Parlamentares defendem isolamento; ex-ministro diz que Bolsonaro está certo
Resumo da notícia
- Debate realizado pelo UOL reuniu ex-ministro Osmar Terra, hoje na Câmara, os senadores Simone Tebete e Randolfe Rodrigues e do deputado Kim Kataguiri
- Terra diz que presidente é "corajoso" e que "o tempo dirá que ele está certo"
- Seu colegas congressistas elogiam o ministro da Saúde e pedem mais união no governo
- Apoio à permanência de Mandetta na Saúde é unânime entre debatedores; eventual processo de impeachment é rejeitado
Em debate realizado pelo UOL na tarde de hoje, três parlamentares divergiram do deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), ex-ministro da Cidadania do governo de Jair Bolsonaro, sobre a importância da quarentena para enfrentar a epidemia do novo coronavírus.
Os senadores Simone Tebet (MDB-MS), presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder do partido no Senado, além do deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP) defenderam o isolamento. O encontro foi mediado pelo colunista do UOL Tales Faria.
Terra, que é médico de formação e que atuou duas vezes como secretário de Saúde do Rio Grande do Sul, elogiou a postura do presidente Bolsonaro, o considerando "corajoso" e afirmando que "o tempo dirá que o presidente está certo".
Para ele, assim como para Bolsonaro, todas as pessoas que não estão em grupos de risco devem voltar ao trabalho o quanto antes para que a economia não trave. O ex-ministro estima que o coronavírus vá causar a morte de menos pessoas do que o H1N1 — segundo Terra, a doença matou cerca de 2.100 pessoas no país.
"Não tem uma criança na Itália, um adulto jovem em UTI na Itália. Todo mundo tem que trabalhar, os grupos de risco lavando a mão... Ou a economia vai quebrar e vão querer colocar a culpa no presidente. Bolsonaro foi corajoso em fazer o discurso dele. Estou me baseando em dados científicos [para defender o fim da quarentena]", afirmou Osmar Terra.
Os outros três parlamentares, no entanto, acreditam nas orientações dadas pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e seguida por grandes potências econômicas mundiais (Estados Unidos, Itália, França, Espanha) para reforçar o isolamento social.
A união das bandeiras políticas opostas neste momento de agravamento da pandemia foi destacada pela senadora Simone. "O Congresso está pronto, está preparado. Aliás, eu nunca vi tanta unanimidade em um único tema", disse a senadora.
Segundo a senadora, é preciso ampliar a questão da quarentena. "Não significa quarenta dias. Nesse momento, o Brasil comporta ficar até um mês parado. Estamos fazendo o dever de casa para dar suporte aos trabalhadores informais. Ela também atacou a polarização e a existência de uma guerra ideológica. "Não é saúde ou economia, é saúde e economia, é salvar vidas e empregos", disse.
Para Tebet, depois de 20 ou 30 dias, será possível reavaliar a situação. "A economia que vai dizer, a falta de comida que vai me pautar como mulher pública", afirmou.
Críticas a Bolsonaro
O senador Randolfe Rodrigues, por sua vez, criticou o posicionamento de Bolsonaro em meio à crise. "Essa é uma crise sanitária, de saúde pública, que tem interface internacional, com o ambiente econômico. Todos os países do mundo, a forma que tem sido indicada pela OMS, pelas experiencias, é a utilização da quarentena", disse.
"Em um momento como esse, o presidente é um magistrado, não pode dividir a nação, não pode atacar a imprensa, opositores, prefeitos, governadores. A condução da crise não poderia ter sido do presidente isoladamente. Nós não temos um discurso único da parte do governo. Atentando contra a saúde pública e contra a federação, cria conflito com prefeitos e governadores ao invés de dialogar", afirmou.
O deputado Kim Kataguiri concordou com o senador. "Ao mesmo tempo que ele fala em 'gripezinha' e 'porte de atleta', se não é um grande problema, não devia ter enviado ao Congresso um pedido de decreto de calamidade pública. Um discurso irresponsável, incentivando a população a ir contra a linha do próprio ministro da saúde", avaliou.
Corte de gastos
Os parlamentares discutiram ainda um tema que têm provocado polêmica no Congresso e gerado repercussão: a redução de salários da elite do funcionalismo público durante a crise da covid-19. O assunto foi levantado, há duas semanas, pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que defende um corte linear e momentâneo para os três Poderes.
A ideia de utilizar recursos dos servidores públicos para enfrentar a pandemia do novo coronavírus tem apoio tanto de Kim Kataguiri e como de Randolfe Rodrigues.
"Acho que tenho que ser levado para o judiciário e o executivo. Principalmente quem ganha acima do teto do INSS. Essa é uma discussão que os deputados dizem que é demagógica. Vamos ter que falar de corte de cartão corporativo", disse Kim.
O salário de deputados e senadores é de R$ 33,7 mil. Eles integram o 1% da população mais rica do país, com renda superior a R$ 27,7 mil por mês.
Já a senadora Simone Tebet ponderou que parte da elite do funcionalismo emprega prestadores de serviço e o corte de salários pode impactar indiretamente na economia.
"Temos que falar de corte de salários dos deputados, mas antes de falar de corte de salário do servidor, temos que falar de corte do fundo eleitoral, temos que falar do PLN4 [projeto que realoca R$ 30 bi em emendas]", disse a parlamentar.
Impeachment
Líder da minoria do Senado, Randolfe disse que não é momento para impeachment de Bolsonaro. A declaração aconteceu um dia após o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Marco Aurélio Mello encaminhar à PGR (Procuradoria-Geral da República) um pedido de afastamento do presidente, feito pelo deputado Reginaldo Lopes (PT-MG).
"Eu sou contrário a qualquer processo de impeachment neste momento. Seria de uma irresponsabilidade atroz", afirmou o senador.
O senador defendeu que também o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, permaneça no cargo.
"O dano na economia está dado, mesmo que não estivéssemos em quarentena. Somos dependentes da China, dos EUA e da Europa; impactando lá, é óbvio que iria impactar aqui. Eu espero que não haja demissão do ministro, porque seria um ato de irresponsabilidade e causaria ainda mais demissão [na sociedade]", avaliou.
Simone Tebet concordou com a colega de Senado. "Mais importante do que tudo é termos estabilidade política, sou contra qualquer pedido de impeachment do presidente, precisamos ter equilíbrio. Está faltando planejamento. Não pode ministro da saúde e da economia dizer uma coisa, e o presidente falar outra", disse.
UOL Debate
O debate realizado entre parlamentares hoje foi o terceiro episódio do UOL Debate (veja a íntegra abaixo). Eles foram convidados para falar sobre medidas tomadas pelo Legislativo e o desempenho do governo Bolsonaro para amenizar a crise que gerou a pandemia no país.
O UOL Debate reúne especialistas e nomes conhecidos do público para abordar o impacto da desaceleração da economia sobre as pessoas e as empresas, a reação dos governos aos enormes desafios impostos pelo coronavírus.
Também aborda os efeitos de uma sociedade em quarentena para a saúde mental e a educação das crianças, como esportistas e artistas estão lidando com a crise e as perspectivas para seus campos de atuação, entre outros temas.
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