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Marco Aurélio diz que temeu eleição de Bolsonaro, mas espera que ele acerte

Do UOL, em São Paulo

06/05/2020 12h18Atualizada em 06/05/2020 13h53

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Marco Aurélio Mello afirmou hoje que temeu a eleição do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em 2018, mas que agora torce para que ele "acerte" em suas decisões ao longo do mandato.

Em entrevista por videoconferência ao colunista do UOL Josias de Souza nesta manhã, o ministro disse que expressou sua preocupação ao participar de um seminário na Universidade de Coimbra, em Portugal. Na ocasião, respondeu a uma pergunta sobre a possível eleição de um líder populista de direita.

Disse [à época] temer muito a eleição do então deputado Jair Bolsonaro como presidente da República, mas houve uma escolha da maioria dos eleitores e ele foi eleito. Agora temos que observar o desenrolar do mandato e que ele acerte.

Questionado sobre qual conselho daria ao presidente, Marco Aurélio afirmou que diria para Bolsonaro se resguardar mais, pois estaria desgastando sua imagem a cada dia, e que só apareça para falar com a população brasileira quando for realmente indispensável.

Não compreendo que ele, todo dia ao deixar o Palácio da Alvorada, esteja descendo da viatura que o conduz para conversar como se fosse um cidadão comum, como se estivesse em um bar, para conversar com os populares que ficam aglomerados ali no Palácio da Alvorada. Dia a dia vem se desgastando e isso não é bom.

O ministro ainda avaliou negativamente a influência dos filhos políticos de Bolsonaro: o senador Flávio, o deputado federal Eduardo e o vereador do Rio, Carlos.

"O mais interessante é que os três filhos têm mandato. Por que simplesmente não cumprem esse mandato e deixam o pai trabalhar aqui em Brasília?", disse. "Sabemos que não é bom esse entrelaçamento — não vou falar em promiscuidade — em ter-se a família atuando junto ao dirigente maior."

"Gripezinha" é negar a realidade, diz ministro

Na entrevista, Marco Aurélio Mello fez diversas críticas a comportamentos recentes de Bolsonaro, entre elas a minimização da pandemia do novo coronavírus, declarações grosseiras e apoio a atos antidemocráticos.

Quando o presidente diz que se trata apenas de uma 'gripezinha', ele evidentemente não reconhece a realidade e, de certa forma, influencia certos segmentos. Vejo e ouvi de um integrante do Ministério da Saúde que não chegamos ao pico. Que teremos esse pico somente em junho e julho. As pessoas hoje já estão baixando a guarda, já não estão mantendo a cautela que deveriam manter.

O ministro ainda classificou como "um arroubo de retórica indevido" a fala do presidente, que disse recentemente "eu sou a Constituição".

"A leitura foi péssima", analisou Marco Aurélio. "Eu sou um dos guardas da Constituição, mas não posso dizer que sou a Constituição. Ela é um documento abstrato com concretude maior. Foi um arroubo de retórica indevido feito pelo presidente."

Questionado sobre a participação de Bolsonaro em ao menos duas manifestações ocorridas em Brasília entre cujas bandeiras estavam o fechamento do Congresso e do STF, Marco Aurélio afirmou que falta "temperança" ao presidente.

"A sinalização em si não é boa, quando o presidente da República se engaja numa manifestação contra instituições que devem ser, na República, perenes, como são o congresso nacional e o próprio STF. Creio que está na hora de ter uma temperança maior, perceber-se que atos são vistos e têm reflexos na vida nacional. E que acabam gerando uma insegurança jurídica muito grande para a sociedade", disse o ministro.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.