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Crivella se opõe a decreto de Bolsonaro, apesar de sonhar com apoio

O prefeito do Rio, Marcelo Crivella Republicanos - Saulo Angelo/Futura Press/Estadão Conteúdo
O prefeito do Rio, Marcelo Crivella Republicanos Imagem: Saulo Angelo/Futura Press/Estadão Conteúdo

Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

12/05/2020 13h01

Apesar de sonhar o apoio expresso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nas eleições desse ano, quando tentará a reeleição para a Prefeitura do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republicanos) informou que o município não seguirá a determinação do Governo Federal de incluir academias de ginástica, salões de beleza e barbearias entre os serviços considerados essenciais e que, por isso, podem funcionar durante a pandemia do novo coronavírus.

Em nota, Crivella afirmou que "as medidas da Prefeitura são tomadas com a comunidade científica, conforme a análise das curvas de avanço da doença. Ciente da prerrogativa de cada estado e município analisar suas respectivas situações, o município mantém tais atividades fechadas". A decisão vai contra a movimentação de Crivella nos últimos meses.

De olho no apoio do presidente e do mesmo partido do vereador Carlos Bolsonaro e do senador Flávio Bolsonaro (ambos do Republicanos-RJ), o prefeito vem agindo em alinhamento com Bolsonaro e evitando de opôr às declarações dadas em Brasília.

Para não se comprometer, ele já assinou decretos que flexibilizaram a quarentena para determinados segmentos empresariais, em aceno a Bolsonaro, e fez questão de relativizar falas do presidente consideradas "pouco humanitárias".

Em troca, Crivella tem sido poupado das críticas, que atingem contudo o governador fluminense, Wilson Witzel (PSC), em razão de sua política de isolamento.

Em São Paulo, por exemplo, o prefeito da capital, Bruno Covas, tem sido atacado na mesma medida que o governador do estado, João Doria (ambos do PSDB).

Em 30 de abril, o prefeito do Rio estendeu até 15 de maio a quarentena no município, que determina o fechamento de escolas e parte do comércio. No momento, doze bairros da capital fluminense contam com bloqueios para diminuir a circulação de pessoas e veículos por determinação da Prefeitura.

Witzel também se opõe a decreto

O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), também usou a publicação do decreto para criticar de Bolsonaro diante da pandemia do coronavírus. Desta vez, o governador afirmou que Bolsonaro "caminha para o precipício e quer levar com ele todos nós".

Witzel falou ainda que o decreto do governo, que incluiu academias de ginástica, salões de beleza e barbearias entre os serviços considerados essenciais, é uma "irresponsabilidade", anunciando que nenhuma restrição será flexibilizada no estado.

Ao rejeitar a abertura do comércio, Witzel segue as decisões de outros governadores que já resolveram "ignorar" a medida.

Coronavírus no Rio

O Rio de Janeiro é o segundo estado do país com maior número de casos de coronavírus, atrás apenas de São Paulo. Até o momento, a Secretaria de Estado de Saúde informou que o Rio tem 17.939 casos confirmados e 1.770 óbitos por coronavírus.

Há ainda, segundo o governo estadual, 849 óbitos em investigação. Até o momento, entre os casos confirmados, 11.654 pacientes se recuperaram da doença.

A capital (10.619 casos) lidera o ranking de pessoas contaminadas no estado, seguido de Duque de Caxias (796) e Niterói (779).

"Fazer o cabelo é questão de higiene", disse presidente

Ao deixar o Palácio da Alvorada na tarde de ontem (11), o presidente justificou o decreto publicado em edição extra do Diário Oficial da União afirmando que "saúde é vida".

"Academia é vida. As pessoas vão aumentando o colesterol, têm problemas de estresse. [Com as academias] vão ter uma vida mais saudável", disse. "A questão do cabeleireiro também. Fazer cabelo e unhas é questão de higiene."

Com a ampliação, a lista de atividades definida pelo decreto 10.282, de 20 de março, passa a contemplar 57 setores. No último dia 7, após seguir a pé com empresários e ministros rumo ao STF (Supremo Tribunal Federal) para debater o impacto econômico da pandemia, o presidente incluiu a construção civil e atividades industriais na mesma classificação.

Decisão sobre isolamento cabe a estados e municípios

A publicação no Diário Oficial ocorreu um dia depois de declarar a apoiadores, no domingo (11), que iria ampliar a lista de setores tidos como essenciais — e que, assim, podem funcionar a despeito das medidas de distanciamento social.

"Vou abrir, já que eles não querem abrir, a gente vai abrindo aí." A fala é mais uma da série de indiretas que o presidente vem feito, desde o início da pandemia, contra governadores e prefeitos que adotam medidas de isolamento social.

Ainda em março, Bolsonaro anunciou que tinha planos de publicar um decreto liberando o retorno de trabalhadores formais e informais às atividades.

"Estou com vontade de baixar um decreto amanhã. Toda e qualquer profissão legalmente existente ou aquela que é voltada para a informalidade, se for necessária para levar sustento para seus filhos, para levar um leite para seus filhos, arroz e feijão para sua casa, vai poder trabalhar", disse em 29 de março.

Cerca de duas semanas depois, uma decisão do STF esvaziou os poderes do presidente ao definir que cabe aos governadores e prefeitos a tomada de decisões a cerca de medidas de restrição de circulação para frear as contaminações pela covid-19.

Sem poder para suspender as medidas de isolamento social, o presidente passou, então, a afirmar que ele era "inútil" pois "70% da população vai ser infectada".

O distanciamento social é defendido pela OMS não por evitar contaminações, mas por desacelerar o contágio e reduzir a pressão sobre os serviços de saúde, dando aos governos "tempo extra" para enfrentar a pandemia.