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Antes de ampliar Bolsa Família, Bolsonaro defendeu fim do benefício

Bolsonaro assina criação de 13º salário para o Bolsa Família

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Igor Mello

Do UOL, do Rio

17/10/2019 12h30

Ampliado nesta semana pelo governo, o Bolsa Família foi alvo de frequentes ataques de Jair Bolsonaro (PSL) durante sua trajetória como deputado federal. Bolsonaro já definiu seus beneficiários como "pobres coitados", "ignorantes" e "miseráveis", chegando a defender o fim do programa de transferência de renda em 2011.

O presidente assinou na última terça-feira (15) a ampliação do Bolsa Família, que agora pagará aos beneficiários uma espécie de 13º salário. A medida destinará R$ 2,58 bilhões para cerca de 13,5 milhões de famílias beneficiadas pelo programa de transferência de renda —uma das principais marcas dos governos do PT.

Em solenidade no Palácio do Planalto para assinatura da MP (Medida Provisória) que criou o novo benefício, Bolsonaro tratou o Bolsa Família como "grande conquista".

"Uma grande conquista dessas pessoas que tanto necessitam e ficaram esquecidas por muito tempo", disse.

Esse discurso contrasta com o tom adotado por Bolsonaro quando deputado. Na Câmara, o então parlamentar citou 40 vezes o Bolsa Família em pronunciamentos desde 2003 —quase sempre de forma negativa.

O tema mereceu espaço inclusive no discurso oficial da candidatura de Bolsonaro à Presidência da Câmara, em 1º de fevereiro de 2011. Na ocasião, ele defendeu o fim dos pagamentos. Segundo Bolsonaro, o programa levaria o Brasil a uma "ditadura do proletariado", caso fosse mantido.

"Devemos discutir aqui a questão do Bolsa Família. Devemos colocar um fim, uma transição para o Bolsa Família, porque, cada vez mais, pobres coitados, ignorantes, ao receberem Bolsa Família, tornam-se eleitores de cabresto do PT", pregou, antes de concluir.

"Logicamente, levando-se em conta isso, não interessa ao PT fazer com que o povo tenha cultura, emprego, trabalho, porque vai perder esse curral eleitoral. Enquanto existir o Bolsa Família da forma como está aí, não teremos como renovar o Executivo. O PT jamais sairá de lá e acabará finalmente conseguindo o que queriam em 1964, a ditadura do proletariado."

Apesar de sempre ter feito comentários contrários ao programa, foi a partir de 2011 que Bolsonaro intensificou os ataques ao Bolsa Família. Ainda em fevereiro daquele ano, o então deputado federal voltou a tocar no assunto no dia 9. Ele subiu ao púlpito para agradecer os nove votos que recebeu para o comando da Casa —o petista Marco Maia foi eleito com o apoio de 375 parlamentares.

"O Bolsa Família nada mais é do que um projeto para tirar dinheiro de quem produz e dá-lo a quem se acomoda, para que use seu título de eleitor e mantenha quem está no poder", afirmou.

Em março do mesmo ano, Bolsonaro também criticou um reajuste nos valores pagos no programa. "Quero crer que eu não seja o único certo ou o único errado. Quero criticar o reajuste no Bolsa Família", anunciou.

Ele justificou a posição mais uma vez repetindo o argumento eleitoral: "Quanto mais pobre, miserável e sem cultura, mais gente com título de eleitor na mão para manter no governo, que o escraviza", citou.

Os ataques, porém, começaram bem antes. Em junho de 2007, Bolsonaro disse que beneficiários do Bolsa Família "pensam apenas com o estômago". Mais uma vez, o discurso tinha como objetivo criticar o impacto eleitoral do programa.

"O PT tem ambição pelo poder e praticamente fechou questão no tocante à lista fechada. Tudo pelo poder! Ele tem um eleitorado diferente do nosso. A massa eleitoral do PT são aquelas pessoas que vivem do Bolsa Família, são ligadas ao MST, ao movimento pela redução da maioridade penal, pelos direitos humanos, como discursou um deputado há pouco, aos presidiários. Então, todos os vagabundos, mais aqueles que não raciocinam, que pensam apenas com o estômago, apoiam o PT. Não tenho dúvida disso", atacou.

O UOL procurou Jair Bolsonaro, através da Secretaria de Imprensa da Presidência da República, para comentar a divergência entre os discursos feitos por ele como parlamentar e presidente a respeito do Bolsa Família. Também perguntou sobre planos do governo para criar uma porta de saída para os beneficiários do programa. A Secretaria de Imprensa respondeu apenas que "o Planalto não comenta" as declarações de Bolsonaro.

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