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Para 82%, fake news foi usada para influenciar eleição, diz Transparência

Getty Images
Imagem: Getty Images

Talita Marchao

Do UOL, em São Paulo

23/09/2019 03h00

Quatro em cada cinco brasileiros acreditam que notícias falsas foram disseminadas para influenciar a eleição, segundo uma pesquisa realizada pela Transparência Internacional. Os números constam no Barômetro Global da Corrupção: América Latina e Caribe, divulgado hoje no mundo todo. No Brasil, a pesquisa foi realizada nos primeiros meses do governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL).

Foram ouvidas mil pessoas entre fevereiro e abril pelo Instituto Ipsos. A pesquisa tem margem de erro de 2,8 pontos percentuais para mais ou para menos, com 95% de confiabilidade.

Entre os 18 países participantes da pesquisa na América Latina e no Caribe, o Brasil aparece nesse quesito com 82% nas respostas para a pergunta que avaliava o uso de "informações falsas ou notícias falsas sendo disseminadas para influenciar os resultados das votações". Bahamas marcou 85% nesse quesito.

A Argentina aparece logo atrás do Brasil, com 81%, e a Venezuela, com 80% —vale destacar que, considerando a margem de erro, os quatro países empatam na liderança. As nações com os índices mais baixos são a Costa Rica (52%) e o Chile (59%).

"Nesta pergunta sobre fake news, o Brasil tem, de fato, um resultado assustador. As pessoas falam com que frequência a notícia falsa é utilizada para influenciar os resultados políticos do país. Isso sem dúvida se deve a esse momento durante as eleições de 2018 em que fake news foram muito disseminadas", afirma Guilherme France, coordenador da pesquisa no Brasil, em entrevista ao UOL.

Entre as instituições avaliadas no quesito corrupção, o Congresso lidera (63%), atrás de representantes governamentais locais (62%) e do presidente da República (57%). No caso da Presidência, entre 2017 e 2019, há um aumento de cinco pontos percentuais —a pesquisa anterior foi realizada logo após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Pela primeira vez, foi perguntado também sobre a corrupção de jornalistas. O Brasil aparece com 23%. "Com relação a esse dado de imprensa, a pesquisa mostra que a mídia é uma das instituições que a população vê como menos corrupta se comparada com as outras instituições avaliadas. Mas esse número reflete também a campanha que existe em determinados setores da sociedade, não só contra a imprensa, mas também contra a sociedade civil", diz France.

Entre os entrevistados, 36% afirmam que há a corrupção em organizações não governamentais. "Esse número reflete o impacto desta campanha coletiva de criminalização da imprensa e da sociedade civil", afirma France.

Compra de voto

O relatório da Transparência Internacional destaca ainda que, no Brasil, 40% dos entrevistados relataram ter recebido oferta de subornos em troca de votos. É o terceiro maior número na região, atrás de México (50%) e República Dominicana (46%).

A Venezuela aparece com 26% e é o único país em que a pesquisa foi feita com papel e caneta; no restante, foi feita de forma digital. As Bahamas foi o único lugar em que a pesquisa foi feita por telefone.

France explica que a pergunta sobre a experiência das pessoas com compra de votos envolve os últimos cinco anos, ou seja, as eleições de 2014, 2016 e 2018. "De fato, é um número elevado, ainda mais se a gente pensar que a questão da compra de votos no Brasil vem sendo um problema endereçado há bastante tempo. A lei contra a compra de votos completou 20 anos e ainda assim é um problema significativo. Talvez não seja aquela compra de votos mais tradicional, e sim em troca de favores, de serviços, de uma cesta básica", diz o pesquisador.

O levantamento da Transparência Internacional mostra ainda que mais da metade da população brasileira ainda acha que a corrupção aumentou nos 12 meses anteriores ao período da pesquisa, ou seja, 2018. Em 2017, este número chegou a 78%.

Entre os brasileiros que participaram da sondagem, 48% consideram que o governo está agindo de forma positiva na luta contra a corrupção —em 2017, este número era de 35%. Outros 46% acham que o governo não age de forma suficiente no combate à corrupção —este número era de 56% em 2017.

"Enquanto a pergunta sobre o crescimento da corrupção avalia os últimos 12 meses, a gente considera que a pergunta sobre a atuação do governo no combate à corrupção já avalia as primeiras medidas do governo Bolsonaro", explica France.

No Brasil, 84% dos entrevistados afirmaram que um cidadão comum pode fazer a diferença na luta contra a corrupção. Entretanto, 12% dos consultados relataram o pagamento de suborno para policiais; 11% apontou o pagamento de propina para acessar serviços públicos básicos; 5%, para juízes e 4% para escolas públicas.