Atos pró-Moro têm Maia e STF como alvos e briga entre bolsonaristas e MBL
Aiuri Rebello e Hanrrikson de Andrade
Do UOL, em São Paulo e em Brasília*
30/06/2019 13h46Atualizada em 30/06/2019 20h58
Manifestantes se reuniram hoje em mais de 70 cidades pelo Brasil para declarar apoio ao ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) e à Operação Lava Jato. O tom dos protestos foi de crítica ao Congresso, com menção ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e ao STF (Supremo Tribunal Federal). No Rio e em São Paulo, houve confusão entre bolsonaristas e membros do MBL (Movimento Brasil Livre).
As manifestações foram convocadas por movimentos de direita e endossadas por aliados do presidente Jair Bolsonaro (PSL) nas redes sociais. Moro é pivô de uma crise instalada após a publicação de conversas privadas entre ele, quando ainda era juiz federal, e o coordenador da Lava Jato, Deltan Dallagnol.
Um grupo de manifestantes do Direita SP, ligado a parlamentares do PSL em São Paulo, fez uma provocação ao MBL junto ao carro de som do movimento na avenida Paulista --ambos participaram das convocações e da organização do ato pró-Moro. Com palavras de ordem como "fora daqui" e até "petralhas", o grupo de dezenas de pessoas quase causou confusão.
"Calma pessoal, não vamos aceitar provocação, deixa para lá", gritavam ao microfone os organizadores do MBL para o público.
A discordância provocou agressões físicas entre alguns integrantes dos dois grupos, que trocaram empurrões até a PM (Polícia Militar) intervir.
"O pessoal do Direta SP veio aqui nos agredir, porque não nos ajoelhamos para o Bolsonaro, defendemos ideias do governo, mas somos críticos", afirmou ao UOL Renato Battista, coordenador nacional do MBL. "Jamais viríamos aqui defender um político, defendemos ideias como a Operação Lava Jato, que está sob ataque."
O presidente do Direita SP, Edson Salomão, deu sua versão sobre o entrevero. "Nós fazemos isso toda manifestação, percorremos a Paulista inteira e passamos por todos os trios", afirmou Salomão. "Seguranças do MBL atacaram nossos integrantes, cerca de 15, quando marchavam pela Paulista. Houve confusão e fomos embora."
"Esse pessoal do MBL é oportunista", declarou Salomão. "Recusaram-se a marchar conosco no dia 26 [de maio], pra defender o governo, e hoje só vieram porque viram que a adesão ia ser muito forte", afirmou o presidente do Direita SP.
Depois da confusão, o MBL publicou em suas redes sociais um agradecimento à PM paulista, por ter contido os manifestantes do outro grupo. No entanto, ninguém foi preso. Apesar da animosidade entre os dois grupos, o clima na manifestação era de tranquilidade até o final da tarde.
Ex-aliados, Direita SP e MBL romperam durante as convocações para a onda de manifestações de apoio a Bolsonaro realizadas no fim de maio. Na ocasião, o MBL foi contra a mobilização por considerar inapropriadas pautas antidemocráticas defendidas por alguns grupos de direita --como o fechamento do STF e do Congresso, por exemplo.
Manifestantes pró-Bolsonaro empunham bandeira contra o MBL no Rio de Janeiro
Imagem: cdsantos/Futura Press/Folhapress
Carioca acusa grupo de traição
No Rio, eleitores de Bolsonaro recepcionaram o MBL com gritos de "traidores" e "vendidos" durante a passeata pela avenida Atlântica, na orla de Copacabana, zona sul carioca.
O técnico em segurança do trabalho Henrique Andrade, 44, foi um dos que protestaram contra a presença do Movimento Brasil Livre. Na visão dele, os ativistas ligados ao grupo mudaram depois que assumiram cargos públicos e agora "estariam se vendendo" no Congresso.
"Eu acompanho o MBL desde o começo e não reconheço mais, estão se vendendo para o Freixo, para o Eduardo Cunha, para o Rodrigo Maia", disse ao Estadão. "Eles (MBL) vão ter que fazer muito para limpar a barra deles com a gente", disse ele ao jornal "O Estado de S.Paulo".
O ato na zona sul carioca começou no posto 5 em Copacabana e se espalhou pelas imediações da avenida Atlântica. A Polícia Militar não divulgou o número de participantes. Em alguns trechos da via, os presentes ocuparam as duas pistas da avenida Atlântica.
Palavras em favor de Moro e da Lava Jato estiveram na maioria das faixas e cartazes exibidos pelo público. Houve também mensagens elogiosas ao ministro Paulo Guedes (Economia) e críticas à corrupção.
'Rodrigo Maia se acha 1º ministro'
Um dos cartazes exibidos durante o ato no Rio continha uma crítica ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia. De acordo com o "Estado de S.Paulo", o manifestante em questão reclamava que o deputado "se acha 1º ministro".
Assim como em protestos anteriores, Maia não comentou críticas direcionadas a ele e ao Congresso Nacional.
Também havia na capital fluminense faixas com dizeres como "O STF é uma vergonha", "Fora PT" e até mensagens ironizando o nióbio, que recentemente foi tema de uma live de Bolsonaro em suas redes sociais.
Moro comenta
Pelo Twitter, Moro se pronunciou por volta de 12h com uma mensagem curta: "Eu vejo, eu ouço". A postagem compartilhava um vídeo com imagens aéreas da manifestação na orla da praia de Copacabana, na zona sul carioca.
Eu vejo, eu ouço.
"Apoiadores da Lava Jato realizam manifestações em diversos estados" https://t.co/XFUHD7NVdG
De volta da viagem ao Japão, onde participou dos encontros do G-20, Bolsonaro comentou brevemente os protestos, na entrada do Palácio da Alvorada.
"É um direito de o povo se manifestar. Eu costumo sempre dizer. A união dos três poderes precisa fazer parte de nós. Está no coração, no sentimento nosso. Uma coisa que pode levar o Brasil ao local de destaque que merece."
Bonecos infláveis pró-Moro e contra Lula, Zé Dirceu e Gilmar Mendes em Brasília
Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress
Outras cidades
Em Brasília, o protesto teve início em frente ao Congresso Nacional, onde foram inflados quatro bonecos gigantes. Um deles, já tradicional, vestia Moro com a roupa do personagem Super-Homem --o super-herói fictício dos quadrinhos. Os outros faziam referência ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em Salvador, a manifestação ocorreu na na orla da Barra. O ponto de encontro foi o tradicional Farol da Barra, onde compareceram centenas de pessoas com roupas nas cores verde e amarelo. A caminhada se estendeu até o Morro do Cristo.
De acordo com os organizadores, o público presente foi de aproximadamente 10 mil pessoas.
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