Da tensão na prisão à euforia com a liberdade: as fases do ABC de Lula
Não foram raras as vezes em que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) segurou o choro, de tristeza, sobre um caminhão de som que o aguardara para seu último palanque antes de ser preso, em 7 de abril de 2018, em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. Quinhentos e oitenta dias depois, Lula volta, livre, ao mesmo local, e faz seus militantes chorarem. Desta vez, de felicidade.
As emoções à flor da pele estavam latentes entre os petistas. Tanto em abril de 2018 quanto em novembro de 2019. No ano passado, o clima era de tensão, numa mescla de nervosismo e apreensão pelo que poderia vir a acontecer ao ex-presidente Lula. Entre uma data e outra, o ex-presidente ainda fez uma aparição pública relâmpago, quando compareceu ao velório de seu neto, Arthur Araújo Lula da Silva, 7 anos. Havia sensação de completa tristeza. Agora, o clima é de alegria, com sorrisos e vibrações positivas em todo o entorno do sindicato.
O êxtase dos petistas no ABC começou ontem, ainda em Curitiba, em frente à Superintendência da PF (Polícia Federal), onde Lula estava detido. Exaltado por militantes, o ex-presidente, acompanhado de aliados políticos e familiares, discursou para cerca de 200 simpatizantes. Durante sua primeira fala pública, ele agradeceu os presentes e atacou a PF, o MPF (Ministério Público Federal) e o governo de Jair Bolsonaro.
Enquanto passava sua primeira noite em liberdade na capital paranaense com aliados e a noiva, a socióloga Rosângela Silva, o Sindicato dos Metalúrgicos, com cerca de 300 voluntários, se preparava para comemorar, com festa, hoje, a liberdade de Lula. No Bar da Rosa, a um quarteirão do sindicato, os militantes queimaram a largada e iniciaram as comemorações ainda durante a sexta-feira.
Às 10h, Lula não havia nem saído de Curitiba e a movimentação no entorno do sindicato já começava a crescer. Diferentemente do ano passado, agora com música, que se alternava entre MPB, samba e jingles políticos de Lula, e vendas de comida, bebida e camisetas do PT, do MST (Movimento Sem-Terra) e em homenagem à vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada em março do ano passado no Rio de Janeiro.
A diarista Cícera Maria da Conceição veio comemorar seu aniversário de 54 anos no sindicato. "Tô mais feliz pela liberdade dele do que pelo meu aniversário. Homem maravilhoso, pai dos pobres. Depois de Getúlio Vargas, só ele", afirmou. Ela diz ser filiada ao PT desde que tinha 18 anos e morava em Maceió.
Com ela, estava o filho de sua amiga, o estudante João Victor Júnior Flausino, 11, que recebeu autorização da mãe para ir ao local. "Já vim aqui algumas vezes. Estou acostumado. Posso dizer que sou petista e lulista", afirmou. Questionado por que, disse: "Porque Lula defende os negros".
A artista plástica Helenice Dornelles, 60, saiu do Rio de Janeiro ontem à noite e chegou, com outros 43 militantes, em um ônibus, às 9h, para festejar a liberdade de Lula. "Estou aqui porque acredito que só teremos nosso país e a democracia de volta com a liberdade e os direitos políticos de Lula restabelecidos", afirmou.
Ela disse ter saído em foto estampada na capa da Folha de São Paulo, nos anos 1980, durante protesto na Cinelândia, no Rio, na primeira vez em que Lula foi preso. "Ou seja, minha luta dura há bastante tempo. Desde sempre."
Já Camila Silva, 28, auxiliar administrativa, trouxe o primo, o estudante Ruan Alves, 16, para o sindicato. "Sempre admirei a trajetória e a luta do Lula pelo povo. Eu moro aqui próximo, então decidi vir", conta Camila. "Isso representa uma vitória. São 580 dias de luta tentando provar a inocência do Lula. É um momento emocionante", acrescentou o estudante.
Segundo a PM-SP (Polícia Militar de São Paulo), um forte esquema de segurança foi mobilizado para garantir a segurança do público. "Nós estamos preparando um esquema especial de policiamento em São Bernardo do Campo, empregando recursos dos batalhões do ABC, em especial do 6? BAEP (Batalhão de Operações Especiais)", informou a corporação.
Lula livre
O ex-presidente Lula foi beneficiado com a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que derrubou prisões em segunda instância. Segundo o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), menos de 5.000 presos serão beneficiados. Condenados com o trânsito em julgado, ou seja, sem mais oportunidades de recorrer, e aqueles com prisão preventiva, continuarão em cárcere.
Um dia depois da decisão do STF, a defesa de Lula pediu urgência na soltura do ex-presidente e coube ao juiz Danilo Pereira Júnior, que substitui Carolina Lebbos, da 12ª Vara Federal em Curitiba, assinar o alvará de soltura. Lebbos, que está em férias, é a responsável pela execução da pena de Lula. O petista deixou a PF em Curitiba no fim da tarde de ontem. Apesar da soltura, Lula não foi considerado inocente pela Justiça.
Lula estava preso em razão da sentença que recebeu no processo do tríplex do Guarujá, no litoral de São Paulo. A condenação ocorreu enquanto Lula era o pré-candidato do PT à Presidência da República e liderava a preferência da população, de acordo com as pesquisas de intenção de voto. O processo foi derivado da Operação Lava Jato, que tinha à frente o juiz federal Sergio Moro, atual ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, que venceu o segundo turno na disputa com Fernando Haddad (PT).
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