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Vídeo de sigla de Bolsonaro usa atores sem autorização: "Defendo o oposto"

Caio Magalhães, 26, ator que teve imagem utilizada em campanha de filiação do PSL sem autorização - 10.ago.2019 - Reprodução/PSL
Caio Magalhães, 26, ator que teve imagem utilizada em campanha de filiação do PSL sem autorização
Imagem: 10.ago.2019 - Reprodução/PSL

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

12/08/2019 13h04Atualizada em 13/08/2019 10h49

Resumo da notícia

  • Imagens de atores contrários ao PSL foram usadas em campanha de filiação do partido
  • Atores haviam sido contratados para campanha sobre reforma da Previdência
  • Produtora terceirizada assumiu erro pela má utilização da campanha de um dos atores

O PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, divulgou em suas redes sociais, na noite de sábado (10), um vídeo institucional convidando brasileiros a se filiarem à sigla. No entanto, a peça publicitária utilizou a imagem de pelo menos dois atores sem consentimento.

Para a campanha publicitária, o PSL contratou uma empresa de comunicação de grande porte, a FSB Comunicação, que, por sua vez, terceirizou o casting com outras produtoras, como a EMS Produções, que foi a responsável por contratar os atores.

Depois de o UOL revelar que a campanha do PSL utilizou as imagens dos atores, o partido retirou o vídeo do ar.

Publicação do PSL utilizando imagem de ator sem autorização - 10.ago.2019 - Reprodução - 10.ago.2019 - Reprodução
Campanha do PSL que utilizou imagem de ator sem autorização
Imagem: 10.ago.2019 - Reprodução

Ator há oito anos, Caio Magalhães, 26, afirmou ao UOL que apenas tomou conhecimento da campanha com ela no ar e ficou surpreso ao ver sua imagem vinculada ao partido. Ele explicou que foi contratado por uma produtora para gravar uma peça publicitária que explicaria a reforma da Previdência, não uma campanha para um partido político.

"Nunca passei por algo do tipo antes. Sempre houve ética. A agência FSB contratou a produtora EMS para cuidar do casting. A EMS me contratou e verificou minha disponibilidade de gravação. Passou para mim que seria um 'job' para explicar a nova reforma da Previdência", afirmou o ator.

"Ontem, um amigo me mandou o vídeo do PSL. Não tinha nada a ver com a campanha da Previdência. Entrei em contato com a contratante, com a qual, inclusive, eu não assinei o direito de imagem ainda. Disse que não foi para esse 'job' que havia sido chamado. Me informaram que iriam entrar em contato com a FSB, que nunca tinha acontecido algo assim antes e me pediram milhões de desculpas", complementou Magalhães.

O que está me incomodando é que é contra os meus princípios políticos. Eu não sou eleitor do PSL. E o que o PSL defende é o oposto do que eu defendo. Eu defendo o oposto.
Ator Caio Magalhães

O mesmo aconteceu com Paulo Rogério Fontenele, 37, ator desde 2005. Diferentemente de Magalhães, ele assinou contrato de autorização de uso de imagem, mas o acordo também seria para uma propaganda sobre a reforma da Previdência.

"No casting não me disseram que seria com o intuito de campanha política. Ainda mais para o PSL. Seria referente a um comercial da Previdência. Como não havia assinado o direito de imagem, me enviaram uma solicitação pelo WhatsApp, assinei e reenviei, mas, na correria do dia a dia, acabei por não ler exatamente o que a solicitação dizia por escrito", disse.

"Nessa solicitação para o uso da imagem para fins políticos havia 'filie-se ao PSL', mas só me deparei realmente com a situação desagradável ao receber o vídeo por amigos", complementou. A FSB informou que, "se for o desejo dele, podemos retirar sua imagem da campanha, visto que o objetivo não é criar constrangimento para ninguém. Mas neste caso específico o ator assinou a autorização".

"Eu, em particular, não gostaria mesmo da minha imagem vinculada a campanha política, ainda mais do PSL", afirmou à reportagem o ator.

Erro de produtora

O presidente nacional do PSL, Luciano Bivar (PSL-PE), disse à reportagem que a responsabilidade sobre o assunto é da FSB Comunicação. "Obviamente, havia o acordo com essa empresa de que todos os atores teriam de saber o que estava sendo gravado e para quem. Se houve esse erro, que a empresa arque com suas responsabilidades", afirmou.

Por meio de nota, a FSB Comunicação informou que "a agência especializada em casting subcontratada para selecionar os 53 atores que participaram da gravação do filme reconheceu que cometeu um engano no acordo com o ator Caio Magalhães e já foi providenciada a retirada imediata da imagem dele do filme, sem maiores problemas entre as partes".

A EMS Produções assumiu o erro à reportagem. "Houve um erro de comunicação. Como temos feito alguns trabalhos sobre a reforma da Previdência, nos enganamos. Estávamos com o prazo muito curto, foi um erro nosso com o Caio. Vamos retirar a imagem dele, mesmo porque ele se recusou a assinar o direito de imagem", informou.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.