'Nada demais' e 'perseguição ao PT': mensagens de Moro polarizam o Senado
O vazamento das conversas entre o ministro Sergio Moro (Justiça) e o procurador Deltan Dallagnol foi o assunto mais comentado nos bastidores do Congresso hoje e inaugurou um duelo de versões entre os (poucos) senadores que estiveram hoje na Casa --a maioria dos parlamentares não comparece às segundas.
Nenhum congressista ouvido pela reportagem se manteve alheio em relação ao comportamento dos protagonistas da Lava Jato nos diálogos obtidos pelo site The Intercept Brasil. O material sugere que Moro, então juiz, não se limitou a julgar e atuou como uma espécie de supervisor do trabalho da força-tarefa do MPF (Ministério Público Federal) em Curitiba.
'Conversa de amigos', mas 'talvez um deslize'
Líder do Podemos, Alvaro Dias (PR) defendeu o trabalho do ministro e dos investigadores da Lava Jato.
Para ele, as mensagens não revelam "nenhum fato escuso que os condene, que os incrimine e que deponha contra a honra" de Moro e Dallagnol.
"Como não admitir o contato informal para se estabelecer a estratégia, para se buscar a melhor forma de alcançar os objetivos daquela investigação? Não vejo, portanto, anormalidade grave naquilo que se divulgou", comentou o parlamentar.
Dias observou que "talvez" seja possível "admitir desvio ético", um "deslize" ou "descuido em conversas informais entre amigos".
O senador avalia que as informações obtidas perdem valor diante da "invasão criminosa da privacidade das pessoas" e que elas não anulariam provas e as decisões proferidas no âmbito das investigações.
"Não creio que essa hipótese possa ser aventada porque as provas são incontestáveis, irrefutáveis. (...) São provas já consagradas pelos tribunais de primeira instância, de segunda instância e os superiores. Não há como contestar", afirmou.
Prova de 'vale tudo contra Lula'
Do lado oposto no debate, Rogério Carvalho (SE), vice-líder do PT no Senado, afirmou que "as revelações demonstram o que todos já sabiam, mas não tinham como provar cabalmente".
"A condenação de Lula é uma gigantesca farsa jurídica", sustentou ele, em referência à punição aplicada pelo então juiz federal Moro no processo do tríplex do Guarujá (SP).
"Em qualquer país minimamente civilizado, o processo contra Lula bem como boa parte da Lava Jato já teriam sido anulados há muito, em face dos gigantes atropelos da presunção da inocência e do devido processo legal."
A versão do congressista é que a Lava Jato teria implantado um "verdadeiro vale-tudo contra o PT e Lula", valendo-se de conduções coercitivas ilegais, "tortura psicológica de testemunhas", indução de delações, vazamentos e outros meios.
Carvalho declarou ainda que a operação conduzida pelo MPF e pela Polícia Federal teria sido "criada e instruída pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos". "Isso é público e notório. A influência dos Estados Unidos nas procuradorias brasileiras é objeto de várias mensagens diplomáticas norte-americanas vazadas pelo WikiLeaks e amplamente divulgadas em outras reportagens", argumentou.
"Essas mensagens mostram como a Lava Jato foi criada basicamente pelo Departamento do Estado e por ele conduzida conforme os seus próprios métodos."
O petista sustenta que Moro e Dallagnol seriam apenas "peões" em um xadrez político muito maior. No tabuleiro, o governo americano estaria movendo peças em busca de "poder mundial". "E o que nós estamos vendo aqui é que esse castelo de cartas que foi montado através da Lava Jato para fragilizar as nossas empresas, para diminuir o nosso papel estratégico no mundo e o papel na geopolítica universal do Brasil e do Mercosul, logrou êxito."
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