'Namoradinha' do Planalto: governo se esforça ao cortejar Regina à Cultura
O Palácio do Planalto, encabeçado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), tem se esforçado ao máximo em cortejar a atriz Regina Duarte para assumir a Secretaria Especial da Cultura.
Ontem o Ministério do Turismo, a qual a secretaria é subordinada, exonerou o secretário interino, José Paulo Soares Martins, como uma forma de demonstrar estar de "braços abertos".
Hoje, mesmo sem a atriz ter anunciado que aceitava o convite, ela já indicou sua secretária-adjunta, que ficará como interina da pasta até uma definição. Trata-se da reverenda Jane Silva, atual secretária de Diversidade Cultural do órgão, uma funcionária que já mantinha laços de amizade com Regina Duarte.
A atriz recebeu sinal verde para formar sua equipe da forma como achar melhor.
Na segunda (20), Bolsonaro e o ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, viajaram ao Rio para conversar com a atriz. O convite foi feito pessoalmente pelo presidente como uma forma de prestigiá-la.
Dois dias depois, Regina foi convidada ao Palácio do Planalto, em Brasília, onde almoçou com o mandatário e se reuniu com ministros e convidados.
Em geral, nenhum governo se dispõe tanto publicamente a acolher alguém, ainda mais para a função de secretária, abaixo de um ministro na hierarquia do Planalto.
No aeroporto de Brasília, foi recebida por assessores do governo federal numa área de serviço e levada em carros oficiais até o Planalto. Mesmo assim, foi surpreendida por jornalistas. Depois, evitou a imprensa a todo custo.
Ela fugiu dos jornalistas no Palácio do Planalto entrando e saindo pela garagem privativa. Posteriormente, foi à sede da secretaria sem qualquer aviso. Na pasta, também entrou e saiu pela garagem.
A reportagem viu, porém, os carros saindo e uma pessoa de dentro de um dos veículos tirando fotos dos jornalistas à sua espera. Foi negada até mesmo a informação se ela dormiria na capital federal ou voltaria para o Rio.
A atriz acabou permanecendo em Brasília, ao longo desta quarta, e participou de reuniões fechadas na secretaria também na quinta-feira.
A ideia é que Regina passe por um "período de testes" e, antes de uma eventual nomeação, possa conhecer todas as atribuições e a estrutura da pasta, bem como o funcionamento de um órgão público.
A avaliação de interlocutores do governo é que o presidente e sua equipe se esforçaram ao máximo a fim de sensibilizar a atriz e deixá-la confortável para aceitar o cargo.
Quanto à volta da secretaria como Ministério da Cultura, a própria atriz já disse não fazer questão da mudança. Bolsonaro cogita a ideia, mas a tendência é que fique na asa do Ministério do Turismo para não gerar críticas de aumento de gastos na Esplanada.
Por todos esses gestos de Bolsonaro, a expectativa de assessores do Planalto é que a atriz aceite o convite.
Para o Planalto, se Regina não aceitar o cargo, ficará claro que foi por questões pessoais, pois o governo moveu "mundos e fundos" para convencê-la.
Hoje pela manhã, Bolsonaro minimizou a demora dizendo que a artista está "cheia de vontade" e "parece que está no governo há um tempão".
Agora a decisão deve ficar para a semana que vem, quando o presidente retorna de viagem oficial à Índia na próxima terça-feira (28). "Talvez na volta a gente acerte. Ela merece realmente quase que uma festa por ocasião da assinatura dela, da posse", disse Bolsonaro hoje.
A vontade de Bolsonaro em tê-la no ministério é grande por acreditar que a atriz possa servir de intermediadora entre o governo e a classe artística, crítica a ações da atual gestão na área. O Planalto ainda considera precisar de uma pessoa do meio para repaginar a imagem ruim que a pasta da Cultura adquiriu.
Além disso, Regina é próxima da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, responsável por sugerir o nome ao marido. Conhecida pelo antipetismo e por ter feito campanha contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2002, a atriz se declara abertamente conservadora e apoia Bolsonaro desde a eleição de 2018.
Regina está sendo incentivada a se mudar para Brasília pelo ministro Ramos. Eles não eram amigos, mas já se conheciam de quando o ministro chefiava o Comando Militar do Sudeste, em São Paulo.
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