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Ofuscado por investigação do Coaf, Flávio Bolsonaro assume vaga no Senado

Flávio Bolsonaro foi ao Congresso receber o broche de senador nesta quarta - Reprodução/Instagram Flávio Bolsonaro
Flávio Bolsonaro foi ao Congresso receber o broche de senador nesta quarta Imagem: Reprodução/Instagram Flávio Bolsonaro

Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

01/02/2019 04h00Atualizada em 01/02/2019 11h53

Eleito com mais de quatro milhões de votos para ocupar uma vaga no Senado Federal, Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) tomará posse do cargo nesta sexta-feira (1º) sem o mesmo prestígio que tinha em outubro, quando candidatos de diferentes partidos ao governo do estado e à Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) duelavam publicamente por seu apoio.

Flávio, que era cotado para assumir a liderança do governo do pai, Jair Bolsonaro (PSL), no Senado, se viu obrigado a desmentir boatos de que poderia abrir mão do cargo em função das investigações do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) sobre movimentações atípicas identificadas em uma conta bancária do seu ex-assessor Fabrício Queiroz pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividade Financeiras).

As investigações iniciadas pelo órgão vinculado ao Ministério da Justiça e da Segurança Pública indicam que Queiroz teria movimentado R$ 7 milhões em um período de três anos, no qual ganhava um salário de R$ 23 mil no gabinete de Flávio na Alerj. Desde então, o filho mais velho do presidente não voltou a comentar a vontade de assumir o papel de liderança. 

Presidente do PSL fluminense, Flávio chegou a anunciar nesta terça-feira (29) que deixaria o posto para se dedicar exclusivamente às atividades em Brasília. No entanto, pouco mais de 24 horas depois, emitiu uma nota em que voltava atrás e dizia que permaneceria no cargo. 

"Estar à frente do partido nesse momento de eleição e transição permitirá a continuidade das estratégias de unidade e fortalecimento da legenda no estado do Rio de Janeiro", afirmou em comunicado.

No entanto, parlamentares eleitos pelo PSL ouvidos pela reportagem afirmam que, desde o início das investigações, Flávio praticamente deixou as articulações para montar uma chapa do partido à presidência da casa legislativa, e passou a se dedicar somente à sua defesa.

Flávio, que se valia do fato de o PSL ser dono da maior bancada eleita para a Casa, com 12 deputados, chegou a fazer diversas postagens afirmando que o partido teria uma candidatura de oposição à chapa de André Ceciliano (PT).

Contudo, a poucos dias da eleição para a presidência da Alerj --que será realizada no próximo sábado-- deputados afirmam que o partido ainda não tem as 13 assinaturas necessárias para formalizar a candidatura do deputado Márcio Guaberto (PSL). "Perder para um petista seria uma tragédia", resumiu um parlamentar ouvido pela reportagem.

Desde o último dia 7, quando a bancada do partido se reuniu pela última vez, Flávio determinou uma espécie de "lei do silêncio" aos deputados. Contudo, desde o dia 17, quando o STF acatou um pedido dele e suspendeu a investigação criminal do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) sobre as movimentações atípicas de Queiroz, parlamentares de outras legendas suspenderam de vez as conversas com Flávio.

Investigação suspensa

Flávio Bolsonaro conseguiu no STF (Supremo Tribunal Federal) a suspensão da investigação sobre as movimentações financeiras de Queiroz. O senador eleito alega que houve quebra ilegal de seu sigilo bancário na troca de informações entre o MP-RJ e o Coaf, e pede a anulação das provas.

Em entrevista à Record TV, Flávio disse que é contra o foro privilegiado, mas que não escolheu ser julgado no Supremo. Em nota, o MP-RJ negou que tenha havido quebra de sigilo bancário na investigação sobre Queiroz.

Segundo o órgão, apesar de o relatório do Coaf informar "movimentações atípicas tanto de agentes políticos como de servidores públicos da Alerj", não houve -- "por cautela" -- a inclusão de nomes de políticos "supostamente envolvidos em atividades ilícitas" nas investigações.

O procurador-geral do estado, José Eduardo Gussem, afirmou que 27 deputados estaduais fluminenses são investigados na esfera cível por movimentações e repasses atípicos nas contas dos seus assessores.

Nesta sexta-feira (1º), o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Marco Aurélio Mello negou foro privilegiado a Flávio. Na decisão, o ministro ainda determinou que as investigações possam ser retomadas pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro).

Marco Aurélio entendeu que o senador eleito não está protegido pelas regras do foro privilegiado porque, na época dos fatos sob suspeita, ele era deputado estadual do Rio de Janeiro. Flávio toma posse como senador nesta sexta.

Relatório do Coaf cita outros assessores de Flávio

A maior parte dos depósitos feitos em espécie na conta de Fabrício Queiroz coincidia com as datas de pagamento na Alerj. Nove assessores e ex-assessores do filho mais velho do presidente repassaram dinheiro para o motorista.

Entre esses funcionários está Raimunda Veras Magalhães, mãe do capitão Adriano Magalhães da Nóbrega, tido pelo Ministério Público do Rio como o homem-forte do Escritório do Crime, organização suspeita do assassinato de Marielle Franco. O policial foi alvo de um mandado de prisão neste mês e segue foragido.

O relatório também identificou um depósito de Queiroz no valor de R$ 24 mil na conta bancária da primeira-dama, Michelle Bolsonaro. O presidente justificou que o depósito do ex-assessor do filho na conta de Michelle se tratou do pagamento de parte de uma dívida de R$ 40 mil com o próprio Bolsonaro.

A comunicação do Coaf não significa que haja alguma irregularidade na transação, mas mostra que os valores movimentados, ou o tipo de transação envolvida, não seguiram o padrão esperado para aquele tipo de cliente.

No total, o MP-RJ instaurou 22 inquéritos criminais para esclarecer suposta participação de parlamentares e servidores da Alerj em movimentações bancárias não compatíveis com seus salários.

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