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Se Weintraub cair, Bolsonaro minimiza crise com STF e Congresso

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sentados lado a lado - Pedro Ladeira/Folhapress
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sentados lado a lado Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

05/06/2020 02h00

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, não quer deixar o governo. Tem festejado reservadamente as manifestações dos filhos do presidente Jair Bolsonaro para permanecer no cargo.

Mas os conselheiros políticos do presidente avaliam que, se o ministro sair, o governo terá mais condições de minimizar seus problemas perante o STF (Supremo Tribunal Federal) e o Congresso Nacional.

Líderes governistas ouvidos ontem pelo UOL disseram reservadamente que a saída de Weintraub seria vista como uma deferência ao Congresso.

Fernando Bezerra (MDB-PE), o líder do governo no Senado, chegou a declarar publicamente que, se fosse presidente, demitiria o ministro, ao saber que Weintraub defendeu a prisão de ministros do STF durante a reunião ministerial do dia 22 de abril.

A possibilidade de saída de Weintraub ganhou força nos bastidores de Brasília nos últimos dias, diante do inquérito em que ele é investigado por racismo e depois que foi chamado pelo ministro Alexandre Moraes a depor no inquérito das fake news.

O Senado já aprovou, inclusive, a convocação do ministro para explicar suas afirmações na reunião ministerial. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), tem adiado a marcação da data do depoimento na expectativa da demissão do ministro. Alcolumbre, que é judeu, ressente-se das comparações recorrentes feitas pelo ministro da situação política no Brasil com a perseguição ao povo judaico pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foi mais radical. Rompeu relações com Weintraub . "Um homem com essas qualidades não poderia ter sido ministro de pasta nenhuma, muito menos da Educação", chegou a declarar Maia sobre Weintraub.

O centrão, maior grupamento informal de partidos no Congresso, e que está formalizando seu ingresso na base de apoio político ao governo, já está de olho no cargo do ministro.

Weintraub queimou praticamente todas as suas pontes de diálogo com o Parlamento. Além de não acatar sugestões vindas dos congressistas, costuma bater boca com deputados e senadores nas vezes em que comparece ao Congresso.

As bancadas feminina e da educação na Câmara pediram reiteradamente para que adiasse o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) em virtude da pandemia do coronavírus, mas, Weintraub bateu o pé de que não mudaria a prova em novembro. Só recuou após temer ser derrotado no plenário da Casa, inclusive com o centrão, novo aliado de Bolsonaro, contra ele.

Explicações ao Supremo

No Supremo, Weintraub é investigado por supostamente ter cometido racismo em uma mensagem sobre a China. Em abril, ele publicou na conta pessoal no Twitter uma capa do gibi da Turma da Mônica em que aparece a bandeira da China e a Muralha, e escreveu, imitando o jeito de falar do personagem Cebolinha, uma mensagem em que troca a letra R pelo L.

"Geopoliticamente, quem podeLá saiL foLtalecido, em teLmos Lelativos, dessa cLise mundial? PedeLia seL o Cebolinha? Quem são os aliados no BLasil do plano infalível paLa dominaL o mundo? SeLia o Cascão ou há mais amiguinhos?", postou, numa insinuação de que a China poderia ter se beneficiado na crise do coronavírus.

A publicação foi apagada horas depois. Na época, a Embaixada da China no Brasil repudiou a mensagem.

Ontem, Weintraub foi à sede da Polícia Federal, em Brasília, para prestar depoimento sobre o caso — o que fez por escrito e depois de tentar sem sucesso no STF não ser ouvido. Filho do presidente, o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (Republicanos) escreveu uma mensagem de apoio ao ministro nas redes sociais.

As declarações de Weintraub na reunião ministerial de 22 de abril, cujo conteúdo foi divulgado um mês depois por decisão do Supremo, só pioraram sua situação. Ele disse que "colocava esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF", entre outras afirmações polêmicas.

O STF cobrou explicações e pediu que Weintraub prestasse depoimento à Polícia Federal no âmbito do inquérito das fake news. Na ocasião, o ministro utilizou-se do direito de permanecer em silêncio.

Momento difícil

Os embates de Weintraub com o Judiciário e o Legislativo acontecem em um momento delicado para o presidente, seus filhos e aliados no Supremo e no Congresso. Um dos principais pontos nevrálgicos é o inquérito que apura ameaças e fake news contra membros do tribunal.

Na semana passada, diversos políticos, empresários e blogueiros aliados de Bolsonaro foram alvo de mandados de busca e apreensão em operação da PF. O temor do governo é que as investigações cheguem a funcionários no Palácio do Planalto e, inclusive, nos filhos do presidente, como Carlos, um dos principais responsáveis pelas redes sociais do pai.

Bolsonaro também já contabiliza mais de 30 pedidos de impeachment na Câmara, fora tentativas de instalação de CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito) pela oposição.

Para barrar o avanço dessas iniciativas, Bolsonaro se aproximou do centrão, com cerca de 220 deputados, entregando cargos na administração pública ao grupo em troca de apoio.

As rusgas de Weintraub com os parlamentares se dão ainda em um momento em que o governo espera iniciar a tramitação do projeto de lei do Future-se. A ideia é que universidades federais tenham mais autonomia para firmar parcerias com organizações sociais e captar recursos externos.

A primeira versão do projeto já havia sido mal recebida por parte dos parlamentares no ano passado, quando apresentada, o que forçou o governo a rever pontos de discórdia.