CPI das Fake News é prorrogada: "Do que governo tem medo?", diz senador
Resumo da notícia
- CPI das Fakenews vai durar mais seis meses
- Governo tentou impedir continuidade de investigação
- Presidente de CPI afirma desconfiar que há "culpa no cartório" da base aliada
- Líder do governo diz que Jair Bolsonaro não teme nada
A CPI mista das Fake News foi prorrogada por mais seis meses, com o apoio de 234 parlamentares — 34 senadores e 209 deputados — e apesar da tentativa de governistas de barrar a continuidade das investigações da comissão parlamentar de inquérito.
De um lado, os governistas conseguiram retirar dez assinaturas. De outro, parlamentares independentes e da oposição juntaram mais 18 apoios nas últimas horas antes da 0h desta sexta-feira. O saldo (234) foi superior ao mínimo de 171 apoios necessários.
Para o presidente da comissão de inquérito, senador Ângelo Coronel (PSD-BA), a medida mostra que o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) tem medo das investigações da CPI. "Que medo [é] esse que a CPI está trazendo para a base do governo que estão querendo abortar?", disse ele ao UOL, no início da tarde de hoje. "Até parece que tem alguma culpa no cartório e estão com medo de se chegar a algo."
Como mostrou o UOL, dados em poder da CPI mostram que os endereços de internet das contas de WhatsApp que mais dispararam mensagens em massa durante as eleições de 2018 ficavam no Brasil apesar de os telefones celulares terem chips do exterior. Uma quebra de sigilo desses IPs poderia mostrar pessoas reais e eventuais financiadores de campanha ocultos, apostam os parlamentares.
Além disso, uma conta de rede social que fazia ataques virtuais é ligada ao gabinete de um dos filhos do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
Para Coronel, "parece" que a base governista "tem culpa no cartório". "Parece porque estão querendo abortar. Se estão querendo abortar, estão com receio de alguma coisa, ou que se chegue a alguma coisa."
Congresso decide funcionamento de CPI semana que vem
Coronel diz que conversará com o presidente do Congresso, senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), que se curou de coronavírus, na semana que vem. Ele pedirá que a mesma tecnologia de votações à distância usada pelo plenário durante a pandemia da doença esteja disponível para a CPI.
Caso não seja possível de imediato, solicitará que o prazo de funcionamento da comissão, por mais 180 dias, só comece a correr depois que os trabalhos foram retomados. O primeiro item da pauta da CPI é analisar 52 pedidos para quebrar sigilos de empresas e sócios suspeitos de financiamento ilegal de campanhas.
Houve 'guerra', diz Coronel; Bolsonaro não tem medo, rebate governo
Segundo ele, houve uma "guerra" na quinta-feira (2). Os senadores a favor das investigações conseguiram colocar mais sete assinaturas no requerimento de continuidade da CPI.
O líder do governo, Eduardo Gomes (MDB-TO), afirmou que o motivo de sua ação era evitar um "absurdo" e que Bolsonaro não tem medo de investigações.
"O presidente [Bolsonaro] tem uma série de defeitos, mas o medo não é um deles", contou ao UOL, na noite de ontem, em meio ao trabalho de convencimento de colegas para retirar assinaturas. "Já pensou numa CPI das Fakenews remota? Uma novela mexicana. Qual o objetivo disso agora que não seja político?"
Como eles agiram
Quem retirou assinaturas
Senadores: Acir Gurgacz (PDT-RO), Ciro Nogueira (PP-PI), Eduardo Girão (Podemos-CE), Elmano Férrer (Podemos-PI), Jorginho Mello (PL-SC), José Maranhão (MDB-PB), Luiz do Carmo (MDB-GO), Marcelo Castro (MDB-PI), Omar Aziz (PSD-AM) e Plínio Valério (PSDB-AM).
Quem colocou assinaturas ontem
Senadores: Senadores: Jean Paul Prates (PT-RN), Fabiano Contarato (Rede-ES), Mecias de Jesus (Republicanos-RR), Paulo Albuquerque (PSDB-AP), Sérgio Petecão (PSD-AC), Styvenson Valentim (Podemos-RN) e Vanderlan Cardoso (PSD-GO).
Deputados: Dagoberto Nogueira (PDT-MS), João H. Campos (PSB-PE), Luciano Ducci (PSB-PR), Luiza Erundina (PSOL-SP), Mariana Carvalho (PSDB-RO), Pedro Cunha Lima (PSDB-PB), Professora Marcivania (PCdoB-AP), Robério Monteiro (PDT-CE), Rubens Otoni (PT-GO), Shéridan (PSDB-RR) e Tereza Nelma (PSDB-AL).
CPI é fundamental em tempos de coronavírus, diz relatora
A relatora da CPI, deputada Lídice da Mata (PSB-BA), se disse "entusiasmada" com a continuidade das investigações. "Em tempos de coronavírus e de informações falsas circulando nas redes e confundindo a população, as investigações da CPI serão fundamentais para punir aqueles que levam pânico e espalham mentiras, colocando até mesmo vidas em risco", disse à reportagem.
Ela disse que é possível trabalhar e manter as medidas de segurança contra a covid-19. "Continuaremos trabalhando mesmo com o dever de continuar com o isolamento social. Os trabalhos de investigação dos responsáveis por Fake News não podem parar."
Veja alguns trechos da entrevista com o senador Ângelo Coronel, concedida por telefone no início da tarde desta sexta.
E os requerimentos de quebra de sigilo?
É o primeiro item da pauta. Já estão na pauta, com a pauta suspensa. Ontem foi uma guerra, viu? Ontem foi uma guerra. Até zero hora, foi o governo ligando para os senadores retirar assinaturas e ainda conseguiram retirar de dez. Mas nós conseguimos também empurrar sete. [O UOL apurou que mais 11 deputados assinaram a CPI nos últimos momentos]
Por que o governo não quer a continuidade da CPI?
Boa pergunta. Eu não consegui detectar porque o governo quer abortar a CPI. Que medo [é] esse que a CPI está trazendo para a base do governo que estão querendo abortar? Até parece que tem alguma culpa no cartório e estão com medo de se chegar a algo. E não justifica.
E tem culpa no cartório?
É isso que eu estou dizendo. Parece porque estão querendo abortar. Se estão querendo abortar, estão com receio de alguma coisa, ou que se chegue a alguma coisa.
O líder do governo, Eduardo Gomes, nos disse que o presidente Jair Bolsonaro não tem medo de nada na CPI. Afirmou que o problema é a CPI funcionar em meio a coronavírus. Disse que é "absurdo".
Isso aí é a opinião dele. Não é a opinião da grande maioria, que apoiou a sua prorrogação.
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