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PF prende Fuminho, braço direito de Marcola, em Moçambique

Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho - Reprodução/Ministério da Justiça
Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho Imagem: Reprodução/Ministério da Justiça

Luís Adorno e Flávio Costa

Do UOL, em São Paulo

13/04/2020 14h17

Resumo da notícia

  • Foragido há 21 anos, Fuminho era apontado como peça-chave do PCC
  • Traficante é amigo de infância e ficou preso com Marcola, em 1998
  • Fuminho é apontado como principal "sócio" do PCC em liberdade
  • Após fugir da prisão, ele se refugiu na Bolívia e no Paraguai
  • Policiais federais dizem que ele foi recentemente para Moçabique
  • Ele escolheu o país africano para viver pela facilidade da língua portuguesa

A PF (Polícia Federal) prendeu hoje Gilberto Aparecido dos Santos, 49, o Fuminho, o criminoso mais procurado do Brasil, em Moçambique, na África. Ele estava foragido há 21 anos.

Em nota, a PF informou que Fuminho "era considerado o maior fornecedor de cocaína a uma facção com atuação em todo o Brasil, além de ser responsável pelo envio de toneladas da droga para diversos países do mundo".

De acordo com o Ministério da Justiça, Fuminho atuava em todos os estados do país e no Mercosul. "Crimes de tráfico de drogas, contra o patrimônio e de financiamento para fuga de líderes de organizações criminosas.

Investigações da Polícia Civil e do MP (Ministério Público) paulista apontam que Fuminho, em liberdade, era o principal braço direito de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola.

Apesar de ser aliado de Marcola, principal chefe do PCC, que está preso em Brasília, investigadores e pesquisadores dizem que Fuminho não é integrante da facção paulista, apenas sócio.

Fuminho fugiu da prisão em 1998, no mesmo dia que Marcola também fugiu, e se abrigou no Paraguai e na Bolívia.

Membros da cúpula da PF afirmaram à reportagem no ano passado que a prisão de Fuminho estava próxima. Para policiais civis de São Paulo, o traficante, que estava baseado na Bolívia, costumava viajar constantemente ao Brasil por negócios.

Policiais federais também disseram para a reportagem que Fuminho foi recentemente para Moçambique e que escolheu o país para ficar por um período pela facilidade de se comunicar, já que lá se fala em português.

A prisão dele do traficante foi comandanda pelo coordenador geral de Repressão a Drogas e Facções Criminosas da PF, delegado Elvis Secco. A reportagem não localizou a defesa de Fuminho.

Para Rafael Alcadipani, professor de Gestão Pública da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e especialista do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, "a prisão do Fuminho é um terremoto para o equilíbrio interno do PCC e pode afetar o controle do PCC na importação de parte da cocaína para o Brasil. Deve haver uma longa acomodação a esta situação com muitas consequências para o crime organizado no Brasil".

Fuminho comandou assassinato de "número 2"

De acordo com um relatório sigiloso do Núcleo Regional de Inteligência e Segurança Penitenciária da Croeste (Coordenadoria das Unidades Prisionais da Região Oeste do Estado de São Paulo), revelado pelo UOL, Fuminho foi o responsável por comandar o assassinato de Rogério Jeremias de Simone, 41, o Gegê do Mangue, em fevereiro de 2018.

Segundo o documento, em 1º de fevereiro de 2017, ao deixar a prisão, Gegê do Mangue prometeu resgatar Marcola, que estava detido na penitenciária dois de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo. "Gegê passou a ser a principal liderança da facção em liberdade, assumindo o controle de todas as atividades criminosas do grupo", diz o documento.

"Teria prometido, no momento de sua liberdade, que iria resgatar Marcola, com quem possuía uma imensa dívida de gratidão. Teria dito que Marcola não precisava fazer nada relacionado ao plano, pois toda a execução seria feita por ele. Porém, não o fez, e aproveitando-se do fato de ser a principal liderança em liberdade, voltou todos os seus esforços para o tráfico de drogas em benefício próprio, porém, utilizando a estrutura da facção", complementa o relatório.

Ainda de acordo com o documento, "após ficar um ano em liberdade e nada fazer em prol da facção, nem tampouco organizar a ação de resgate, Gegê foi assassinado a mando de Gilberto Aparecido dos Santos, vulgo Fuminho, um dos maiores traficantes de drogas brasileiro e amigo de infância de Marcola".

"Fuminho teria percebido que Gegê não tinha interesse algum na liberdade de Marcola, pois, uma vez resgatado, Gegê passaria a ser um coadjuvante na facção e Marcola descobriria as diversas irregularidades praticadas por ele", indica a investigação.

Com um único tiro no rosto, Gegê do Mangue foi assassinado ao lado de seu comparsa Fabiano Alves de Souza, o Paca, 38, em 15 de fevereiro de 2018. O duplo homicídio gerou uma guerra interna na maior facção criminosa do país, cujos efeitos se fazem sentir até hoje.

Responsável por executar o plano organizado por Fuminho, o traficante Wagner Ferreira da Silva, o Cabelo Duro, foi morto a tiros uma semana depois do crime, a tiros de metralhadora, em São Paulo. Fuminho é um dos denunciados pelos homicídios ocorridos no Ceará. Ele é réu.

Comandante da fronteira

Fuminho, na verdade, era chamado por seus parceiros de crime como "Fininho", por ser magro. Um comunicado entre presos que o mencionava, no entanto, foi mal interpretado pelas autoridades de segurança e o nome dele passou a ser mencionado como Fuminho entre as autoridades policiais.

Além de amigo de infância de Marcola, ele ficou preso junto com o principal chefe do PCC ainda no interior de São Paulo. Homem de confiança, Marcola negociava diretamente com Fuminho a importação de drogas, sobretudo cocaína e maconha, de países produtores vizinhos para o Brasil.

Fuminho tinha carta branca da cúpula do PCC para determinar ações na fronteira, como, por exemplo, nomeações de chefes, assaltos a bancos e até mesmo a resgates de prisões, nos moldes do que ocasionou na saída de 75 presos em Pedro Juan Cabellero, no Paraguai, em janeiro deste ano. Segundo a polícia paraguaia, essa fuga custou ao menos R$ 6 milhões à facção.

Além disso, Fuminho era peça-chave nos negócios entre o PCC e a máfia italiana 'Ndrangheta. Investigação europeia aponta que Domenico Pelle, apontado como o principal chefe da máfia na Itália, esteve em São Paulo para negociar drogas pessoalmente com lideranças do PCC pelo menos duas vezes, entre 2016 e 2017, entre eles, Fuminho. Pelle foi preso na Europa em dezembro de 2018.

Policiais civis estimam que a investigação chegou até Fuminho após a prisão de André de Oliveira Macedo, o André do Rap, em setembro do ano passado. Ele era a ponte direta entre Fuminho e a máfia italiana na Baixada Santista. O local é extremamente estratégico para a facção, uma vez que a droga que é exportada para a Itália parte do porto de Santos.

Ouça também o podcast Ficha Criminal, com as histórias dos criminosos que marcaram época no Brasil. Esse e outros podcasts do UOL estão disponíveis em uol.com.br/podcasts, no Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e outras plataformas de áudio.