Com Twitter, Moro acena para seu lado político e se alinha mais ao governo
Sergio Moro movimentou as redes sociais na última quinta-feira (4) ao criar uma conta no Twitter. Com direito a selfie, o ministro explicou que o objetivo da iniciativa é "divulgar os projetos e as propostas do Ministério da Justiça e Segurança Pública", sob seu comando.
De acordo com o Ministério da Justiça, a criação da conta foi uma iniciativa do próprio Moro e será gerida por ele. Especialistas ouvidos pelo UOL avaliam que a ideia marca uma movimentação do ministro no meio político, além de alinhá-lo às práticas do atual governo.
Para Leandro Consentino, cientista político do Insper, este é um marco na transição de Moro de um juiz reservado para um ministro da República que tem de lidar com opinião pública e o meio político.
"Cai por terra a teoria tão defendida por ele de que não é político. Alguém que não quer as luzes da ribalta não cria um Twitter nem posta selfie", afirma o professor. "Assim, ele vai deixando seu caráter reservado e se abrindo para a opinião pública."
Rodrigo Prando, cientista político da Universidade Presbiteriana Mackenzie, concorda e diz ver certo sentido no movimento. "Como juiz, é costume da magistratura só se manifestar nos autos. Agora ele é ministro: talvez esse seja um entendimento seu de que terá de negociar, discutir, dialogar", afirma Prando. "Não há como não envolver política."
A iniciativa também passa pela preocupação com um possível eleitorado. "Moro sempre foi muito cioso da sua imagem. Se seus projetos à frente do ministério, como o pacote da Lei Anticrime, derem certo, ele se mantém como possível nome presidenciável. Este também é um jeito de dialogar com um público que ele não conhecia", avalia Prando.
Se você não está cavando popularidade, não vai se preocupar em criar Twitter
Leandro Consentino, cientista político do Insper
Moro junta-se aos tuiteiros do governo
Ao UOL, o Ministério da Justiça afirmou que a criação da conta partiu de Moro e não do presidente Jair Bolsonaro (PSL), grande adepto das redes sociais.
Com a adesão, Moro se torna mais um entre tantos ministros que usam a ferramenta com frequência, como Onyx Lorenzoni (Casa Civil), Ricardo Vélez (Educação), Damares Alves (Cidadania) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores).
"Ainda que seja uma decisão pessoal, ela corrobora a visão do governo. Na sociologia, fala-se da proximidade de aceitação. Ele deixa de ser um estranho. O resultado, a gente vai ver depois, porque as redes sociais, como o papel, aceitam quase qualquer coisa, mas governar é diferente", afirma Prando.
Consentino diz que este incentivo às redes sociais no Executivo não é um movimento exclusivo do Brasil, mas mundial. Ele chama a atenção para o fato de que Moro e Paulo Guedes (Economia), dois dos chamados "quadros técnicos do governo", estavam entre as exceções.
"Isso quebra a história de que dá para separar os perfis técnicos dos políticos. A partir do momento em que você se torna ministro de Estado, não há a distinção. Tem gente que tem perfil mais técnico, mas também são políticos, têm de descer ao ambiente político", argumenta. "Redes sociais são parte disso."
Prando, por sua vez, diz que Moro terá de se comportar de uma forma diferente dos outros ministros se quiser ter uma imagem mais positiva. "Temos de ver se ele estará lá apresentando resultados concretos. Os outros só estão polemizando, não vi apresentarem nenhum resultado em suas redes."
"Enquanto isso, qual a expressão do Paulo Guedes, que apresentou a reforma da Previdência, nas redes sociais? Pois é... Ele é um dos dois ministros que dão respaldo ao governo. O Moro é o outro. É preciso apresentar resultados", diz o analista.
Em seu primeiro dia no Twitter, Moro dedicou uma série de postagens à explicação da Lei Anticrime, seu principal projeto neste começo de governo. Divulgar as ideias e propostas do seu ministério é o objetivo da conta, diz ele.
Rede social pode render frutos, mas é perigosa
Usuário assíduo, Bolsonaro tem usado as redes sociais para divulgar ações do governo, postar declarações polêmicas e conversar com a população. Especialistas veem a prática como uma estratégia que pode render frutos, porém "duvidosa e perigosa".
"O que, em um ambiente eleitoral, é interessante, no governo pode ser mais prejudicial do que positivo. Para aparecer é ótimo, mas permanecer nas redes sociais com discurso de candidato mostra que Bolsonaro ainda não pegou a condição de líder que o país reclama, que pensa em aprovar reformas, em gerar emprego", afirma Prando. "Quando o [presidente da Câmara Rodrigo] Maia fala para ele parar de brincar e governar, ele dá um sinal claro."
Os analistas avaliam que isso faz com que ele fique cada vez mais forte com a sua base nas redes, mas também faz com que fique restrito a elas.
"O presidente cai na armadilha de que as redes são o conjunto, mas elas não representam pluralidade do país. Quem o segue, na maioria, se identifica com sua pauta", alerta Consentino. "Um presidente deve governar para o país todo e ele pode acabar caindo na tapeação de que a opinião pública está ali representada. E não está. É perigoso."
Além disso, os professores chamam a atenção para as "polêmicas que Bolsonaro poderia ter evitado se usasse menos o Twitter".
"Rede social tem uma linguagem muito rasa, às vezes agressiva. O governo querer continuar pregando para convertidos. Mas isso não serve. O próprio vice-presidente já falou sobre isso", conclui Prando. "Até o momento, essa dinâmica foi prejudicial para a constituição de uma liderança política tanto quanto, durante a campanha, foi positiva."
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