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Damares convoca imprensa, finge abalo, se cala e depois revela encenação

Luciana Amaral e Constança Rezende

Do UOL, em Brasília

25/11/2019 16h13Atualizada em 28/11/2019 12h13

A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, convocou hoje (25) à tarde uma coletiva de imprensa no Palácio do Planalto. Ao chegar ao local, porém, estava aparentemente abalada e abandonou a entrevista sem responder às perguntas feitas.

Cerca de uma hora depois do ocorrido, a assessoria de imprensa da ministra informou que o episódio foi uma encenação. "Objetivo era mostrar como o silêncio da mulher incomoda", informou a assessoria. "Se uma mulher perde a voz, todas perdem", afirmou. Hoje é lembrado o Dia do Enfrentamento à Violência Contra a Mulher.

Esperada para entrevista coletiva às 15h, Damares chegou ao segundo andar do Planalto por volta das 15h25. Ela não respondeu aos cumprimentos de boa tarde e se manteve quieta.

Jornalistas então começaram a perguntar sobre a solenidade em referência ao Dia do Enfrentamento à Violência Contra a Mulher, celebrado em 25 de novembro, promovida hoje à tarde pela Presidência no Planalto. Ela não respondeu. Questionada se estava emocionada, também não se manifestou. Em seguida, fez sinal de gesto para terminar a entrevista e se retirou do local.

Cerca de meia hora depois da coletiva, Damares participou do evento no Planalto previsto conforme a agenda. A outra ministra do governo, Tereza Cristina (Agricultura), também esteve presente.

Ao final da cerimônia, em nova entrevista, Damares confirmou se tratar de uma encenação para tentar chamar a atenção para a violência contra a mulher. "Eu fiquei em silêncio para que vocês sintam como é difícil uma mulher ficar em silêncio. Quando eu queria falar tanto com vocês hoje, dizer para vocês dessa campanha belíssima, eu preferi o silêncio."

É muito ruim tirar a voz de uma mulher. Era esse o recado que eu queria dar. E obrigada por terem participado, voluntariamente e involuntariamente, da campanha. Que todas as mulheres tenham voz

Damares Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos

Após silêncio, Damares discursa por 23 minutos

Ao se dirigir ao púlpito, Damares foi chamada de "mita" pela plateia presente, formada majoritariamente por apoiadoras do governo, em referência ao apelido de "mito" dado ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) por seus fãs.

Damares discursou por mais de 23 minutos em fala enérgica. No início do discurso, a ministra disse que a plateia no salão nobre do Planalto era formada por "60% [de] mulheres e os outros 40%, [por] filhos de mulheres".

Damares defendeu que o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é "formado por mulheres" e que este lhe deu carta-branca para promover ações que visam a melhoria da situação da mulher na sociedade. Atualmente, são duas mulheres dentre os 22 ministros de Estado. Como argumento, elogiou mulheres no segundo escalão de ministérios e órgãos vinculados ao governo federal.

Ela disse que o governo vai enfrentar a violência contra as mulheres na sociedade e citou iniciativas do próprio ministério.

Segundo a ministra, o atendimento às mulheres vítimas de violência em todas as delegacias de polícia será ampliado por meio da capacitação de funcionários para atendê-las. Ela disse que a medida não acabará com os postos voltados exclusivamente às mulheres. A ideia é que esse reforço funcione até que uma Delegacia da Mulher seja instalada em todos os municípios do país.

"Nem que seja uma salinha pequenininha. [...] Detalhe: vou pintar a salinha de cor-de-rosa", disse.

A capacitação dos agentes de segurança que trabalham em delegacias começará em janeiro de 2020, sem prazo para término, informou a ministra. O orçamento virá do programa "Salve uma Mulher" promovido pela Secretaria da Mulher, da pasta. Ela não soube dizer quanto custará a ação.

Damares afirmou também que o governo pintará de rosa dois navios na Amazônia e na Ilha do Marajó para funcionarem como Casas da Mulher Brasileira itinerantes a fim de atender comunidades ribeirinhas. Ela ainda disse pretender instalar procuradorias da mulher em Câmaras de Vereadores e estimulou que mais mulheres participem da política, inclusive como candidatas nas próximas eleições municipais de 2020.

Na cerimônia, a Presidência lançou uma campanha de conscientização para enfrentar a violência contra a mulher e de estímulo a denúncias contra agressores. Vídeos da iniciativa contam com a participação da dupla sertaneja Simone e Simaria com o tema de que as mulheres não podem se calar.

Ao longo da fala, Damares afirmou que o governo se dedica a fazer com que mulheres antes "invisíveis" viessem "à luz", como surdas, indígenas, ciganas e marisqueiras. Ela lembrou que a violência contra a mulher não é apenas física, mas também psicológica e patrimonial.

"Todas as violências precisam ser denunciadas", disse.

Ela ainda voltou a dizer que os meninos vão levar flores às meninas e abrir as portas dos carros para elas. Em seguida, ressaltou querer que as portas das empresas também sejam abertas às mulheres, em referência à vontade de aumentar a participação das mulheres no mercado de trabalho.