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Desgastado, comando do MEC deixa de ser alvo de cobiça do Congresso

Ministro da Educação, Abraham Weintraub, na Câmara dos Deputados -
Ministro da Educação, Abraham Weintraub, na Câmara dos Deputados

Guilherme Mazieiro e Carla Araújo

Do UOL, em Brasília

05/06/2020 04h00Atualizada em 05/06/2020 22h25

Resumo da notícia

  • Ministro da Educação se desgastou com o Congresso, STF e setores do governo Bolsonaro
  • Apesar de critica desempenho de Weintrub, partidos não se movimentam para emplacar novo nome
  • Alvo de assédio de políticos, fundo bilionário da Educação já teve diretoria entregue a indicado do centrão
  • Há entendimento de que quem assumir pasta pode ter poderes limitados junto a área ideológica do governo

O comando do MEC (Ministério da Educação), uma das principais vitrines do governo federal, parece ter deixado de despertar interesse de partidos do Congresso. Apesar da pressão pela saída do ministro Abraham Weintraub virem do Parlamento e de dentro do governo Jair Bolsonaro (sem partido), não há, por ora, nomes com intenção de disputar o cargo.

Um dos principais atrativos da pasta, o FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) está nas mãos de Marcelo Lopes, indicado pelo PP. Já a direção de Ações Educacionais ficou com Garigham Amarante Pinto, indicado por Valdemar Costa Neto, do PL, em meio às negociações abertas pelo Planalto em troca de apoio de partidos no Congresso.

Com o orçamento de R$ 55 bilhões do órgão é possível chegar a todos municípios do país e controlar a execução de quase todos os projetos, da merenda, livro didático, ao transporte público e informatização.

"Não é um lugar cobiçado do ponto de vista político. Porque houve uma desconstrução da pasta. Ele desenvolve um personagem. A luta dele na educação é a luta ideológica e acho que é o que mantém até hoje e não permite construir nenhum diálogo", disse a deputada Professora Dorinha (DEM-TO).

A pasta recebe críticas de parlamentares, especialistas e estudantes por ter demorado a adiar o Enem, por não haver participação nas discussões do Fundeb (fundo de financiamento da educação básica) e pela falta de diálogo com setores da educação.

O deputado Roberto de Lucena (Pode-SP) esteve em reunião com o ministro na última quarta-feira (3) e relatou que Weintraub não sinalizou vontade de deixar a pasta.

"Eu apoio o ministério, o MEC. Entendo que ele [Weintraub] tem se esforçado, é bom executivo. Um dos que mais atendem aos parlamentares e tem feito bom trabalho. O reconheço como ministro que trabalha e corresponde às expectativas propostas pelo presidente da República", disse Lucena.

No DEM, que durante o governo Michel Temer comandou a pasta com Mendonça Filho, a situação é de "manter distância" do MEC. "Está tudo confuso demais e sem rumo", afirmou um político do partido.

A avaliação que está sendo feita no partido, além de enxergar como ruim a atual situação do MEC, é que o momento não é para se atrelar ao governo de Bolsonaro, muito menos com um cargo no primeiro escalão. Reservadamente, um interlocutor do DEM disse que o partido não quer se misturar com centrão e o com o que chamou de um "governo sem direção".

Apesar dos rumores sobre a possível saída de Weintraub serem frequentes no Palácio do Planalto, o depoimento de ontem na PF, o comparecimento de apoiadores, que chegaram a carregar o ministro nos braços, e a manifestação pública dos filhos do presidente reforçam, por enquanto, a posição dele no comando da pasta.

Assim que virou uma espécie de centro da confusão fo governo com o STF, Weintraub chegou a ter sua saída calculada, embora o presidente já tenha afirmado que ele, pessoalmente, não vai abandonar o ministro e que "quer ele no seu time independente de qual posição".

os conselheiros políticos do presidente avaliam que, se o ministro sair, o governo terá mais condições de minimizar seus problemas perante o STF (Supremo Tribunal Federal) e o Congresso Nacional.

Líderes governistas ouvidos ontem pelo UOL disseram reservadamente que a saída de Weintraub seria vista como uma deferência ao Congresso.

Na vitrine

Internamente, no MEC, o ministro tem dito que não pretende e não pedirá para sair. O descontentamento com Weintraub aumentou após a divulgação do vídeo da reunião de 22 de abril, quando defendeu a prisão dos "vagabundos" do STF (Supremo Tribunal Federal).

Fora este caso, que incluiu Weintraub no inquérito das fake news, ele também está na mira de uma investigação que apura eventual crime de racismo em uma mensagem sobre a China publicada em rede social e depois apagada. Neste último caso, prestou depoimento ontem à Polícia Federal.

"Geopoliticamente, quem podeLá saiL foLtalecido, em teLmos Lelativos, dessa cLise mundial? PedeLia seL o Cebolinha? Quem são os aliados no BLasil do plano infalível paLa dominaL o mundo? SeLia o Cascão ou há mais amiguinhos?", postou, numa insinuação de que a China poderia ter se beneficiado na crise do coronavírus.

Na época, a Embaixada da China no Brasil repudiou a mensagem.

Após sair da PF, com megafone nas mãos fez um breve discurso a apoiadores mais alinhados ideologicamente a ele. É junto a esse grupo que o ministro tenta apoio para permanecer pasta e aceitação junto aos filhos de Bolsonaro.

Errata: este conteúdo foi atualizado
A primeira versão do texto trouxe a informação equivocada de que Garigham Amarante Pinto era diretor do FNDE. O correto é que ele ocupa a direção de Ações Educacionais. Já o comando do FNDE está com Marcelo Lopes, conforme já consta desta versão.