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Moro avisou Bolsonaro sobre operações contra ministro e lider do governo

O ministro Marcelo Álvaro Antônio, do Turismo, e o presidente Jair Bolsonaro - Marcos Corrêa-24.abr.2019/PR
O ministro Marcelo Álvaro Antônio, do Turismo, e o presidente Jair Bolsonaro Imagem: Marcos Corrêa-24.abr.2019/PR

Marcelo Oliveira

Do UOL, em São Paulo

05/05/2020 18h14Atualizada em 05/05/2020 20h47

Resumo da notícia

  • Em depoimento, Moro disse que informou sobre operações contra o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio
  • O ex-ministro contou também que informou Bolsonaro sobre a operação contra o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra
  • Segundo Moro, as informações foram prestadas após a realização das operações e sem comprometer dados sigilosos
  • Moro afirma que antecipava ao presidente apenas informações sobre casos em que era necessária ajuda dele, como na extradição do traficante Fuminho

O ex-ministro da Justiça Sergio Moro afirmou no depoimento que prestou à Polícia Federal (PF), no último sábado (2), que informou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre as buscas e prisões ocorridas nas investigações envolvendo o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, e o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE).

Antônio é citado no caso dos "laranjas do PSL". Bezerra é investigado por desvios nas obras de transposição do rio São Francisco, no período em que foi ministro do governo Dilma Rousseff (PT).

Segundo o depoimento do ex-ministro, ele prestava as informações ao presidente após a deflagração de "operações sensíveis", assim como foi feito por antecessores seus na pasta.

Moro afirma que fez isso várias vezes e que ele tem as mensagens de WhatsApp registrando essas conversas, e que as entregou à PF.

Leia a íntegra do depoimento de Moro.

Avisou antes sobre deportação de líder do PCC

Segundo Moro, em alguns casos específicos, ele comunicou o presidente antes de algumas "operações sensíveis" que exigiam apoio do presidente. De acordo com o depoimento, um desses casos foi o da expulsão do integrante do PCC Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, de Moçambique.

Moro relatou esses casos para contradizer as declarações de Bolsonaro de que o presidente não recebia relatórios de inteligência da Polícia Federal. O ex-ministro alegou que "informava as ações realizadas [pela PF], resguardado o sigilo das investigações".

PF não produz inteligência para a Presidência

Segundo Moro, a PF não é órgão de "produção direta de inteligência para a Presidência da República". De acordo com o depoimento, os dados do gênero eram compartilhados no SISBIN (sistema de informações de inteligência do governo) e que a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) compilava e organizava os dados e os apresenta ao presidente e que esses relatórios continham dados da PF.

De acordo com o ex-ministro, esse motivo exposto pelo presidente Bolsonaro não justificaria a demissão de Maurício Valeixo do cargo de diretor-geral da Polícia Federal que "lhe causou estranheza" que isso tenha sido apontado como motivo da demissão.

No depoimento Moro ainda abordou o interesse do presidente em trocar o chefe da PF no Rio de Janeiro, a desautorização de Bolsonaro após Moro nomear uma conselheira, o processo de "fritura" do último diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, e a reclamação do mandatário sobre as investigações da facada que levou durante a campanha eleitoral.