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À vontade na Câmara, Moro dribla pressão da oposição e se mostra político

2.jul.2019 - O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, em audiência na Câmara dos Deputados - Gabriela Biló/Estadão Conteúdo
2.jul.2019 - O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, em audiência na Câmara dos Deputados Imagem: Gabriela Biló/Estadão Conteúdo

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

03/07/2019 04h00

Mesmo sob pressão mais intensa de opositores ao governo de Jair Bolsonaro (PSL), o ministro da Justiça, Sergio Moro, se mostrou mais à vontade em sua segunda audiência no Congresso sobre as mensagens divulgadas pelo site The Intercept Brasil e mostrou com mais clareza sua faceta política, disseram cientistas políticos ouvidos pelo UOL.

Ontem, na Câmara, Moro foi questionado por dezenas de deputados federais. Mesmo em uma audiência mais barulhenta do que a enfrentada no Senado, o ministro manteve o discurso e o tom adotados na outra Casa do Congresso: evitando entrar em bate-boca, questionou a veracidade das mensagens atribuídas a ele e não descartou ter participado de alguns diálogos --cujo conteúdo voltou a minimizar.

Para o cientista político Ricardo Caldas, professor da UnB (Universidade de Brasília), Moro estava "muito mais à vontade" na Câmara, "porque já tinha levado pauladas no Senado" e já sabia o que lhe esperava.

A oposição insistiu em colocar em xeque a imparcialidade de Moro enquanto juiz, fazendo menção constante das trocas de mensagens divulgadas pelo The Intercept Brasil. Deputados do PT também pediram que Moro assinasse declarações autorizando a quebra de seu sigilo e a entrega de seus celulares e computadores. O ministro respondeu que entregou seu telefone para a Polícia Federal desde a suspeita de invasão do aparelho, há quase um mês.

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A audiência acabou quando Moro resolveu ir embora após ter sido chamado de "ladrão" pelo deputado Glauber Braga (PSOL-RJ).

"A oposição buscou desestabilizá-lo, mas o ministro já conhecia o potencial de provocação", disse Caldas.

2.jul.2019 - Deputado Zeca Dirceu (PT-PR) mostra documento em que pede que Sergio Moro assine, se comprometendo a entregar seu celular para investigação - Reprodução/TV Câmara - Reprodução/TV Câmara
2.jul.2019 - O deputado Zeca Dirceu (PT-PR) pede que Moro assine documento se comprometendo a entregar seu celular para investigação
Imagem: Reprodução/TV Câmara

Segundo o cientista político Marco Antônio Teixeira, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas), Moro estava "menos desconfortável" do que no Senado, empurrado pelas manifestações em seu apoio no domingo (30) e pelo apoio público de Bolsonaro.

"Fico com a impressão de que Moro está maior agora do que no momento em que ele foi no Senado", avaliou Teixeira. "Está menos fraco do que se esperaria, ou mais forte do que a oposição gostaria."

De forma similar, para Caldas, o ministro "acabou saindo maior do que entrou nessa crise". "Ele conseguiu reverter o que poderia ter sido uma saída prematura do governo", afirmou.

O político Moro

Os professores também observaram que, com Moro em um cargo no Executivo e se dispondo a encarar o Congresso, o ex-juiz completa o processo de deixar a toga e vestir o traje de político.

"O produto disso também é que, de certa forma, está gerando o Moro com uma personalidade política muito forte", disse Teixeira.

Segundo Caldas, "é como se as denúncias fossem o batismo de fogo do ministro Sergio Moro na política". "Quem estava na Câmara, no Senado, não era mais o juiz Moro. Era o político Moro", afirmou.

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