Loja de Flávio tem "apoio silencioso" e discrição após virar alvo do MP
Quem vê o funcionamento da loja de chocolates Kopenhagen do shopping Via Parque, na Barra da Tijuca, zona oeste carioca, mal acredita que o estabelecimento seja um dos principais alvos do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) no Caso Queiroz. Sobre a investigação, silêncio e discrição tanto por parte de funcionários da loja de Flávio e das vizinhas como por consumidores em busca de compras de Natal.
De acordo com o MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro), a loja foi utilizada pelo senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), que é sócio do estabelecimento, para lavagem de dinheiro em suposto esquema de "rachadinha" à época que era deputado estadual na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro). O MP-RJ estima que cerca de R$ 1,6 milhão possam ter sido lavados na loja.
Flávio divide a sociedade da loja com o empresário Alexandre Santini —cada um detém 50% de participação no negócio. No entanto, o senador lucrou R$ 500 mil a mais do que o sócio entre 2015 e 2017. Para o juiz da 27ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, Flávio Itabaiana Nicolau, a desproporção na divisão de lucros "não pode ser usual". O MP diz que isso indica que Santini é laranja na empresa.
O senador nega qualquer irregularidade —segundo Flávio, seu lucro era maior porque ele atrai mais clientes para a loja— e o sócio dele não respondeu a contato do UOL.
Funcionário com camiseta do Bolsonaro e silêncio
A reportagem esteve hoje na loja dois dias após a operação deflagrada pelo MP. Nas lojas próximas, empregados desconheciam detalhes da operação de quarta-feira (18), mas disseram que ela não alterou a rotina.
Outra empregada do shopping afirmou que só soube do mandado de busca e apreensão na loja de chocolates —cumprido na parte da manhã— quando parou para ler as notícias do dia, já ao final do expediente.
Na loja de Flávio, além de duas funcionárias uniformizadas, que atendiam os clientes, havia dois homens transitando entre o espaço aberto ao público da loja e a área reservada ao administrativo.
Um deles, que preferiu não se identificar, vestia uma camisa com a inscrição "Bolsonaro: Brasil acima de tudo e Deus acima de todos". Ao chegar na loja, por volta das 10h30, fez questão de mostrar a peça aos outros funcionários, mas sem falar nada, em uma espécie de apoio silencioso ao filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Abordado pela reportagem, ele se recusou a falar antes mesmo de qualquer identificação.
Rotina inabalável
O Shopping Via Parque fica na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio. O prédio fica a 3 km do escritório de apoio do senador no Rio. A loja em que Flávio é sócio, especificamente, fica na saída B do shopping, próxima a lojas de sapatos, móveis, moda praia e doces. O estabelecimento pode passar despercebido pelos mais desatentos, já que o recuo em que está localizada é um ponto sem muito destaque.
A maioria dos clientes da loja também não quis se estender sobre os últimos acontecimentos. Apenas um deles, cliente assíduo por trabalhar próximo ao shopping, afirmou à reportagem que viu "por alto" a questão envolvendo Flávio e a loja. "De qualquer forma, é melhor esperar pra saber se é isso tudo mesmo", disse.
O horário de maior movimento foi no almoço, por volta das 13h. Apesar de o estabelecimento não servir refeições, muitos clientes aproveitaram o horário para fazer compras de Natal.
A julgar pela rotina desta sexta-feira, quatro dias antes da festa, as investigações do MP não frearam as vendas da loja de chocolates.
Loja já foi visitada por políticos e celebridades
Inaugurada em março de 2015, a franquia foi celebrada pelo hoje senador em suas redes sociais. O evento que marcou o início dos serviços contou com a presença do seu pai, o atual presidente da República Jair Bolsonaro, do ex-técnico de futebol Carlos Alberto Parreira e do deputado estadual e ex-jogador Bebeto (Podemos).
O nome escolhido para a razão social "Bolsotini" é uma mistura do sobrenome da família presidencial com o do sócio de Flávio, Alexandre Santini.
Lojistas vizinhos afirmaram não se lembrar de ver o senador na loja. Nesta sexta, Jair comparou Flávio a Neymar e disse que é normal "ganhar mais" porque "leva mais" clientes para a loja.
"Ele leva um montão de gente importante, ele ganha mais. É a mesma coisa que chegar pro Neymar: 'Por que está ganhando mais que os outros jogadores?' Porque ele é mais importante. Não é comunismo".
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