Kassab: Não existe mais Estado mínimo, e ministros precisam rever posições
A pandemia do novo coronavírus e seus reflexos socioeconômicos mostraram a importância do Estado. É o que afirmou Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, no UOL Entrevista de hoje. Para Kassab, uma agenda liberal neste momento prejudicaria o Brasil.
"Qualquer que fosse o gestor, teria dificuldade. Em especial o ministro (da Economia, Paulo) Guedes que é liberal, e hoje, eu — que sou um pouco liberal, hoje sou menos — vejo que o discurso de Estado mínimo não funciona. Não é possível o quanto as pessoas não vejam a importância da saúde pública. Está claro que precisa investir massivamente no ensino público, está claro que estaríamos fritos se não tivéssemos o SUS, que está funcionando bem e que precisa ser melhorado", afirmou Kassab — que, apesar da crítica ao discurso liberal, faz elogias a Paulo Guedes.
"Aqueles que questionavam o SUS não questionam mais. Temos um ministro hoje que respeito e que tem feito boa gestão, mas tem que entender que suas posições tem que ser recicladas. Isso não é Estado mínimo. Com essa dificuldade toda, ele (Guedes) tem acertado. O país está em pé ainda, respirando. Acho que, entre falar se aprova ou desaprova, eu aprovo", analisou.
Os elogios a Guedes, no entanto, não se repetem nos planos de privatizações de estatais. Kassab, ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações entre 2016 e 2019, reforçou a necessidade de investimentos nas empresas como a Telebras, para que elas prestem serviços, especialmente longe de grandes centros.
"Privatizar a Telebras é um crime. O Governo brasileiro, de uns anos para cá, colocou mais de R$ 3 bilhões para levar banda larga onde operadoras não levam. É um crime. Não sei por que esse Governo não continuou algo que foi desenvolvido em vários governos. Meu mérito (como ex-ministro) é pequeno, coloquei cereja do bolo, mas eu conheço o programa. Se esse Governo tiver cinco absurdos, um deles é alguém defender a privatização da Telebras. Não tem custo nenhum, o satélite está pago. Agora é operação", criticou.
Sobre os Correios, porém, o ponto de vista é um pouco diferente. "Aos Correios, faz sentido a discussão. Falo de boa vontade porque, na minha gestão, não deu prejuízo. É evidente que a discussão da privatização, em relação a várias atividades, faz sentido."
Diante da aproximação entre PSD e a base aliada do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Kassab afirmou que não há interesse político de seu partido no comando das estatais.
"Quero ficar distante, não é meu papel. Não sou ministro. A história não chegou e não vejo nenhum sentido", disse, reforçando a importância da empresa.
"Nós poderíamos facilmente estar implantando milhares de equipamentos de internet banda larga (...). Eu convivo hoje com amigos que têm filhos em escolas particulares e sei que não falta nada para as crianças, não tiveram interrupção. E também convivo com pessoas humildes, amigos, em que filhos estão em escola pública, e hoje infelizmente estão há três, quatro meses sem ter o que fazer, sem acesso de banda larga, geralmente em escolas de periferia."
Isolamento
No momento em que a pandemia reflete na economia do Brasil, Kassab reconhece que a reabertura econômica é necessária. Mas pede calma, para que ela seja feita em um momento no qual os riscos à saúde da população sejam os menores possíveis.
"Acho que é inevitável você planejar a reabertura. É importante as pessoas entenderem que cada país tem sua realidade. Na europa, onde fizeram distanciamento radical, seja para comerciante ou cidadão, na média eles têm uma poupançaa para viver um ano sem trabalhar. No Brasil, o cidadão comum não tem recurso pra viver um mês e meio, e o comerciante também não", argumentou, citando um exemplo pessoal.
"Recebi em casa uma delegação de comerciantes da (rua) 25 de Março (em São Paulo). A 25 é o maior centro comercial da América Latina. Eles estavam em desespero. Eram muitos. Dei a palavra para todos, e tinham vários que não estavam nem com porta fechada, já devolveram as chaves. Quando fazem isso, não voltam mais. O que precisa é ter uma politica de diálogo para entender o que pode e o que não pode."
"No pico, não tem como não defender o distanciamento social. Os estudos é que o distanciamento funciona. Está faltando aprofundamento nas medidas. Por exemplo, o pessoal da 25: vieram com a proposta de terça, quinta e sabado só (vender) roupa masculina; segunda, quarta e sexta, só feminina. Está faltando entrar na discussão, para que a gente possa dar solução para os graves problemas das pessoas. Só não é mais grave que a saúde. Discordo de quem diz que é igual. Aprendi com meu pai que nada é mais importante que uma vida. Enquanto o distanciamento se justificar, tem que acontecer. Mas é muito importante que sejam adotados grupos de trabalho para ver soluções. Precisa entrar no varejo, as soluções estão muito globais", completou.
*Participaram dessa cobertura Bruno Madrid, Emanuel Colombari, Flávio Costa e Talyta Vespa (redação) e Diego Henrique de Carvalho (produção)
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