Unidos por Moro, grupos na Paulista racham entre apoiar ou não Bolsonaro
Apesar do consenso no apoio irrestrito ao ministro Sergio Moro e à operação Lava Jato, os movimentos organizadores da manifestação de hoje na Avenida Paulista, em São Paulo, divergiram em outros pontos, principalmente no alinhamento ao governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL).
Foram quatro os principais grupos que organizaram o protesto na capital paulista: Vem Pra Rua, Nas Ruas, MBL (Movimento Brasil Livre) e uma espécie de consórcio entre o Direita SP, ligado a parlamentares do PSL em São Paulo, e grupos menos expressivos. Também participaram do ato coletivos menores, além de manifestantes independentes.
Entre os principais organizadores, Nas Ruas e o consórcio do Direita SP defendiam explicitamente o presidente e seu governo. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foi criticado abertamente pelos dois grupos de manifestantes.
Faixas e cartazes atacavam o político carioca no trio do Direita SP. No caminhão do Nas Ruas -- que reunia parlamentares como o senador Major Olimpio (PSL-SP) e e deputada Carla Zambelli (PSL-SP), e artistas como o cantor Latino e a atriz Regina Duarte --, um coro gritava "Maia, presta atenção, queremos a reforma de R$ 1 trilhão".
Já o STF (Supremo Tribunal Federal) foi criticado abertamente apenas durante os discursos do Direita SP. O grupo ainda era o único entre os majoritários que levou para a rua a defesa do decreto de porte de armas do presidente Bolsonaro. Entre manifestantes independentes, porém, a rejeição ao Supremo era frequente nos cartazes.
Em contrapartida, MBL e Vem Pra Rua eram claros em explicitar que defendiam causas - a Lava Jato e a Reforma da Previdência -, e não pessoas.
Dentre os quatro grupos, espalhados em pontos distintos da Avenida Paulista, a multidão reunida em frente ao trio do Nas Ruas era a maior; a do MBL, a menor.
Em discursos, diversos oradores nos trios falaram em pelo menos um milhão de manifestantes na Avenida Paulista neste domingo, mas a PM não divulgou estimativa oficial.
"Espírito crítico" e "armadilha"
"Nós mantemos nosso espírito crítico e vigilante em relação aos governantes, não abaixamos a cabeça para tudo que falam", afirmou ao UOL Renato Battista, coordenador nacional do MBL. "Nosso apoio é a ideias, a pautas concretas, não a figuras."
O deputado estadual Arthur "Mamãe Falei" Duval (DEM-SP) e o vereador Fernando Holiday (DEM-SP) discursaram no trio do MBL. O deputado federal Kim Kataguri (DEM-SP), outra das principais lideranças do MBL, estava em Brasília. Os três são filiados ao mesmo partido de Rodrigo Maia.
Para Adelaide Oliveira, porta-voz do Vem Pra Rua, o apoio explícito a políticos, mesmo o presidente ou seus ministros, é uma armadilha.
"Desde que fizemos nosso estatuto não caímos mais nessa, de deixar político usar o movimento, subir para discursar", disse. "A reforma da Previdência é uma questão de vida ou morte para o Brasil. A operação Lava Jato também, mas não podemos perder nosso senso crítico."
"Oportunistas" e "esquerdopatas"
A falta de apoio explícito do MBL ao governo Bolsonaro foi motivo de crítica dos outros grupos que participaram da manifestação. Integrantes do Direita SP e do MBL chegaram a discutir e se agredir durante o ato. A PM (Polícia Militar) precisou intervir, mas ninguém foi preso.
"Esse pessoal que não quer defender o governo, o presidente e todas as suas pautas está é em cima do muro", afirmou Edson Salomão, do Direita SP.
O MBL também foi alvo de críticas em outras manifestações pelo Brasil, sobretudo no Rio de Janeiro.
Aliado de Jair Bolsonaro desde a eleição, o empresário Luciano Hang subiu ao trio do Nas Ruas e fez um discurso exaltado contra a oposição e o "esquerdopatas". "Os trabalhadores votam na direita", afirmou Hang.
Para o porta-voz do movimento Nas Ruas, Tomé Abduch, os vazamentos de conversas entre Sergio Moro, quando ainda era juiz, e o coordenador da Lava Jato, Deltan Dellagnol, são "criminosos" e o jornalista americano Glenn Greewald, fundador do site The Intercept, deveria estar preso. "É um direcionamento ideológico descarado. O marido do jornalista é deputado do PSOL [David Miranda], um partido de esquerda", afirmou.
Paulista ocupada
A manifestação ocupou quase seis quarteirões da Avenida Paulista, entre as ruas Peixoto Gomide e a Alameda Joaquim Eugênio de Lima, mas era possível observar alguns clarões na multidão, que também se misturou ao público que já ocupa a Avenida Paulista normalmente aos domingos, quando a via fica fechada para carros durante a manhã e a tarde.
"Eu vim aqui hoje porque não é possível, depois de tudo, ainda quererem contrariar a vontade popular, a democracia que elegeu o governo Bolsonaro", afirmou o designer de joias Luiz Henrique da Malta Soares, de 58 anos. "Foram 30 anos de governos esquerdistas. Para consertar o estrago e mudar a mentalidade, ainda vai dar muito trabalho, para expulsar toda essa corja e recuperar nosso país."
Por volta das 18h, o trânsito estava reaberto na Avenida Paulista, e os manifestantes começavam a dispersar-se.
De acordo com a PM no local, não houve ocorrências significativas durante a manifestação.
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