Caso Paulo Preto: por conversas com Aloysio, Lava Jato quer afastar Gilmar
A força tarefa da Operação Lava Jato no MPF (Ministério Público Federal) do Paraná quer afastar o ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), dos processos ligados ao ex-senador tucano Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) e ao ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto.
Aloysio teria mantido contatos por telefone com Gilmar Mendes, dizem os procuradores no pedido de suspeição encaminhado hoje à procuradora-geral da República, Raquel Dodge. Caberá a ela entrar com ação no STF pedindo o impedimento do ministro no caso.
Segundo a Lava Jato, por meio do suposto contato com Gilmar Mendes, Aloysio tentou atrasar a conclusão de um processo da Lava Jato em São Paulo em que Paulo Preto é réu e foi condenado justamente hoje, no começo da noite. Os procuradores também mencionam que o ex-ministro foi testemunha de defesa de Paulo no processo em que o ex-diretor da Dersa acabou sendo condenado no dia 28 de fevereiro na Justiça Federal paulista.
A PGR (Procuradoria-Geral da República) confirmou o recebimento do pedido e informou que ele será analisado por Dodge.
No processo em questão, um habeas corpus relatado por Gilmar Mendes, o ex-diretor da Dersa pedia que mais testemunhas fossem ouvidas e novas provas analisadas. O caso corria na Justiça Federal de São Paulo, por suspeitas de desvios em obras do Dersa.
O pedido foi negado pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça), mas autorizado por Gilmar Mendes, em decisão no dia 13 de fevereiro.
Após recurso da procuradora-geral Raquel Dodge, Gilmar Mendes reconsiderou a primeira decisão e manteve o andamento normal do processo. Essa decisão foi emitida na última sexta-feira (1º).
MENSAGENS E LIGAÇÕES
O pedido de suspeição de Gilmar feito pelos procuradores de Curitiba à PGR (Procuradoria-Geral da República) é assinado por Deltan Dallagnol, coordenador da Força Tarefa em Curitiba, e outros 13 procuradores do MPF.
Os procuradores anexaram na documentação enviada à PGR conversas de Aloysio Nunes com seu advogado, José Roberto Figueiredo Santoro, e o ex-ministro da Segurança Pública Raul Jungmann.
A Força Tarefa também anexou registros de ligações feitas e recebidas pelo ex-senador para números de Jungmann, um telefone do gabinete de Gilmar no STF e números de celular atribuídos ao ministro do Supremo.
Os dados foram obtidos após busca e apreensão na 60ª fase da Operação Lava Jato, que teve Aloysio como um dos alvos, e apreendeu um aparelho de telefone celular do tucano.
A Operação Ad Infinitum, deflagrada em 19 de fevereiro, também levou à prisão preventiva de Paulo Preto. Gilmar é relator no Supremo de um recurso do ex-diretor da Dersa para que a investigação seja remetida à Justiça Eleitoral de São Paulo.
Nas mensagens, segundo interpretação dada pelos procuradores da Lava Jato, Jungmann envia a Aloysio o número do telefone celular do ministro Gilmar Mendes e, minutos depois, pergunta "Falou?".
Naquele mesmo dia, 11 de fevereiro, Aloysio teria mantido uma conversa telefônica por 52 segundos com uma das linhas telefônicas do gabinete do ministro Gilmar Mendes.
Logo depois dessa ligação, Aloysio envia uma mensagem de texto a Jungmann: "Falei".
Na sequência, Jungmann pergunta: "E?". O tucano então responde: "Vago, cauteloso, como não poderia ser diferente", diz a transcrição das mensagens apresentadas pelo MPF.
A decisão favorável a Paulo Preto, posteriormente revista, foi emitida por Gilmar dois dias depois da suposta conversa com o ex-senador tucano, em 13 de fevereiro.
O MPF também apontou que no mesmo dia em que teria conseguido contato com o gabinete de Gilmar, Aloysio informou da conversa ao advogado José Roberto Santoro, que atua na defesa do ex-senador e em processos contra Paulo Preto.
Segundo a transcrição das mensagens apresentada pelo MPF, após saber da conversa com o gabinete de Gilmar, o advogado responde ao ex-senador tucano: "Vc é um anjo".
Por telefone, Raul Jungmann disse ao UOL que sua participação no episódio se resume a ter passado o telefone de Gilmar para Aloysio. "Não tenho nada a ver com o resto deste caso, absolutamente nada", afirmou.
A reportagem ainda não conseguiu entrar em contato com o ministro Gilmar Mendes.
O UOL tentou falar com o advogado José Roberto Figueiredo Santoro em dois números de telefone, sem sucesso. A reportagem enviou e-mail para o escritório do advogado com um pedido de entrevista e aguarda resposta.
Houve tentativas de contato também com Aloysio Nunes Ferreira em dois números de telefone, mas em nenhum houve resposta.
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