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Haddad critica troca de acusações entre Moro e Bolsonaro: "coisa de máfia"

Presidente Jair Bolsonaro e o então ministro da Justiça, Sergio Moro, em cerimônia no Palácio do Planalto - Reprodução
Presidente Jair Bolsonaro e o então ministro da Justiça, Sergio Moro, em cerimônia no Palácio do Planalto Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

24/04/2020 18h05Atualizada em 24/04/2020 19h54

O pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro em resposta às declarações feitas pelo agora ex-ministro Sergio Moro (Justiça) repercutiu no meio político. Nas redes sociais, o ex-prefeito de São Paulo e candidato derrotado à presidência pelo PT em 2018, Fernando Haddad, disse que a troca de acusações entre Bolsonaro e Moro é "coisa de máfia".

Na mesma rede social, o ex-candidato do Partido Novo à presidência em 2018, João Amoêdo, se pronunciou em linha parecida com a do governador maranhense.

"Com tanto a ser feito pelo Brasil, Bolsonaro reúne todo seu ministério para fazer um discurso desconexo e sem propósito", disse.

Também candidato derrotado nas eleições presidenciais de 2018, o ex-ministro e ex-governador Ciro Gomes (PDT) criticou a crise política que estourou em meio à pandemia do novo coronavírus.

"É uma crise por semana. Não faz oito dias que nós tiramos o ministro da Saúde porque o defeito dele era se exibir de um jeito que o presidente da República não gostava. E agora pelo amor de Deus, qual é a urgência de você trocar o chefe da Polícia Federal, Datena? Se o cara presta ou não presta, será que não era possível segurar as pontas? Nós estamos indo pro pico da pandemia, bota o cara pra fora. Aí o outro que é um juiz, que já trocou a toga pela política, o que já não me cheira bem, podia ter ficado se tivesse espírito público, o que não tem. Então por que as pessoas acham que eu tenho uma posição esquisita? Porque, nessa briga, eu tô pela briga", disse Ciro.

O deputado federal Marco Feliciano (sem partido), um dos principais defensores de Bolsonaro no Congresso, disse em entrevista à TV Bandeirantes que as falas de Moro o deixaram "preocupado" porque, segundo o congressista, as próprias acusações do agora ex-ministro contra o presidente seriam um "atestado" de que Moro "prevaricou".

"Agora a fala do presidente Bolsonaro, fiquei extremamente feliz porque ele se demonstrou muito equilibrado, fez revelações contundentes. Inclusive a última revelação que o presidente fez me deixou chocado, dizer que o ministro Sérgio Moro havia feito uma barganha com ele dizendo 'você segura o Valeixo até novembro e primeiro me nomeia ministro do STF'. Acho que nesse momento não era para isso estar acontecendo, acho que o Brasil todo devia estar focado na economia e na questão do coronavírus. Um soldado que deixa o campo de batalha no meio da batalha, com todo o respeito que eu tenho, a gente tem que desconfiar dele", disse Feliciano.

O senador Major Olímpio (PSL-SP) também participou do "Brasil Urgente" e comentou a acusação feita por Bolsonaro sobre Moro ter pedido uma vaga no STF.

"Eu não consigo crer, do que eu conheço o Moro até hoje, ele fazendo qualquer negociação por vaga no Supremo. Eu conversei já muito com esse cara de todas as formas, o cara mais desligado do mundo com qualquer expectativa de poder para qualquer coisa, então me causa uma agonia. Eu não consigo vislumbrar o Sergio Moro dentro de uma situação dessa. Eu espero que serenem os ânimos para os próximos dias", afirmou.

Moro saiu "atirando" do governo

O ex-juiz Sergio Moro declarou que Bolsonaro trocou o comando da PF para ter acesso a investigações e relatórios da entidade, o que é proibido pela legislação.

Em um pronunciamento forte (leia a íntegra), Moro procurou se distanciar de Bolsonaro e marcar posição. Disse que a mudança como foi feita é uma interferência política do presidente na PF e que o mandatário teme inquéritos que estão sendo avaliados pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

O ex-juiz federal era o principal nome do governo Bolsonaro. Tinha popularidade, segundo o Datafolha, mais alta que a do presidente. As taxas giram acima dos 50% de aprovação, enquanto a do presidente patina abaixo dos 40%.

A saída de Moro já provoca rachas em bancadas fiéis ao bolsonarismo, como a da segurança pública (também conhecida como "da bala"). As acusações feitas pelo ministro podem encaminhar processos no Congresso e no STF —como as sobre interferência política na PF e uma possível falsidade ideológica por constar o nome do ex-ministro na exoneração de Valeixo, que Moro nega ter assinado.

Bolsonaro contra-atacou Moro

Em pronunciamento no fim da tarde no Planalto, o presidente Jair Bolsonaro disse que Sergio Moro só pensa no próprio ego e não se importa com o bem dos brasileiros e do país. Negou ainda que tenha intenção de fazer qualquer interferência política na PF (Polícia Federal) ou que quisesse ter acesso a investigações sigilosas. As declarações foram dadas horas depois da demissão do ministro da Justiça e da Segurança Pública e da exoneração do diretor-geral da PF, Maurício Leite Valeixo.

Durante o discurso, Bolsonaro se queixou da lentidão da PF, sob comando de Valeixo e de Moro, na apuração do inquérito sobre a facada sofrida pelo então candidato à presidência na campanha eleitoral de 2018.