Bolsonaro dá apoio velado a Crivella após negar participação no 1º turno
Embora tenha afirmado esta semana que não tomaria parte no primeiro turno das eleições municipais, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sinalizou um apoio velado à reeleição de Marcelo Crivella (Republicanos) na Prefeitura do Rio —reduto eleitoral do clã presidencial. O apoio velado é baseado no repasse de recursos federais, no uso da imagem de Bolsonaro e na vinculação de Crivella às Forças Armadas.
No último domingo (8), Bolsonaro anunciou em suas redes sociais que não tomaria parte nas disputas municipais no primeiro turno. Após sair do PSL, o presidente tentou criar seu próprio partido, o Aliança Pelo Brasil, mas não obteve o número mínimo de assinaturas para o registro da nova legenda.
Bolsonaro acompanhou Crivella ontem na inauguração de uma escola cívico-militar na zona norte do Rio construída em convênio com a União —o projeto é uma das bandeiras de campanha do presidente.
O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho mais próximo do presidente, foi convidado para se sentar no púlpito com as autoridades. Sua presença foi exaltada por Gutemberg Fonseca —secretário de Ordem Pública do Rio e principal articulador da união entre o prefeito e o presidente— e pelo próprio Crivella. O prefeito chamou o vereador pelo apelido de Carluxo, normalmente usado de maneira irônica por críticos.
A presença de vários ministros próximos a Bolsonaro também serviu como sinalização desse apoio: além de Milton Ribeiro, titular da Educação, estavam no local Augusto Heleno (chefe do Gabinete de Segurança Institucional), um dos principais conselheiros presidenciais, e Ricardo Salles, também próximo a Bolsonaro.
Os parlamentares bolsonaristas do Rio compareceram em peso na inauguração. Entre os presentes, estavam os deputados federais Carlos Jordy, Major Fabiana e Daniel Silveira, e os estaduais Alana Passos e Filippe Poubel.
Investimentos durante a campanha
Outra forma de Bolsonaro se engajar na campanha será com a injeção de dinheiro em obras no Rio durante a campanha eleitoral.
Crivella anunciou em suas redes sociais que o governo federal liberará R$ 105 milhões para o asfaltamento da avenida Brasil —principal via expressa da cidade— em setembro, início da campanha eleitoral. O trecho reformado será entre Santa Cruz e Deodoro, todo o percurso do corredor na zona oeste. Região mais populosa da cidade, a zona oeste é considerada um reduto eleitoral do ex-prefeito Eduardo Paes (DEM), principal adversário de Crivella na disputa.
No evento, Bolsonaro manteve uma postura discreta, mas pequenos gestos indicam como o governo deve se engajar na campanha. Bolsonaro retribuiu os afagos de Crivella em seu discurso, ao destacar o fato dele e do aliado terem entrado no Exército em 1977 —embora já tenha sido mencionada em campanhas eleitorais, a carreira militar de Crivella nunca recebeu ênfase em sua biografia. "Algumas coincidências me ligam ao prefeito", destacou.
Crivella também destacou a associação com Bolsonaro em diversos momentos, chegando a se definir como "um reflexo" da gestão presidencial no Rio.
"Pode ter certeza: aqui no Rio de Janeiro o governo do presidente Bolsonaro tem um reflexo nos valores, nos princípios, no respeito à família e no amor a Deus. E nessa nossa luta incansável, dura, essa luta que nem o senhor nem eu abrimos mão. Recebemos ameaças e chantagens. De não se agachar, de enfrentar de peito aberto e de consciência limpa para a gente construir esse Brasil e essa cidade", disse.
O presidente também posou longamente para fotos apertando as mãos de Crivella, imagem que pode ser utilizada na campanha.
Contudo, o evento também demonstrou que não será tão fácil colar a imagem de Crivella a Bolsonaro diante de uma gestão mal avaliada. Um apoiador do presidente vizinho à escola interrompeu o discurso do prefeito. Usando um sistema de som de sua casa, ele chamou Crivella de "Judas" e criticou a decisão de restringir o acesso dos cariocas à areia das praias. A intervenção inesperada provocou constrangimento nos presentes.
A foto é mais um capítulo no casamento da família Bolsonaro com Crivella, bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus. O presidente já havia visitado Crivella no Palácio da Cidade, residência oficial do prefeito do Rio, em janeiro.
Um mês depois, Bolsonaro já havia se deixado filmar dançando com Crivella durante um show evangélico na orla de Botafogo, zona sul do Rio. No fim de março, Carlos e Flávio Bolsonaro decidiram migrar para o Republicanos, partido de Crivella.
Articulada pelo bispo Edir Macedo, fundador da Igreja Universal, a legenda compõe o Centrão e apoia o governo Bolsonaro. A aproximação do presidente com o Macedo foi iniciada em meados de 2019.
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