Blefando, Bolsonaro acha que vai fazer o Supremo se ajoelhar, diz Zé Dirceu
O ex-deputado federal (PT-SP) e ex-ministro da Casa Civil do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) José Dirceu afirmou hoje, em participação no UOL Entrevista, que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) acha "que vai fazer o Supremo Tribunal Federal (STF) se ajoelhar". A conversa foi conduzida pelo colunista do UOL Tales Faria.
Para Dirceu, o flerte de Bolsonaro com medidas autoritárias, como sua declaração que "acabou" o espaço para ações do STF contra seu governo, seria um "blefe" e teria a resistência da sociedade civil.
"Ano passado, ele aparelhou Receita, Coaf e MP [Ministério Público]. Agora, ele aparelhou a Polícia Federal. Ele vai para cima da imprensa. A oposição, ele não reconhece legitimidade. Por ele, a esquerda estava presa, assassinada, torturada, banida do Brasil", afirma Dirceu.
"Agora, ele faz uma operação para neutralizar a Câmara e o Supremo. Está na expectativa de nomear um ministro [no STF] e, com pressão, no grito, blefando, ele acha que vai fazer o Supremo se ajoelhar para ele, se humilhar para ele", acrescentou.
O ex-ministro também ironizou a fala do presidente Bolsonaro nesta semana em que ele sugeria a limitação do inquérito das fake news comandado pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
"Vai fazer o quê? Fechar o Supremo, mandar prender os ministros?", indagou Dirceu.
Intervenção militar é insustentável, avalia Dirceu
O político afirmou ainda que é "insustentável" a interpretação de Bolsonaro para o artigo 142 da Constituição, que autoriza o emprego das Forças Armadas para a garantia da "lei e da ordem".
Para Dirceu, a inclusão desse dispositivo na Constituição foi um equívoco. "Eu já conversei com outros constituintes, [o artigo] foi um erro porque a tutela militar nunca deixou de existir no Brasil", ele afirma.
O petista diz não ver atualmente disposição nos quartéis para apoiar um golpe, mas lembra que os militares sempre atuaram como um "instrumento político" na história do país.
"Espero que o Exército não esteja disposto a apoiar uma ditadura no Brasil", diz Dirceu.
União política pelo impeachment
O ex-deputado defendeu ainda a união de forças políticas em torno do impeachment de Bolsonaro, com o objetivo de evitar uma "tragédia" no país.
A aliança, no entanto, não teria como objetivo as eleições de 2022. Para as próximas eleições presidenciais, Dirceu afirma que Lula e o PT têm defendido o apoio a um nome de centro-esquerda.
"Proponho aliança para tirar o Bolsonaro, não para 2022. Teremos um candidato de centro-esquerda, seja quem for: Ciro, [Fernando] Haddad, Rui Costa, Flávio Dino. O Lula já disse que não quer ser candidato", falou Dirceu, com a ressalva de que não falava em nome do PT.
"Para enfrentar Bolsonaro, todos têm de se unir: Lula, Ciro... Por mais que haja divergência, se queremos impedir o pior para o Brasil, uma tragédia nacional", disse o ex-deputado.
"Centrão é Cavalo de Troia"
Dirceu listou feitos do governo do PT para falar que Bolsonaro tenta se aproximar do centrão pensando em proteger seus familiares.
"O que fizemos com as maiorias foram reformas tributárias, do Judiciário, previdenciário, Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida, Prouni, tiramos 40 milhões da pobreza. O Bolsonaro faz isso para se proteger, para não ter pedido de licença para ser processado ou para não ter impeachment, para proteger a família, os filhos, para se proteger", disse.
O ex-ministro ironizou a suposta volatilidade do apoio dos partidos do centrão ao governo Bolsonaro —"eles são um Cavalo de Troia"— e disse acreditar que o ex-ministro Sergio Moro terá dificuldades para se tornar uma liderança política nacional.
"O Moro vai virar comentarista de operação policial. Não digo que ele não tem apoio, que não seja legítimo ele querer ser candidato, mas não vejo nele as condições de uma grande liderança carismática", defendeu Dirceu.
Mensalão e Lava Jato
Condenado no mensalão e na operação Lava Jato, Dirceu voltou a criticar os processos de que foi alvo e disse ter sido preso ilegalmente como forma de forçá-lo a fazer uma delação premiada.
"Eu nunca obstruí a justiça, sempre me apresentei. Não foi crime hediondo, por que eu tinha que ficar preso? Para delatar", afirmou Dirceu.
"Eu fique sabendo pelo Jornal Nacional que eu estava sendo investigado, meu sigilo fiscal já estava na internet e eu já era acusado de ter lavado dinheiro e de corrupção", disse.
"Daí foi um massacre até eu ser preso em 2015. Estando preso, eu fui preso de novo. Por quê? Para tentar levar para o regime fechado e (fazer) a delação", acrescentou.
Sobre o mensalão, o ex-ministro disse ter sido condenado "politicamente".
"O que houve foi caixa dois para a campanha eleitoral, e eu nunca tive participação nenhuma. Fui condenado politicamente", afirmou Dirceu
Participaram dessa cobertura Beatriz Sanz, Emanuel Colombari, Felipe Amorim, Gustavo Setti e Talyta Vespa (redação) e Diego Henrique de Carvalho (produção).
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