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Grupo que ameaça STF faz referência a massacres de Realengo e Suzano

Massacre de Realengo, no Rio, em 2011, serve de "inspiração" para célula terrorista que vinha monitorando a rotina de ministros  - Rogério Silva/Futura Press/Estadão Conteúdo
Massacre de Realengo, no Rio, em 2011, serve de "inspiração" para célula terrorista que vinha monitorando a rotina de ministros Imagem: Rogério Silva/Futura Press/Estadão Conteúdo

Marcelo Oliveira

do UOL, em São Paulo

17/02/2020 18h33

Resumo da notícia

  • Ministros do STF foram alertados de que suas rotinas têm sido monitoradas
  • A PF apontou que a célula terrorista Unidade Realengo Marcelo do Valle estaria envolvida
  • Marcelo do Valle é um terrorista condenado a 41 anos de prisão
  • Os fóruns criados por Valle têm ligação com os massacres de Realengo e Suzano

A célula terrorista Unidade Realengo Marcelo do Valle, que a Polícia Federal (PF) acusa de planejar um ataque a ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), tem em seu nome vínculo com o Massacre do Realengo. Trata-se de referência ao ex-aluno que atacou uma escola na zona oeste do Rio em 2011 e matou doze estudantes, e a Marcelo Valle Silveira Mello, 34 anos, condenado pela Justiça Federal a 41 anos de prisão por terrorismo e outros crimes.

Segundo informações de hoje da coluna Mônica Bergamo, da Folha, todos os ministros do STF foram alertados pelo presidente da corte, Dias Toffoli, para que reforcem sua segurança. O aviso se dá após descoberta, pela PF, de que integrantes da Unidade Realengo Marcelo do Valle trocavam mensagens sobre as rotinas dos ministros da corte —um indicativo de que poderão ser atacados.

Grupo tem ligação com incels

Segundo a organização não governamental Safernet, que atua na defesa dos direitos humanos na internet, o grupo "deve ser levado a sério" pois tem ligação com incels (corruptela originada do inglês para "celibatários involuntários").

O termo se refere a pessoas que não têm relacionamentos sexuais voluntários e culpam mulheres e homens sexualmente ativos por suas frustrações. Incels influenciaram jovens envolvidos com os ataques de Realengo, Suzano e com ameaças à professora Lola Aronovich e a jornalistas.

A ONG e seus integrantes também foram ameaçados e relataram ao UOL que, ao mesmo tempo em que esses grupos da internet já deram demonstrações de sua violência, também "se nutrem da visibilidade para criar pânico, clima de insegurança e ansiedade nas vítimas ameaçadas e na sociedade como um todo", disse um fonte da Safernet que pediu para não ter seu nome divulgado devido a ameaças.

"Essa ameaça tem que ser levada a sério pelo histórico de massacres", disse a fonte.

Atentado à UnB

A Safernet foi a instituição responsável pelo monitoramento que levou à primeira prisão de Marcelo Valle Silveira Mello, em 2012. Ele e Emerson Eduardo Rodrigues tiveram a prisão preventiva decretada naquele ano por planejarem um atentado para matar estudantes de ciências sociais da UnB (Universidade de Brasília). Ambos foram condenados em primeiro grau por este caso, mas acabaram soltos.

Depois da primeira prisão de Mello, a Safernet recebeu 161 mil denúncias sobre os fóruns e sites criados por ele com ameaças e conteúdo de ódio contra mulheres, negros, nordestinos, judeus e população LGBTQ+.

Na ocasião da primeira prisão de Mello e Rodrigues (que hoje vive na Espanha), eles disseram à polícia que foram procurados por Wellington Menezes de Oliveira, o autor do massacre de Realengo, que queria orientações sobre como realizar o ataque.

Nova condenação e prisão

Apesar desse rol de acusações, Marcelo Valle acabou solto e só voltou à cadeia em 2018, na Operação Bravata, que resultou em sua condenação, em dezembro daquele ano, a 41 anos e meio de prisão por terrorismo, associação criminosa, divulgação de imagens de pornografia infantil, racismo, incitação a crimes e coação no curso do processo. A prisão preventiva do acusado foi decretada, ele segue preso e não delatou outros integrantes do grupo.

Juiz ameaçado

"O grupo se revoltou muito após a prisão de Marcelo e as ameaças passaram a se dirigir ao judiciário', diz a Safernet. O juiz federal Marcos Josegrei da Silva, autor da sentença, passou a ser ameaçado.

Para a Safernet, a PF precisa se aprofundar na atuação desses grupos. "É preciso um trabalho mais sistemático e persistente, pois há outros integrantes em plena atividade", diz a ONG.

Até a prisão de Marcelo, o fórum onde conversavam os incels ligados à Marcelo funciona na internet comum. Só depois migrou para a deep web.

Ataque a Jean

Segundo a Safernet, o grupo também esteve por trás de uma tentativa de ataque ao ex-deputado federal Jean Wyllys (Psol), que renunciou ao mandato, deixou o país e hoje é professor e conferencista no exterior.

"Eles mapearam qual o equipamento de raio-x que havia na Câmara dos Deputados para testar se um taco de beisebol passaria dentro de um tubo para carregar um banner", diz a fonte ligada à ONG.

Em 2015, uma equipe do programa Profissão Repórter (TV Globo) tentou entrevistar Marcelo Valle e foi agredida por ele.