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Previdência, filhos, PCC e Maduro: Bolsonaro trata temas quentes do governo

Bolsonaro disse que sente falta do contato com a população que tinha antes de ser vítima do ataque a faca - Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro disse que sente falta do contato com a população que tinha antes de ser vítima do ataque a faca Imagem: Marcos Corrêa/PR

Luis Kawaguti

Do UOL, em Brasília

01/03/2019 04h01

Resumo da notícia

  • Em café com jornalistas, Bolsonaro abordou de reforma da previdência a papel dos filhos
  • Previdência: pode baixar para 60 anos a idade mínima da aposentadoria para mulheres
  • Filhos: o presidente disse que passou a 'filtrar' o conteúdo publicado nas redes sociais
  • Facada: investigações indicariam interesse do PCC no ataque
  • Venezuela: Bolsonaro demonstrou interesse em dialogar com Maduro
  • Bolsonaro também falou sobre Ibama, Lei Rouanet e validade de carteira de motorista

Contando piadas e em clima descontraído, o presidente Jair Bolsonaro abordou temas quentes do governo ontem, em um ato de aproximação com a imprensa. Ele se reuniu com 11 jornalistas para um café da manhã informal no Palácio do Planalto e falou de reforma da previdência, Venezuela, Lei Rouanet, PCC, Ibama e respondeu a perguntas sensíveis sobre a influência dos filhos no governo.

Bolsonaro chegou acompanhado pelo vice-presidente Antônio Hamilton Mourão, pelos ministros Augusto Heleno Ribeiro Pereira (Gabinete de Segurança Institucional) e Onyx Lorenzoni (Casa Civil), além do seu porta-voz, o general Otávio do Rêgo Barros.

Antes das apresentações formais, Bolsonaro disse que a imprensa é fundamental para combater as fake news. Leia abaixo os principais temas abordados pelo presidente:

Relação com a imprensa

Em tom descontraído, Bolsonaro disse que tanto ele como a imprensa já cometeram erros e brincou com o vice-presidente.

Se eu dou canelada com a imprensa, imagina ele [Mourão], que tem o couro mais grosso? Mas a gente vai indo

Mourão riu, da mesma maneira que outros ministros e jornalistas presentes.

Bolsonaro fez piada e contou um episódio da vida pessoal. Seu objetivo era dizer que algumas pessoas podem criar uma imagem inicial errada dele, mas depois que o conhecem melhor, mudam de opinião.

"Quando comecei a namorar a minha esposa [Michelle], as amigas dela falaram: 'você com esse grosso'?" 

Sorridente e em tom informal, Bolsonaro disse que a imprensa é fundamental para combater fake news.

Café da manhã com presidente - Marcos Corrêa/PR - Marcos Corrêa/PR
Além do UOL, havia jornalistas das TVs Globo, Record e Bandeirantes, e dos jornais Estado de S.Paulo, Correio Brasiliense e Valor Econômico
Imagem: Marcos Corrêa/PR

Previdência

Bolsonaro disse que o governo está disposto a negociar alguns pontos da reforma da Previdência. Ele afirmou que pode "cortar gorduras" e baixar a idade mínima da aposentadoria das mulheres de 62 para 60 anos, mas insistiu que manterá a essência do projeto.

Ele também disse que pode fazer concessões no BPC (Benefício de Prestação Continuada), pago para idosos e deficientes de baixa renda, e na porcentagem da pensão por morte, que poderia passar de 60% para 70%.

Filhos e Bebianno

Nenhum filho meu manda no governo

Bolsonaro abordou um episódio recente que culminou na saída de Gustavo Bebianno, tido como seu braço direito, do governo. O presidente disse que está filtrando as manifestações que o filho Carlos faz no Twitter e que dizem respeito ao governo federal.

O presidente também afirmou que é falso o rumor de que haja um mal-estar com a ala militar do governo devido à suposta influência de seus filhos na Presidência.

Bolsonaro também comparou a demissão de Bebianno a uma separação em um casamento e lamentou o ocorrido.

PCC

Bolsonaro disse que teve acesso a áudios obtidos por órgãos de inteligência que mostrariam interesse do PCC (Primeiro Comando da Capital) no atentado a faca que o atingiu em setembro do ano passado. Ele não disse que a organização estaria envolvida no ataque e não explicou a natureza do interesse. Mas disse que o PCC não era favorável à sua eleição.

