'Não tenho poder de impedir o povo de fazer nada', diz Bolsonaro sobre atos
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse hoje que não tem "poder de impedir o povo de fazer nada", referindo-se aos protestos pró-governo que ocorreram ontem em diferentes pontos do país. Em entrevista à Rádio Bandeirantes, ele manteve o tom de conflito com o Congresso e disse que quer "aprovar o que interessa ao povo".
"Não tenho poder de impedir o povo de fazer nada. Não houve protesto. Eles estavam, em grande parte, fazendo um movimento pelo Brasil, ponto final. Não convoquei ninguém para esse evento", afirmou o presidente.
Sem máscara em meio à pandemia do novo coronavírus, ele cumprimentou simpatizantes e manuseou celulares de alguns apoiadores para fazer selfies, descumprindo orientação do Ministério da Saúde para evitar aglomerações. Bolsonaro disse que tem "direito" de apertar as mãos das pessoas e que tem "obrigação moral de saudar o povo".
"Se eu me contaminei, isso é responsabilidade minha. Ninguém tem nada a ver com isso", acrescentou. "Mesmo que o povo erre, você tem que respeitar a vontade popular."
Em sua avaliação, "está havendo uma histeria" em relação ao coronavírus e o governo está preocupado e trabalhando para minimizar os problemas. Balanço divulgado ontem à noite pelo Ministério da Saúde informou que o país registra 200 casos oficiais.
O presidente avaliou que dificilmente o Brasil vai atingir a meta de crescer 2% este ano devido aos impactos da pandemia e disse que se reunirá nesta tarde com o ministro da Economia, Paulo Guedes, para discutir possíveis medidas, citando especificamente as dificuldades enfrentadas por companhias aéreas.
"É essa a preocupação que eu tenho. Se a economia afundar, afunda o Brasil... Se afundar a economia, acaba com o meu governo, é uma luta de poder", afirmou.
Críticas a Maia e Alcolumbre
O presidente ainda criticou a participação de autoridades como os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, (DEM-RJ) e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e de governadores no evento de lançamento da CNN Brasil, que ocorreu na última segunda-feira (9), em São Paulo, dizendo que eles não se preocuparam com o coronavírus naquele momento.
Bolsonaro foi duramente criticado por parlamentares - inclusive Maia e Alcolumbre - por ter estimulado as manifestações a favor de seu governo e contra o Congresso e o STF (Supremo Tribunal Federal), fato que o mandatário nega.
"Que exemplo essas pessoas estavam dando para todo o Brasil no tocante a essa preocupação? O que está em jogo? É uma disputa política por parte desses caras. Eu estou sozinho num canto apanhando. É uma luta de poder", afirmou Bolsonaro.
Bolsonaro concentrou os ataques em Maia, e disse que as críticas que recebeu do presidente da Câmara, principalmente após participar de atos públicos ontem em Brasília, são parte do jogo de disputa de poder.
"Maia me chamando de irresponsável ontem foi um ataque frontal. Estou pronto para conversar com Congresso, mas está em jogo disputa de poder", afirmou. "Dá para reverter críticas a Maia, é só começar a trabalhar pelo Brasil", emendou.
Questionado se arrependeu-se de cumprimentar os apoiadores, Bolsonaro disse que não. "Como chefe de Estado, não existe essa história de arrependimento. Se existir algum problema, vamos enfrentá-lo."
Sem elementos para impeachment
Na entrevista, Bolsonaro afirmou que seria um golpe de estado isolá-lo e disse que tem sido ameaçado "o tempo todo" e que não existem atualmente elementos para a abertura de um processo de impeachment contra ele.
"Não pode um chefe do Poder Executivo viver ameaçado o tempo todo. Seria um golpe isolar o chefe do Poder Executivo por interesses outros que não sejam os republicanos", afirmou.
Presidente diz que fará novo exame amanhã
Bolsonaro testou negativo para a covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, em exame feito na semana passada. Mesmo assim, o presidente informou que será submetido a um novo teste amanhã, mas se sente "muitíssimo bem".
"Não estou sentindo absolutamente nada, está tudo normal", disse.
Ele fez o exame depois que o secretário especial de comunicação da Presidência da República, Fábio Wajngarten, foi diagnosticado com a doença.
* Com Estadão Conteúdo e Reuters
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