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Bolsonaro pede que Congresso fuja do populismo e diz dever lealdade ao povo

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

03/07/2019 12h00Atualizada em 03/07/2019 12h44

No momento em que o governo faz pressão para avançar o projeto de reforma da Previdência na Câmara dos Deputados, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) cobrou hoje do Congresso a votação de projetos que "fujam do populismo" e afirmou que as instituições políticas devem dar "exemplo".

"Nós não precisamos de pacto assinado no papel. O pacto que nós precisamos com o Poder Legislativo e com o Poder Executivo é o nosso exemplo de votarmos matérias, de apresentarmos proposições que fujam do populismo, que estimulem a cada um ser realmente responsável e receber aquilo que recebe pelo suor do seu rosto", afirmou durante discurso em São Paulo.

"Isso tem que sair do papel, tem que sair do discurso fácil do político. Nós temos que dar exemplo, Executivo e Legislativo", disse o presidente.

Apesar da rejeição ao populismo, Bolsonaro afirmou, no mesmo discurso, que o povo brasileiro é "muito mais importante que qualquer instituição nacional."

"A vocês, povo brasileiro, somente a vocês, devo lealdade absoluta."

Aceno a policiais após ser chamado de "traidor"

Bolsonaro viajou a São Paulo para participar da cerimônia de transferência do Comando Militar do Sudeste. O general Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira deixa o cargo para assumir a Secretaria de Governo, no lugar do também general Santos Cruz, demitido pelo presidente em junho. O general Marcos Antonio Amaro dos Santos substitui Pereira no cargo no Exército.

Diante de dezenas de militares e policiais, Bolsonaro buscou minimizar o possível impacto da reforma da Previdência sobre a categoria. Depois de ser chamado ontem de "traidor" por policiais civis e federais, o presidente atuou para que novas regras começassem a ser elaboradas para agentes de segurança pública -- uma das principais bases de apoio popular ao governo.

"A reforma da Previdência atenderá a todos. Fiquem tranquilos, meus colegas das forças auxiliares [policiais e bombeiros]. O sacrifício terá que ser dividido entre todos, para que possamos colher os frutos lá na frente."

Novo ministro é amigo há décadas

Bolsonaro usou parte de sua fala de pouco menos de nove minutos para elogiar o novo ministro, tratado pelo presidente como "um grande amigo que mora no coração há 46 anos".

Uma das tarefas de general Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira será participar da articulação política do governo junto ao Congresso, missão que foi tirada das mãos do ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. O presidente disse ter certeza que, com Ramos, "ajudaremos e muito a resgatar a credibilidade de nossas instituições."

O novo ministro foi contemporâneo de Bolsonaro na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras) na década de 1970 e participou de missões militares no Brasil e no exterior. No ano passado, comandou a Operação Ruptura, quando militares atuaram para liberar estradas durante a greve dos caminhoneiros.

Ramos, por sua vez, disse que "soldado não escolhe missão". "Mais uma vez, estou sendo convocado", afirmou.

O general incluiu em sua fala referências militares e religiosos. Tratou Bolsonaro, além de amigo, como o "Águia Uno" -- apelido dado a comandantes de brigadas paraquedistas. Manifestou também o desejo de ter, como ministro, "a sabedoria de Salomão e a capacidade de articulação de Josué do Egito, necessária para vencer as dificuldades que virão."

Na Bíblia, Josué foi o sucessor de Moisés e líder militar na trajetória rumo à Terra Prometida. Salomão, por sua vez, foi rei de Israel e tem a si atribuída a autoria do Livro da Sabedoria, do Antigo Testamento.

"Espero não decepcioná-lo", disse Ramos a Bolsonaro.

Bolsonaro ao lado de Heleno

Bolsonaro chegou à solenidade acompanhado, entre outros, do chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general da reserva Augusto Heleno, com quem o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PSC) -- filho do presidente -- protagonizou polêmica nos últimos dias.

Em comentário em uma página bolsonarista, Carlos colocou sob suspeita a atuação do GSI, tendo como pano de fundo a prisão do sargento da Aeronáutica Manoel Silva Rodrigues, detido na Espanha com 39 kg de cocaína em um avião a serviço da Presidência da República.

Bolsonaro não comentou publicamente o episódio, mas atuou nos bastidores, segundo a Folha, para declarar apoio a Heleno e conter uma nova crise política no momento em que o governo tenta avançar com a Reforma da Previdência no Congresso.

O episódio causou mal-estar entre militares, a ponto de o general da reserva Luiz Eduardo Rocha Paiva, membro da Comissão da Anistia do governo federal, cobrar publicamente de Bolsonaro uma atitude para conter Carlos.