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Preso no Rio, empresário ligado a Witzel mantém contratos com governo

14.mai.2020 - Operação Favorito foi deflagrada pela PF no Rio, que investiga suspeita de fraude na área da saúde - DIKRAN JUNIOR/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
14.mai.2020 - Operação Favorito foi deflagrada pela PF no Rio, que investiga suspeita de fraude na área da saúde Imagem: DIKRAN JUNIOR/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

14/05/2020 12h29

Preso preventivamente pela PF (Polícia Federal) no Rio na manhã de hoje, o empresário Mário Peixoto é suspeito de envolvimento em fraudes na área da saúde, em meio à pandemia do coronavírus, segundo investigação da Lava Jato.

Contratos relacionados à construção de hospitais de campanha do governo fluminense teriam sido usados pelo principal fornecedor de mão de obra do estado para lucrar, de acordo com o MPF (Ministério Público Federal). Outras quatro pessoas foram presas na operação de hoje, entre elas, o ex-presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) Paulo Melo (MDB).

A relação estreita entre Peixoto e o governador Wilson Witzel (PSC), no entanto, é questionada desde as últimas eleições e segue levantando suspeitas. Principal fornecedor de mão de obra do estado, Peixoto é associado à ingerência em secretarias do governo e nomeações estratégicas em empresas públicas durante o atual mandato. Ele mantém contratos com a atual gestão.

Antes mesmo de chegar ao Palácio Guanabara, Witzel já era indagado por adversários sobre a proximidade com o empresário que possui mais de R$ 1 bilhão negociado com o governo desde 2007 e é citado em delação premiada do ex-presidente do TCE (Tribunal de Contas do Estado) Jonas Lopes.

O atual secretário de Desenvolvimento Econômico e Geração de Emprego e Renda do Rio, Lucas Tristão, seria o elo entre Peixoto e Witzel. Ex-aluno do governador e advogado especializado no setor empresarial, Tristão chegou a defender Witzel em processos judiciais e foi seu coordenador de campanha.

O advogado capixaba também representou a empresa Atrio Rio, ligada ao empresário Mário Peixoto. Durante a campanha eleitoral, adversários chegaram a apontar que Peixoto teria escrito o plano de governo apresentado por Witzel ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Além de negar a informação, o então candidato chegou a emitir um comunicado dizendo: "Tristão é meu advogado e não tenho qualquer controle sobre os outros clientes dele."

Nos bastidores do Palácio Guanabara, comenta-se que Peixoto e Tristão disputam com o Pastor Everaldo —presidente do PSC no Rio— o comando de secretarias do estado e as nomeações de cargos comissionados em empresas públicas.

Em um dos episódios mais emblemáticos dessa relação, em janeiro, durante a crise da água envolvendo a Cedae (Companhia de Águas e Esgotos), uma indicação de Tristão para assumir o cargo de conselheiro da Agenersa (Agência Reguladora de Energia e Saneamento) jogou luz sobre os critérios adotados para seleção de comissionados.

Em sabatina, o então indicado para o cargo, Bernardo Sarreta, assumiu não saber qual seria o papel de uma agência reguladora, reconheceu não ter realizado leituras técnicas sobre o tema e jamais ter pisado da Estação de Tratamento do Guandu.

Depois da negativa da comissão, caberia ao plenário da Alerj votar pela aprovação, ou não, do nome de Sarreta. Antes que a votação fosse iniciada, Witzel retirou a indicação que havia sido feita pelo secretário.

A relação entre Witzel e Tristão também parece ser antiga. Um registro do Facebook do senador eleito pelo Rio de Janeiro Flávio Bolsonaro (Republicanos) mostra os três reunidos em 2017.

"Recebi hoje o Dr. Wilson Witzel, presidente da Associação dos Juízes Federais do RJ e ES, e o advogado Lucas Tristão. Além da política nacional, a conversa foi em torno da possibilidade de juízes e promotores se candidatarem a cargos eletivos. O que você acha?", questionou Bolsonaro na ocasião.

Relação estreita com Pezão e Cabral

Em 2017, Jonas Lopes citou em depoimento à Procuradoria que Mário Peixoto era responsável pelo pagamento de R$ 200 mil em mesada a conselheiros do TCE responsáveis por aprovar as contas das OSs (Organizações Sociais) que controlavam unidades de saúde no estado durante as gestões de Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão (ambos do MDB).

As relações de Peixoto com agentes públicos suspeitos de corrupção são alvo de questionamento desde que o ex-governador do Rio Anthony Garotinho divulgou fotos do seu casamento, realizado na Itália, ao lado de figuras do alto escalão da política fluminense. Entre os presentes, estão os deputados Jorge Picciani e Paulo Melo.

As empresas de Peixoto administram serviços diversos para o poder público —limpeza, segurança, contabilidade e gestão operacional estão entre as suas atividades.

A reportagem do UOL não localizou a defesa do empresário Mário Peixoto.

O governo Wilson Witzel ainda não se manifestou sobre a operação da PF realizada hoje.