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Bolsonaro justifica seu impeachment sozinho, diz jornal inglês

Presidente Jair Bolsonaro - ADRIANO MACHADO
Presidente Jair Bolsonaro Imagem: ADRIANO MACHADO

Do UOL, em São Paulo

28/04/2020 11h47Atualizada em 28/04/2020 12h14

O jornal inglês Financial Times publicou hoje um editorial que fala sobre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O texto comenta sobre as demissões de ministros nos últimos dias, a forma como o presidente lida com a pandemia do novo coronavírus no país e diz que Bolsonaro está "justificando seu impeachment sozinho".

O texto foi nomeado como "A autodestruição do 'Trump Tropical'", em referência à proximidade de Bolsonaro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. De acordo com o editorial, até o momento, "Bolsonaro se mostrou resistente" e que seus principais apoiadores estão aderindo às suas ideias. No entanto, "ex-apoiadores das forças armadas estão ficando desconfortáveis. O congresso está começando a flexionar seus músculos. Há rumores de novas partidas ministeriais".

O jornal ainda diz que Jair Bolsonaro é "apaixonado por teorias da conspiração e "acusa repetidamente os oponentes de conspirar para derrubá-lo". E finaliza o texto com a frase: "A realidade é que o presidente do Brasil está justificando seu impeachment sozinho".

Demissão de ministros

O editorial também comenta a demissão do "respeitado" ex-ministro da Segurança, Sergio Moro, na última sexta-feira (24), e de Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde, no dia 16 deste mês.

De acordo com o jornal, a demissão de Moro pode ser considerada séria por dois motivos: o ex-ministro da Justiça era como "um herói para os apoiadores conservadores de Bolsonaro" e a fala de Moro durante discurso sobre as suas motivações para deixar o cargo. Entre os principais pontos da fala estão a decisão de trocar o então diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, e colocar alguém, segundo o jornal, "mais flexível, disposto a compartilhar informações sobre as investigações atuais".

"Os brasileiros suspeitam que as manobras de Bolsonaro visavam proteger seus filhos poderosos de processos em investigações que cobriam financiamento ilegal de campanhas e vínculos com paramilitares", diz o editorial.

De acordo com o Financial, se as acusações de Sergio Moro forem comprovadas "podem constituir motivos de impeachment" assim como ocorreu com a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016.

Pandemia do novo coronavírus

Para o jornal, o sentimento positivo com a chegada de Bolsonaro ao cargo de presidente em 2019 "evaporou-se em meio a uma tríplice crise: um aprofundamento da emergência de saúde pública, uma profunda recessão econômica e calamidade política".

O editorial diz que o presidente "apostou cada vez mais em negar a seriedade do coronavírus" e aponta que o Brasil testou poucas pessoas para a doença e que, portanto, os "números oficiais [de casos] não são confiáveis" e o pico da doença está por vir, mas "o sistema público de saúde já está com dificuldades".

Com relação à economia, o editorial informa que a economia dependente de mercadorias é "vulnerável" e o FMI (Fundo Monetário Internacional) "prevê que o PIB encolherá 5,3% este ano, muito pior que a África subsaariana".

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.