeleição a senadora da República pelo Estado de São Paulo e comunico a minha desfiliação do Movimento Democrático Brasileiro (MDB).

Não é novidade que os partidos políticos brasileiros, de forma geral, encontram-se fragilizados, acuados e sem norte político. Não mais conseguem dar respostas à crise de credibilidade que se abateu sobre eles e nem tampouco estão empenhados na mudança de posturas que os levaram à mais grave crise de suas histórias. Orientam suas movimentações políticas pela lógica exclusiva de fazerem crescer suas bancadas parlamentares com o objetivo perverso e mesquinho de fortalecerem-se na divisão e loteamento de cargos e espaços de poder.

A relação de grande parte dos partidos e de parlamentares com o Executivo na base de nomeações e vantagens levou ao insuportável “toma lá dá cá”, afrontando todos os padrões de dignidade e honradez da sociedade. Esse sistema faliu e precisa ser, urgentemente, reformado.

O Congresso Nacional, hoje, na sua maioria, não tem se colocado a favor das causas progressistas, fundamentais para o avanço da sociedade. Ao contrário, tornou-se refém de uma agenda atrasada dos costumes da sociedade, negando-se a reconhecer e a regulamentar as relações entre as pessoas de forma a contemplar as diversidades das sociedades modernas e a respeitar os direitos individuais do ser humano.

Quero agradecer aos 8,3 milhões de paulistas que me deram a oportunidade de, nos últimos 8 anos, trabalhar como senadora defendendo as bandeiras que me levaram à vida pública: o combate às desigualdades e às injustiças sociais, a militância pelos direitos de cidadania das mulheres e da população LGBTI e pela igualdade de oportunidades para todos.

Neste momento, creio que poderei contribuir mais para mudanças atuando na sociedade civil do que continuando no parlamento. Permanecerei participando politicamente da vida pública brasileira. A partir de 2019, não mais como parlamentar, mas em todas as trincheiras que me levem ao lado da defesa dos interesses dos mais pobres, dos injustiçados e na luta pelo empoderamento das meninas e das mulheres.

Estou convencida de que o Brasil precisa de um projeto nacional de desenvolvimento estruturado que abranja setores fundamentais para o crescimento do país. Temos de aumentar, significativamente, a produção e a riqueza. Isso possibilitará todo brasileiro e toda brasileira terem educação de qualidade, saúde, segurança e um emprego para trabalhar e viver com dignidade.

São Paulo, 03 de agosto de 2018.
Senadora Marta Suplicy"