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Amigo de Temer recebeu ao menos R$ 32 mi para ex-presidente, diz Lava Jato

31.mai.2017 - O coronel reformado João Batista Lima Filho, amigo do presidente Michel Temer e acusado de ser "laranja" dele - Jefferson Coppola/Folhapress
31.mai.2017 - O coronel reformado João Batista Lima Filho, amigo do presidente Michel Temer e acusado de ser "laranja" dele Imagem: Jefferson Coppola/Folhapress

Aiuri Rebello

Do UOL, em São Paulo

22/03/2019 04h00Atualizada em 22/03/2019 12h18

Resumo da notícia

  • Preso ontem, coronel Lima é tido como braço-direito do ex-presidente Temer
  • Documentos apontam Lima como representante de Temer em negociatas de propina
  • Total apontado que Lima teria recebido em nome de Temer chega a R$ 32 milhões

O coronel João Batista Lima Filho, amigo de Michel Temer que também foi preso ontem, tinha carta branca para negociar propinas em nome do ex-presidente e recebeu pelo menos R$ 32 milhões em propinas em nome dele e de seu grupo político de 2010 até hoje. É o que afirma a força-tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro.

Lima é considerado pela PF (Polícia Federal) e pelo MPF (Ministério Público Federal) o principal operador de propinas do ex-presidente. A defesa de Temer entrou na Justiça com um pedido de habeas corpus. O coronel Lima sempre negou as acusações. O advogado Maurício Silva Leite, defensor de João Baptista Lima Filho, declarou estar "perplexo" com a prisão decretada (veja mais abaixo).

De acordo com as investigações, o coronel reformado da PM (Polícia Militar) de São Paulo recebeu em nome de Temer dinheiro de corrupção de empresas ao menos em cinco oportunidades. Os dois são amigos íntimos e conhecem-se, de acordo com o próprio Temer em depoimentos, desde os anos 1980, quando Temer foi secretário de Segurança Pública em São Paulo e era assessorado pelo então oficial da PM.

A conta de R$ 32 milhões não inclui o valor que Temer e outros emedebistas são acusados de cobrar de empresas no caso da MP (Medida Provisória) dos Portos, alvo de outra investigação. Ali, Lima é acusado de intermediar outros quase R$ 6 milhões em propina ao ex-presidente.

Ao todo, o "quadrilhão do MDB" (termo usado pela própria Lava Jato) que Temer é acusado pela Lava Jato de chefiar, é acusado de movimentar um esquema de R$ 1,8 bilhão envolvendo diversos políticos da sigla, várias empresas e diversas esferas da administração pública.

Paralisada e sem conclusão, obra consumiu R$ 58 milhões

Segundo a acusação do MPF -aceita pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal no Rio-, a Argeplan, empresa de engenharia e arquitetura do coronel Lima, desviou R$ 10.859.075,15 que recebeu como integrante do consórcio que construiria a usina nuclear de Angra 3, entre 2011 e 2015.

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A obra, hoje paralisada sem conclusão, consumiu R$ 58 milhões dos R$ 160 milhões previstos. O ex-presidente da Eletronuclear, almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, foi preso e condenado na Lava Jato por desvio de recursos na obra.

Em 2014, o coronel Lima teria cobrado R$ 1 milhão da empresa Engevix, de acordo com delação premiada do dono da empreiteira, José Antunes Sobrinho, para ser repassado à cúpula do MDB.

Sobrinho contou à PF que pediu para o dono de outra empresa, Rodrigo Castro Alves Neves, da Alumi Publicidade, que fizesse um contrato fictício com a PDA Projetos e Direção Arquitetônica Ltda., empresa de fachada do coronel Lima para receber propinas, segundo a Lava Jato.

A Alumi devia valores à Engevix por conta da atividade conjunta na gestão do aeroporto de Brasília. Segundo seu depoimento à PF, Neves topou fazer o pagamento diretamente a Lima, mediante uma nota fiscal de serviços que nunca foram prestados. Neves também foi preso nesta quinta-feira.

A Lava Jato identificou também que, entre 2010 e 2015, a empreiteira Construbase Engenharia Ltda. depositou R$ 17,7 milhões em 58 operações bancárias diferentes na conta da PDA sem a contraprestação de serviços, já que a empresa seria de fachada -- fica instalada em um imóvel aparentemente residencial vizinho à Argeplan, a outra empresa de Lima, e não possui nenhum funcionário registrado.

Imagens do circuito de segurança apagadas diariamente

Em outro pagamento feito a Temer por meio de Lima, a Lava Jato afirma que a empresa Hoya Consultoria pagou na sede da Argeplan R$ 1,4 milhão em três parcelas em dinheiro vivo, referente a acerto entre a Odebrecht e dois então ministros.

Por fim, a Lava Jato lembra a delação de Ricardo Saud, executivo da JBS, que contou em depoimento ao MPF e à PF que mandou entregar R$ 1 milhão em dinheiro no escritório de Lima -- o dinheiro seria referente a uma propina combinada com o ex-presidente.

Na denúncia, o MPF afirma ainda que aparentemente o coronel tentava ser cuidadoso com o rastro destas operações. Além de uma complexa rede de empresas de fachada e contas no Brasil e no exterior utilizada pelos acusados para lavar o dinheiro desviado de contratos públicos, Lima impedia que seus funcionários mantivessem documentos comprometedores no escritório e mandava apagar diariamente as imagens do circuito interno de segurança de sua principal firma, a Argeplan.

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Outro lado

O advogado Maurício Silva Leite, defensor de João Baptista Lima Filho, declarou estar perplexo com a prisão decretada. Segundo o advogado, "a própria Procuradoria-Geral da República manifestou-se em relação aos mesmos fatos e concluiu que não havia elementos para a prisão do meu cliente. Surpreendentemente, 2 meses depois, contrariando o entendimento da PGR, a prisão é decretada pela 1ª instância, sem a existência de nenhum fato novo".

Em nota, o criminalista Antonio Claudio Mariz de Oliveira afirmou que "a decretação da prisão preventiva de Michel Temer surpreendeu o mundo jurídico e a sociedade brasileira com certeza tendo em vista a sua flagrante desnecessidade." O advogado Eduardo Carnelós, que defende Michel Temer, afirmou que a prisão do ex-presidente "é uma barbaridade".

Com informações de Estadão Conteúdo