Rio: com F. Bolsonaro na mira, PSL perde força e vê Witzel alinhado com PT
Dono da maior bancada da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), com 12 deputados, o PSL --partido do presidente Jair Bolsonaro-- começa a nova legislatura enfraquecido após seu principal articulador, o senador Flávio Bolsonaro, se tornar alvo de investigação do Ministério Público na esfera cível --relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeira), órgão do Ministério da Justiça e Segurança Pública, apontou movimentações atípicas na conta de seu ex-motorista Fabrício Queiroz. Além da eleição de um petista à Presidência da Alerj, os parlamentares do PSL --todos eles em primeiro mandato-- viram a intenção de comandar comissões da Casa não se concretizar.
Três meses atrás, quando o PSL elegeu quatro deputados entre os cinco mais votados do Rio, a expectativa era lançar candidatura própria à Presidência da Alerj. No entanto, a legenda não conseguiu sequer articular as 13 assinaturas necessárias para a formação de uma chapa ao cargo máximo da Casa.
Como consequência das investigações do MP-RJ, o PSL viu a aproximação do governador Wilson Witzel (PSC) com a candidatura de André Ceciliano (PT) ao cargo almejado --o petista foi eleito presidente da Alerj no sábado (1º).
O PSL também ficou sem as sonhadas presidências das comissões permanentes de Direitos Humanos, Educação e Segurança -- cadeiras às quais os deputados do PSL mostraram interesse desde a divulgação do resultado das urnas.
De acordo com Ceciliano, a Comissão de Segurança Pública será presidida pelo deputado Delegado Carlos Augusto (PSD), enquanto as comissões de Educação e Direitos Humanos serão comandadas pelo PSOL --esta última será presidida pela deputada Renata Souza. O PSL deve ficar à frente das comissões de Orçamento (Rodrigo Amorim) e Emendas Constitucionais e Vetos (Doutor Serginho).
Eleição na Alerj indica PSL em desalinho
Nem mesmo a oposição ferrenha às bandeiras de esquerda, defendidas desde a campanha, se mostrou uma certeza, conforme o resultado da eleição no fim de semana.
Durante o anúncio do secretariado de Witzel, em novembro, o deputado Rodrigo Amorim (PSL) --parlamentar mais votado no estado, ele ficou conhecido após destruir uma placa em homenagem à vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada em março-- respondeu quando questionado sobre a possibilidade de compor uma chapa com Ceciliano: "Ele é petista. Nós viemos para limpar isso. O desejo da população está claro: se tem petista na jogada, nós seremos contrários", afirmou.
No dia 7 de janeiro, após reunião com toda a bancada, Flávio Bolsonaro afirmou que o partido defenderia uma candidatura de oposição à chapa petista e que "toda a bancada do PSL vota unida, independente de qualquer coisa".
Neste sábado (2), o resultado da eleição da Alerj mostrou entretanto que, dos 12 deputados, cinco votaram contra a candidatura do petista André Ceciliano, enquanto sete preferiram se abster. Pouco antes da eleição do petista, Amorim reconheceu: "a gente não consegue construir uma chapa para moralização desta Casa. Para nós, evidentemente, ter o PT à frente da Alerj não era o nosso projeto inicial. É muito frustrante".
Já o deputado Márcio Gualberto (PSL) justificou as abstenções da bancada do PSL. "A Casa precisa de governabilidade, a Alerj é feita de colegas que prezam pela governabilidade", resumiu.
Deputado do PSC de Witzel se alia ao PT
Para formalizar uma chapa à Presidência da Alerj, o PSL precisava do apoio de ao menos um deputado de outra legenda para totalizar as 13 assinaturas necessárias. Porém, investigações do MP-RJ, que miram Flávio e outros 26 parlamentares e ex-parlamentares, frearam o objetivo do partido de Bolsonaro no Rio.
Logo após a eleição de outubro, o PSL acordou apoio à candidatura do deputado André Correa (DEM) à Presidência da Alerj. Menos de 72 horas depois, Correa era um dos nove deputados presos preventivamente pela Operação Furna da Onça, que identificou um suposto esquema de recebimento de propina e loteamento de cargos em empresas ligadas ao poder público, conduzido por parlamentares fluminenses. Corrêa e os demais investigados negam participação no esquema.
Foi a deixa para que deputados do PSL, como Filippe Poubel e Márcio Gualberto, oferecessem seus nomes. Nenhum deles foi oficializado por Flávio Bolsonaro, a quem caberia a decisão.
Em uma postagem no Twitter feita em janeiro, Flávio chegou a dizer que, se necessário, o partido abriria mão de encabeçar a chapa. "A Alerj terá alternativa para disputa da presidência e a bancada, disposta a abrir mão da cabeça da chapa, sinaliza que o importante é o RJ e já articula com outros partidos", escreveu o filho mais velho do presidente.
Com isso, o PSL passou a apostar no apoio à candidatura de Márcio Pacheco (PSC). Do mesmo partido de Witzel, o deputado na presidência sinalizaria o bom trânsito do governo estadual na Alerj e selaria a dobradinha entre PSL e PSC iniciada na campanha, quando Flávio Bolsonaro chegou a participar de caminhadas ao lado do ex-juiz federal.
Contudo, segundo relatam nomes do PSL, em meio à turbulência, Flávio praticamente abandonou as articulações com parlamentares por apoios à chapa --o que fez com que Pacheco formalizasse apoio a Ceciliano na disputa. De acordo com Ceciliano, ele assumirá a CCJ (Comissão de Constituição de Justiça da Alerj), o que indica uma aproximação e diálogos constantes com o líder do governo na Alerj.
Outra alternativa estudada para construir uma chapa, a deputada Tia Ju (PRB), assumiu a terceira vice-presidência da Mesa Diretora da Alerj, ao lado de Ceciliano. A derradeira negociação do PSL, de compor com Partido Novo, também não foi à frente na última semana antes da eleição.
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