Caso Queiroz: operação do MP mira família de ex-mulher de Bolsonaro
Resumo da notícia
- Operação do MP do Rio cumpriu mandados de busca e apreensão
- Entre os alvos estão 9 parentes de Ana Cristina Valle, ex-mulher de Jair Bolsonaro
- Todos os parentes de Ana Cristina trabalharam no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj
- O MP investiga a suspeita de rachadinha dos salários de ex-assessores de Flávio
A operação deflagrada hoje ligada ao caso Fabrício Queiroz mostra que o MP (Ministério Público) do Rio investiga o círculo familiar do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). A ação, que cumpriu mandados de busca e apreensão, atingiu nove parentes de Ana Cristina Siqueira Valle —ex-mulher do presidente e mãe de seu filho mais novo, Jair Renan. A ação de hoje, que cumpriu ao todo 24 mandados de busca e apreensão, também teve como alvo endereços ligados a Queiroz.
Todos os parentes de Ana Cristina estiveram lotados no gabinete do senador Flávio Bolsonaro (RJ-sem partido) quando ele era deputado estadual no Rio —a maioria deles por muitos anos.
Eles estão na lista de 96 pessoas e empresas que tiveram os sigilos fiscal e bancário quebrados a pedido do MP em abril, por ordem do juiz Flávio Itabaiana.
A suspeita do MP é de que os parentes de Ana Cristina fizeram parte de um esquema de rachadinha no gabinete de Flávio na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio) —a prática consistente que funcionários devolvam parte de seus salários.
A família é de Resende, cidade do sul fluminense que fica a cerca de 170 km da capital. Por muitos anos, eles ocuparam cargos mais bem remunerados no gabinete do hoje senador, com salários que chegavam a superar a casa dos R$ 10 mil.
A advogada de Ana Cristina, Ana Paula Salviano, informou que a ex-mulher de Bolsonaro não vai se manifestar sobre a operação. Por telefone, ela reiterou que a sua cliente não é alvo da investigação e que as buscas foram feitas na residência de outras pessoas da família.
Quem são os investigados
Segundo os jornais Folha de S.Paulo e O Globo, um dos alvos de mandados é José Cândido Procópio da Silva Valle —pai de Ana Cristina e sogro de Bolsonaro. Ele trabalhou no gabinete de Flávio entre 2003 e 2008. Antes, já havia sido nomeado na Câmara dos Deputados por Jair Bolsonaro entre 1998 e 2000.
Andrea Siqueira Valle, irmã de Ana Cristina e ex-cunhada do presidente, esteve nomeada na equipe de Flávio na Alerj por uma década, entre 2008 e 2018. Antes também havia passado pelo gabinete de Jair Bolsonaro, entre 1998 e 2006. O vereador Carlos Bolsonaro (PSC) também empregou a investigada na Câmara do Rio entre 2006 e 2008.
Primos de Ana Cristina, Francisco Siqueira Guimarães Diniz, Daniela de Siqueira Torres Gomes e Juliana Siqueira Guimarães Vargas também tiveram endereços vasculhados pelo MP.
Francisco trabalhou no gabinete de Flávio entre 2003 e 2017, enquanto Daniela atuou com o filho mais velho do presidente entre 2004 e 2011. Já Juliana, antes de ter trabalhado na Alerj entre 2003 e 2011, já havia sido nomeada por Jair Bolsonaro entre 1999 e 2003.
Também foram alvos quatro tios da ex-mulher de Bolsonaro. Ana Maria de Siqueira Hudson trabalhou na Alerj entre 2005 e 2018. Maria José de Siqueira e Silva ocupou cargo no gabinete de Flávio entre 2003 e 2012. Já Marina Siqueira Guimarães Diniz fez parte da equipe entre 2003 e 2013. Por fim, Guilherme Henrique dos Santos Hudson teve rápida passagem pela Alerj, entre junho e agosto de 2018.
Família Bolsonaro empregou 102 parentes
Em agosto, o jornal O Globo revelou que a família Bolsonaro empregou em seus gabinetes 102 pessoas com vínculos de parentesco desde 1991. Ao rebater a reportagem, o presidente admitiu ter empregado parentes na Câmara dos Deputados, mas disse só ter feito isso até a proibição do nepotismo.
"Já botei parentes no passado, sim, antes da decisão de que nepotismo seria crime. Qual é o problema?", disse à época.
Entenda o caso Queiroz
Além dos parentes de Ana Cristina, o MP também realizou buscas em endereços ligados a Fabrício Queiroz, pivô do escândalo que envolveu a família presidencial.
Queiroz, que além de ex-assessor parlamentar é policial militar reformado, foi citado em relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) por movimentações bancárias atípicas de R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017.
O levantamento do órgão de inteligência financeira ainda flagrou uma série de depósitos de assessores e ex-assessores de Flávio na conta de Queiroz, fato que iniciou as suspeitas sobre um esquema de rachadinha.
Com o avançar do caso, Queiroz e Flávio passaram a ser formalmente investigados pelo MP por possível prática dos crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa por um suposto esquema de desvio de recursos públicos na Alerj.
O que dizem as defesas
Em nota, a defesa de Fabrício Queiroz classificou como "absolutamente desnecessária" a operação autorizada pela Justiça e cumprida hoje pelo MP.
"A defesa de Fabrício Queiroz recebe a informação a respeito da recente medida de busca apreensão com tranquilidade e ao mesmo tempo surpresa, pois absolutamente desnecessária, uma vez que ele sempre colaborou com as investigações, já tendo, inclusive, apresentado todos os esclarecimentos a respeito dos fatos", diz a defesa em nota.
Ana Cristina Valle afirmou em vídeo publicado em seu perfil no Instagram que não é investigada e disse acreditar que a operação do MP seja "uma estratégia da mídia para atingir o nosso presidente Jair Bolsonaro" (veja o vídeo abaixo).
Os demais citados não foram localizados ou ainda não se pronunciaram.
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