Acusado de não dialogar, Bolsonaro chega a 500 dias cercado por "5 vozes"
Em 500 dias de governo completados ontem, Jair Bolsonaro (sem partido) foi reprovado em alguns momentos e acusado de não dialogar com os demais atores políticos. Por outro lado, em seu círculo de poder, o mandatário convive com "vozes" de cinco núcelos que têm relação direta com suas decisões.
Família
Nesse contexto estão inseridos os filhos, em especial Carlos Bolsonaro (Republicanos), vereador no Rio de Janeiro, e Eduardo, deputado federal pelo PSL-SP.
O primeiro chegou a ter um gabinete informal instalado dentro do Palácio do Planalto. Na ausência de Fábio Wajngarten, que foi contaminado pelo coronavírus e precisou ficar em isolamento, ele atuou praticamente como chefe de comunicação do governo entre o fim de março e meados de abril.
Já Eduardo está com o pai praticamente o tempo todo. Na condição de parlamentar, ele faz a ponte entre o presidente e a bancada bolsonarista que segue filiada ao PSL — partido com o qual o presidente rompeu em novembro do ano passado. Segundo auxiliares que vivem a rotina do Planalto, o congressista é também uma espécie de conselheiro para assuntos internacionais.
O irmão Carlos, por sua vez, prefere atuar nos bastidores. Aficionado pelas redes sociais, é tido pelo pai como um "estrategista", o que garantiu a ele uma função de liderança em relação ao chamado "gabinete do ódio" — núcleo formado por assessores com a missão de detratar adversários por meio de ações virtuais, como a criação de fake news.
Em várias oportunidades, Bolsonaro declarou a interlocutores, em tom de gratidão, que Carlos teve participação crucial na campanha vitoriosa da eleição em 2018.
Elogiosamente, o presidente costuma atribuir ao vereador a capacidade de conectar suas ideias a grupos bolsonaristas, que atuam na internet como multiplicadores ideológicos.
Um aliado do governo afirmou ao UOL considerar que, em determinados temas, Bolsonaro ouve mais os filhos do que os ministros que compõem a sua equipe.
Exemplo disso teria sido, de acordo com o relato, o incentivo à cloroquina como estratégia para enfrentar a pandemia do coronavírus. Até hoje, há informações preliminares promissoras, mas nenhum estudo científico que comprove a eficácia da substância.
A discussão sobre a defesa da cloroquina e a cruzada contra governadores e as medidas restritivas para impedir o alastramento ainda mais intenso do vírus já derrubou dois ministros, entre os quais Nelson Teich, que pediu demissão ontem. O primeiro foi Luiz Henrique Mandetta (DEM).
Olavismo e as redes sociais
Uma das vozes constantes, com papel ativo no governo, é a dos seguidores do ideólogo conservador de extrema-direita Olavo de Carvalho.
Além de ter designado "olavistas" para vários cargos dentro do Planalto e de escalões diferentes na estrutura do Executivo federal, Bolsonaro costuma interagir com esse público por meio da internet.
Um dos hábitos do presidente é acompanhar com atenção os comentários nas redes sociais. Críticas em geral costumam ser motivo de grande irritação. Ele também está em grupos de WhatsApp e usa a interação com a massa de apoiadores como uma espécie de termômetro político.
Militares
Núcleo que forma a espinha dorsal da estrutura de governo, os militares representam hoje o lastro da gestão Bolsonaro, segundo avaliações e comentários ouvidos pela reportagem.
De acordo com assessores, não fossem os generais que atuam no entorno do presidente dando conselhos e apagando incêndios, as crises que se sucederam no Planalto desde janeiro de 2019 teriam consequências mais graves.
'Posto Ipiranga'
O ministro da Economia, Paulo Guedes, também já se viu no papel de pressionar Bolsonaro a tomar determinadas decisões que, segundo o entendimento da equipe econômica, eram as mais corretas.
Muitas vezes a contragosto do presidente, como no episódio do reajuste a servidores no pacote de socorro a estados e municípios impactados pela crise decorrente do coronavírus.
Os principais momentos de tensão ocorreram no contexto do relacionamento entre o Executivo e o Congresso, onde deputados e senadores discutem e aprovam ou não pautas econômicas.
O desgaste se intensificou em 2020 e, em 27 de abril, o mandatário precisou aparecer em público, ao lado do ministro, para garantir que o ministro não desembarcaria do governo. A decisão acalmou os ânimos do mercado financeiro, que teme que uma eventual saída de Guedes inviabilize a sonhada agenda de reformas. Houve rumores de que ele poderia pedir demissão.
Centrão
O centrão, bloco informal composto por partidos que costumam remar de acordo com a maré política, foi a mais recente adesão ao grupo de "vozes" que orbitam o governo Bolsonaro.
O grupo atuante dentro do Congresso tem cerca de 200 deputados e é tido como indispensável para assegurar os interesses do governo em votações no Parlamento.
O centrão se aproximou de Bolsonaro depois que ele percebeu um isolamento político crescente, tanto em razão de manifestações políticas — como o episódio em que discursou em um ato em defesa de um golpe de estado — quanto pela saída sucessiva de ministros. Além disso, na esteira dos atritos e declarações polêmicas do mandatário, surgiram mobilizações pró-impeachment.
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