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Vazamentos da Lava Jato

Deltan: ação hacker foi criminosa, e conversa entre MP e juízes é "normal"

Luciana Quierati

Do UOL, em São Paulo

10/06/2019 17h41Atualizada em 10/09/2019 17h45

O procurador Deltan Dallagnol, coordenador da Operação Lava Jato, disse em vídeo postado nas redes sociais nesta tarde que o vazamento de mensagens reveladas ontem pelo site The Intercept é um "ataque gravíssimo" e que conversas entre o Ministério Público e juízes podem ser consideradas normais. Ele ainda defendeu a imparcialidade de Moro em suas decisões judiciais.

As reportagens trouxeram trocas de conversas entre Deltan e o então juiz federal Sergio Moro, em que o atual ministro da Justiça e da Segurança Pública opinou sobre passos da força-tarefa e deu instruções ao procurador.

É muito natural, é normal, que procuradores e advogados conversem com o juiz, mesmo sem a presença da outra parte. O que se deve verificar é se nessas conversas existiu conluio ou quebra de imparcialidade
Deltan Dallagnol, procurador da República

"Quebra de imparcialidade" que, segundo ele, não ocorreu nos trabalhos da Lava Jato, conforme conquistas da operação enumeradas por Dallagnol. Um deles seria o fato de que "centenas de pedidos feitos pelo MP foram negados pela justiça" e que "54 pessoas acusadas pelo MP foram absolvidas pelo ex-juiz federal Sergio Moro".

"Recorremos centenas de vezes contra decisões judiciais, o que mostra não só que o juiz não acolheu o que o MP queria, mas mostra que o MP não se submeteu ao entendimento da Justiça", disse.

Assim como Deltan, o ministro Sergio Moro já afirmou também que não vê nenhuma irregularidade no conteúdo das conversas tidas com o procurador.

"Teoria da conspiração"

Para ele, as acusações indicando que a Lava Jato seria "uma operação partidária é uma teoria da conspiração que não tem base nenhuma". Ele justifica dizendo que grande parte da equipe da Lava Jato foi formada "antes de aparecer o primeiro político, quando não se tinha ideia de onde a Lava Jato ia chegar".

"Imaginar que essas pessoas vão colocar em risco o sustento da sua família, colocar em risco o seu cargo, para trair a confiança da sociedade para prejudicar A ou B não tem qualquer base na realidade", disse.

O procurador disse ainda que todos os atos e decisões da Lava Jato são revisados por três instâncias independentes do Poder Judiciário formadas por vários julgadores.

Provas no caso do tríplex

O procurador também falou sobre as provas do caso tríplex, no qual o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi condenado e cumpre prisão desde abril do ano passado em Curitiba. Nas mensagens divulgadas pelo The Intercept, Dallagnol não teria certeza sobre sua solidez.

O procurador disse que o MP só efetua uma acusação criminal quando as provas são robustas e que, "justamente por isso, antes da acusação, o MP revisa, submete a intensa crítica, analisa e reanalisa fatos e provas para não oferecer uma acusação frágil de modo injusto contra o investigado", disse.

Sobre as mensagens que indicam que procuradores atuaram para tentar impedir a entrevista de Lula à Folha, no ano passado, Deltan disse que a força-tarefa da Lava Jato entende que a prisão de uma pessoa em regime fechado restringe o direito dela de se comunicar com a imprensa.

"Isso não é uma questão de liberdade de imprensa, mas uma questão de liberdade do preso e vale para qualquer pessoa, independentemente de ser ou não político, independentemente do partido político", afirmou.

Deltan finalizou dizendo que a equipe da Lava Jato não caminha com a lógica de que os fins justificam os meios e lamentou o "desconforto" que a divulgação das conversas com Moro possa ter gerado.

"Essas acusações feitas não procedem, e a origem delas está ligada ao ataque criminoso realizado. Mesmo não reconhecendo a fidedignidade dessas mensagens que foram espalhadas, reconhecemos que elas podem gerar desconforto para alguém. E a gente lamenta profundamente por isso."

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