Moro diz que site adulterou conversas; Lava Jato contesta possíveis erros
Após o site" The Intercept Brasil" divulgar novos vazamentos na madrugada de hoje, o ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) afirmou, pela primeira vez, que informações foram manipuladas e que as mensagens "não são autênticas". O ex-juiz baseou suas declarações em um texto do site "O Antagonista" que apontou erros na reportagem do Intercept.
Até então, Moro vinha dizendo que as conversas vazadas entre ele e procuradores da Lava Jato poderiam ter sido forjadas e que ele não se lembrava se havia escrito as mensagens.
Na reportagem de hoje, que não traz mensagens de Moro, o Intercept diz que procuradores do MPF (Ministério Público Federal) criticaram o então juiz às vésperas do convite para ele assumir o Ministério da Justiça no governo Jair Bolsonaro (PSL).
Também hoje, a Lava Jato declarou haver "fortes indícios de edição de nomes de interlocutores e datas" nas conversas divulgadas pelo site. A procuradora Monique Cheker, que aparece como a mais crítica à atuação de Moro como juiz federal nos diálogos vazados hoje, contestou firmemente a veracidade das informações.
Os questionamentos ao conteúdo divulgado se baseiam em quatro pontos:
- Em post no Twitter antes da publicação da reportagem, o jornalista americano Glenn Greenwald, um dos fundadores do Intercept, teria apresentado reprodução de uma conversa citando o procurador Ângelo Goulart Villela. A matéria publicada, porém, cita outro nome: Ângelo Augusto Costa;
- Segundo a primeira versão da reportagem, Monique seria procuradora do MPF (Ministério Público Federal) em Osasco (SP) e Barueri (SP). Depois, o Intercept publicou uma errata, informando que a procuradora atua em Petrópolis (RJ);
- Em um dos diálogos, Monique teria dito: "Desde que eu estava no Paraná, em 2008, ele (Sergio Moro) já atuava assim". Ela, porém, argumenta que só foi trabalhar no Paraná em dezembro daquele ano e que nunca havia ouvido falar do então juiz federal;
- Em outro trecho, o site publicou que os diálogos seriam de 1º de novembro de 2019. Em nova versão, o The Intercept fez uma errata e corrigiu a data para 1º de novembro de 2018.
Os erros apontados por O Antagonista foram compartilhados tanto por Moro quanto por Monique no Twitter.
"A matéria do site [The Intercept Brasil], se fosse verdadeira, não passaria de supostas fofocas de procuradores, a maioria de fora da Lava Jato. Houve trocas de nomes e datas pelo próprio site que as publicou, como demonstrado por O Antagonista."
No Twitter, Moro declarou ainda: "Isso só reforça que as mensagens não são autênticas e que são passíveis de adulteração. O que se tem é um balão vazio, cheio de nada. Até quando a honra e a privacidade de agentes da lei vão ser violadas com o propósito de anular condenações e impedir investigações contra corrupção?".
Ao prestar esclarecimentos na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado, em 19 de junho, o ministrou insinuou ao menos 20 vezes que o conteúdo "pode ter sido" modificado intencionalmente a fim de prejudicá-lo.No entanto, buscou a todo momento abordar a questão como uma "possibilidade", valendo-se da presunção. A única acusação feita pelo ministro era de "sensacionalismo".
"Tem algumas coisas que eventualmente posso ter dito, tem algumas coisas que me causam estranheza, mas o fato é que, ainda que tenha alguma coisa ali verdadeira, essas mensagens podem ser total ou parcialmente adulteradas, às vezes até com mudança de trecho ou mudança de palavra para caracterizar uma situação de escândalo que no fundo é inexistente."
Lava Jato e procuradora contestam veracidade
Segundo o Intercept, a força-tarefa da Lava Jato disse que "o trecho do material enviado não permite constatar o contexto e a veracidade do conteúdo". "Autoridades públicas foram alvo de ataque hacker criminoso, o que torna impossível aferir se houve edições no material alegadamente obtido. A Lava Jato é sustentada com base em provas robustas e em denúncias consistentes, analisadas e validadas por diferentes instâncias do Judiciário. Os integrantes da Força-Tarefa pautam suas ações pessoais e profissionais pela ética e pela legalidade."
Em nota divulgada à imprensa, a Lava Jato disse lamentar "os ataques a autoridades que trabalham no combate à corrupção" e contestou a veracidade e relevância das novas mensagens divulgadas.
"A força-tarefa da Lava Jato reconhece como ilegítimo o material publicado, salientando novamente sua origem criminosa, alertando haver fortes indícios de edição de nomes de interlocutores e datas nas supostas mensagens. O seu uso caracteriza total irresponsabilidade do órgão de imprensa. A sua divulgação não traz qualquer interesse público subjacente, mas apenas visa constranger as autoridades públicas mencionadas."
Na versão do Intercept, a procuradora Monique Cheker afirmou que "não tem registro da mensagem enviada e, portanto, não reconhece a suposta manifestação". "A procuradora ainda afirma que são públicas e notórias as incontáveis manifestações de apoio à operação Lava Jato e ao então juiz Sergio Moro", acrescentou sua assessoria.
Ao site "O Antagonista", Monique contestou a veracidade de uma conversa apresentada pelo Intercept em que ela teria dito "Desde que eu estava no Paraná, em 2008, ele (Sergio Moro) já atuava assim". A procuradora afirmou que, em 2008, trabalhou durante quase o ano todo no Rio de Janeiro.
"Nunca tinha ouvido falar do ex-juiz Sergio Moro, muito menos tive contato com alguém do MPF/PR. Tomei posse no MPF em dezembro de 2008, com lotação numa cidade do interior do Paraná. Da posse, seguiu-se logo o curso de ingresso e vitaliciamente em Brasília, e o recesso judicial, e só fui conhecer alguém do MPF/PR que já tinha trabalhado com o ex-juiz Sergio Moro, ou menção a esse nome, tempos depois", declarou Monique.
Em seu Twitter, Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato no MPF em Curitiba, disse que as mensagens vazadas "já acumulam diversas evidências de adulteração, além de serem produto de um crime cibernético".
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