Militares temem "bolha" do entorno do presidente com ausência de civis
A saída do ministro Onyx Lorenzoni da Casa Civil é vista como positiva para auxiliares do presidente Jair Bolsonaro, mas o fato de o entorno do presidente estar agora repleto de militares tem um lado que pode acabar prejudicando o governo, segundo alguns próprios oficiais que ajudam o presidente.
Um general que despacha no Planalto já desde de governos passados afirmou que há um risco de uma criação de "uma bolha", já que o comportamento militar tende a ser mais unificado. Para ele, a presença de civis é importante porque traz para o núcleo do governo uma visão de "outro lado".
Segundo outro militar que também faz parte dos auxiliares do presidente, Onyx tinha problemas de articulação, mas era uma voz que trazia pensamentos de uma outra parte da sociedade, inclusive da classe política.
O entorno ideológico do presidente, que possui alguns civis, não é considerado por esses militares de alta patente. Na visão dos generais ouvidos pela reportagem, o presidente precisa de "pessoas capacitadas, preparadas e com vivência" para auxiliá-lo.
O episódio recente de o presidente ter compartilhado vídeo de apoio às manifestações foi minimizado pela ala militar, mas nos bastidores admitem que o comportamento do presidente fica mais impulsivo quando ele se cerca da família. Muitos lembraram, inclusive, do episódio do carnaval passado, quando o presidente compartilhou o vídeo de golden shower.
Distanciamento
A chegada do general Walter Souza Braga Netto ao lugar de Onyx reforçou o time militar, mas há um consenso tanto entre os militares do governo quanto nas Forças Armadas de que é preciso dissociar a imagem do governo do Exército.
Braga Netto, inclusive, decidiu antecipar a sua ida para reserva, que aconteceria só em junho e confirmou ao UOL que já deu entrada no requerimento para a reserva.
De acordo com o regulamento do Exército, o tempo médio para um militar passar para reserva é de 45 dias. Durante esse período, a Diretoria de Inativos e pensionistas do Exército, subordinada ao Departamento Geral do Pessoal, faz os cálculos de quanto ele vai receber, a Região Militar à qual ficará vinculado e outras publicações para oficializar o ato administrativo.
Além de Braga Netto, os outros militares do Planalto são os generais Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), que está com Bolsonaro já desde antes das eleições, e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), que chegou após a saída do também general Carlos Alberto dos Santos Cruz, mas é amigo de longa data do presidente.
O único que não tem origem no Exército é Jorge Oliveira, major da reserva da Polícia Militar do DF à frente da Secretaria-Geral da Presidência. Jorge, porém, também é amigo da família Bolsonaro.
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