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Eleição 2020: aliança com PT no Rio gera disputa inédita no PSOL

25.nov.2019 - Marcelo Freixo se encontrou mais uma vez com Lula no Instituto Lula - Ricardo Stuckert, Instituto Lula
25.nov.2019 - Marcelo Freixo se encontrou mais uma vez com Lula no Instituto Lula Imagem: Ricardo Stuckert, Instituto Lula

Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

27/11/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Pela 1ª vez, Marcelo Freixo enfrenta adversário no PSOL para a Prefeitura do Rio
  • O vereador Renato Cinco se coloca como pré-candidato e não aceita uma possível aliança com o PT
  • Freixo aposta em uma frente única de esquerda para concorrer no ano que vem

Depois de terminar em segundo lugar na disputa para a Prefeitura do Rio nas duas últimas eleições (2012 e 2016), o PSOL se vê com uma disputa interna inédita para as eleições municipais do ano que vem. Pela primeira vez, o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) encontra um adversário dentro do partido e divide opiniões entre os correligionários. O motivo é a vontade declarada de compor uma chapa com o PT —o que gerou reações de repúdio em uma ala do partido e fez com que o vereador Renato Cinco lançasse a sua pré-candidatura.

O desejo de Freixo em viabilizar uma frente única de esquerda no Rio se deve, segundo ele, ao que chama de avanço da extrema direita. Por isso, na visão do deputado, é necessário deixar de lado a postura adotada pelo partido nos últimos pleitos, quando optou por não se aliar a outros partidos de esquerda e amargou derrotas nas urnas. Cinco, por sua vez, diz acreditar que a possível composição com o PT seria um "distanciamento da essência socialista do partido e uma vã tentativa de domar o capitalismo".

A presença de Freixo ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante o seu primeiro pronunciamento realizado em São Bernardo (SP) após mais de 500 dias preso já indicava a vontade do parlamentar de ter um petista em sua chapa. O nome da também deputada federal Benedita da Silva (PT) é o mais citado por integrantes do PSOL para ocupar o posto de vice-candidata. Freixo, porém, evita citar nomes.

"Meu esforço tem sido por montar uma frente ampla de esquerda no Brasil inteiro. Temos um governo federal extremista, que trabalha com inabilidade técnica, além da supressão de direitos. Combater isso passa pela capacidade de trabalhar juntos desde agora. No Rio, já fechamos a parceria com o PT e o PV. Temos conversado com o PCdoB e com a Rede também. Não debateremos nomes neste ano, um nome restringe o debate. Este sentimento é compartilhado pelo ex-presidente Lula", diz.

Autodeclarado pré-candidato, Freixo precisará driblar a vontade de Lula em ver Benedita como candidata no ano que vem. Em entrevista ao jornalista Fernando Morais, o ex-presidente defendeu Benedita como "cabeça de chapa" e disse que "o PT precisa ir para a TV defender o partido".

"Coligação com PT seria retrocesso", diz Cinco

E é nisso que o nome de Freixo tem esbarrado para uma ala do PSOL. Representante dos que se manifestam de maneira contrária à aliança com petistas, Renato Cinco diz que a possível coligação seria um retrocesso para o partido.

Marcelo Freixo e Renato Cinco, do PSOL - Reprodução/internet - Reprodução/internet
Marcelo Freixo e Renato Cinco, do PSOL
Imagem: Reprodução/internet

"A aliança com o PT seria ruim, pois não representa mudança nenhuma em relação ao que trouxe a esquerda até aqui. Precisamos fazer uma avaliação sincera e profunda de tudo feito até o momento. Esse programa não pode ser uma volta do que tivemos nos últimos 30 anos e isso pode fortalecer ainda mais a direita. Hoje, quem diz que temos que mudar tudo é a extrema direita. Mas, a esquerda diz que precisa manter tudo", explica ele, que também se diz pré-candidato.

"As coligações devem convergir conexões programáticas. Não vejo isto com o PT. Quero resgatar a proposta anticapitalista e socialista do PSOL. O PT de Lula não governou contestando a política neoliberal do PSDB de Fernando Henrique Cardoso. É a eles que vamos nos juntar? Acredito que o que produz uma sociedade com bem-estar social é uma proposta socialista. Na última eleição presidencial, por exemplo, o candidato do PSOL era o Guilherme Boulos que, por várias vezes, defendia a bandeira do Lula. Precisamos defender com afinco a nossa bandeira", afirma o vereador.

A guinada de Freixo, rumo à constituição de uma frente única de esquerda, de acordo com o próprio, não acontece por acaso. Berço do bolsonarismo no Brasil, o Rio seria um retrato do quadro político que se espalha pelo país. O presidente Jair Bolsonaro (atualmente sem partido) deve lançar um nome para a disputa na capital fluminense. Enquanto isso, o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) é dado como nome certo na corrida eleitoral e Marcelo Crivella (PRB) é pré-candidato à reeleição.

Freixo diz ter aprendido com eleições anteriores. "A conjuntura das eleições de 2016 [quando perdeu no segundo turno para Marcelo Crivella], por exemplo, era muito diferente. Era um momento pós-impeachment, uma conjuntura muito desfavorável aos setores progressistas", explica ele, que concorreu, no mesmo pleito, com Jandira Feghali (PCdoB) e Alessandro Molon (REDE), sem buscar coligações.

Pré-candidatos pregam respeito mútuo

A decisão do partido só virá no ano que vem. A convenção interna que deve "bater o martelo" sobre o nome do candidato só ocorrerá depois do Congresso Municipal do PSOL, a ser realizado em março do ano que vem.

Enquanto a decisão não vem, Cinco reitera o respeito ao adversário interno.

"Apesar de não concordar com essas questões, considero Freixo um dos melhores da esquerda brasileira, que já demonstrou coragem ímpar em diversas frentes, como a CPI das Milícias, no Rio de Janeiro. Partido saudável é partido com debates", diz.

Freixo, por sua vez, diz não ver problemas em ter um adversário interno na caminhada para esta que pode ser a sua terceira candidatura seguida ao governo municipal. "Coisas normais de uma democracia", diz.