Venezuela

Maduro está dando sinais de que quer conversar. O Maduro não quer acabar como o Saddam Hussein

Bolsonaro no café da manhã com jornalistas - Marcos Corrêa/PR - Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe jornalistas em 28 de fevereiro
Imagem: Marcos Corrêa/PR
O presidente brasileiro comparou o ditador da Venezuela ao iraquiano deposto em 2003 pelos Estados Unidos.

Bolsonaro disse que se reuniria com Maduro e defendeu que não haja intervenção militar na Venezuela, mas uma solução mediada pelo Grupo de Lima, órgão multilateral que reúne países americanos e está tratando da crise.

Ele e o ministro Heleno também afirmaram que o presidente venezuelano mantém a lealdade de seus altos oficiais com ajuda de agentes de inteligência de Cuba, que evitam desobediências e deserções. 

Bolsonaro: Vamos ajudar a Venezuela, mas dentro das nossas tradições

UOL Notícias

Lei Rouanet

Bolsonaro estuda reduzir o teto de recursos para projetos culturais financiados por meio de renúncia fiscal. O montante passaria dos atuais R$ 60 milhões para, no máximo, R$ 5 milhões.

Segundo ele, a ideia é incentivar artistas pouco conhecidos - "artistas de raiz" -  e em início de carreira, em detrimento de artistas e produções já consagrados. Ele afirmou que o governo está prestes a chegar a um acordo sobre o tema.

Ibama 

O Ibama não pode ser um órgão que leve pavor ao produtor rural

Para o presidente, há exagero nas multas ambientais.

"Queremos preservar o meio ambiente, mas não de forma xiita", afirmou. 

O presidente também disse que quer integrar melhor comunidades indígenas à sociedade. Ele afirmou que quer levar energia elétrica para comunidades indígenas a fim de melhorar a produção de farinha e melhorar o conforto dos habitantes.

Carteira de motorista

O presidente disse que além de cuidar das questões macro, vai prestar atenção a pequenos detalhes do país. Como exemplo, citou a validade da Carteira Nacional de Habilitação.

Bolsonaro quer que o documento passe a valer por dez anos -- hoje, são cinco. O presidente também quer reduzir a necessidade de emprego de simuladores no treinamento de motoristas para que o preço do documento fique mais acessível.

Tabuleiro de War 

O presidente usou uma metáfora para dizer que o Brasil será mais relevante no cenário internacional. Disse que "o Brasil vai ser importante no tabuleiro de War", mas disse que a colocação não tem um tom bélico (no jogo de tabuleiro, exércitos se enfrentam para conquistar poder e territórios), mas sim econômico.

Ele afirmou que parte do caminho para atingir esse objetivo será explorar as jazidas de nióbio e grafite existentes no país. Citou como outros países estão explorando esses minérios e disse que eles têm que ser exportados na forma de produtos processados e não brutos para agregar valor.

Deu como exemplo disso a produção de blindados de combate feitos de uma liga metálica feita com grafeno que permite aos veículos serem mais leves (para economia de combustível) e resistam a disparos mais potentes.

Segurança pública 

Eu gostaria que esses especialistas fossem na frente [em uma operação policial] com uma bandeira branca na mão para ensinar a gente

Bolsonaro defendeu a importância do "excludente de ilicitude" para agentes de segurança que atuam nas fronteiras do país. O mecanismo jurídico seria uma forma de tentar evitar que agentes sejam condenados por mortes de suspeitos.

O tema é tratado na lei anticrime apresentada pelo ministro Sérgio Moro. Ele criticou o discurso de "especialistas em segurança" que têm dito que a medida pode aumentar o número de mortes pela polícia e afirmou que esse não é o objetivo da mudança na lei.

Segundo ele, a proteção legal aos agentes de segurança é muito importante para proteger as fronteiras do país contra a entrada de armas, drogas e mercadorias ilegais.

Saudade do corpo a corpo

Bolsonaro disse que sente falta do contato com a população que tinha antes de ser vítima do ataque a faca. Ele afirmou que hoje só fala com o "povo" quando conversa com seus seguranças e quando esteve na Base Naval da Marambaia para descansar.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado neste texto, Bolsonaro não falou em jazida de grafeno. Ele citou jazida de grafite, material usado na produção do grafeno. O texto foi corrigido.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.