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Nas redes, oposição reforça pergunta de cheques que causou ira de Bolsonaro

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

24/08/2020 12h32Atualizada em 24/08/2020 16h54

Nas redes sociais, parlamentares da oposição têm reforçado a pergunta sobre os cheques de Fabrício Queiroz à primeira-dama, Michelle Bolsonaro, que causou a ira ontem do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o fez ameaçar um jornalista dizendo ter "vontade" de "encher tua boca com uma porrada".

A tática tem sido marcar o perfil de Jair Bolsonaro, especialmente no Twitter, e refazer a pergunta do repórter do jornal O Globo: "Presidente, por que a sua esposa recebeu R$ 89 mil reais do Fabrício Queiroz?".

Entre os que pressionam Bolsonaro por uma resposta estão o líder da oposição no Senado, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), e o líder da minoria na Câmara, deputado federal José Guimarães (PT-CE). Grande parte dos parlamentares que aderiram a essa movimentação nas redes sociais é filada ao PT, Rede, PCdoB, PDT, PSB e PSOL.

No entanto, a cobrança a Bolsonaro não tem se limitado a parlamentares de partidos de esquerda. A oposição ao presidente quanto ao caso Queiroz também parte de ala dissidente do PSL, ex-partido de Bolsonaro rachado entre os que continuam apoiando-o e os que defendem somente algumas pautas do governo.

O senador Major Olímpio (PSL-SP), que começou o mandato próximo a Bolsonaro, mas se afastou do presidente nos últimos meses, cobra um posicionamento.

"Gostaria de perguntar olhando nos seus olhos, Jair: Por que sua esposa, Michelle, recebeu R$ 89 mil de Fabrício Queiroz? Se o Bolsonaro de 2018 que não tinha acordo, nem conversa com bandido e não admitia safadeza, se encontrasse com o Bolsonaro de hoje, será que daria porrada?", escreveu.

A ex-líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), também repetiu a pergunta do jornalista e acrescentou ter apoiado Bolsonaro quando era um "desacreditado com 3% nas pesquisas".

O líder do PSD no Senado, senador Otto Alencar (BA), disse ao UOL não entrar no mérito sobre os depósitos. Porém, pediu que o presidente preste explicações, dê uma resposta.

"Ameaçar é insuportável, lamentável. Calar a imprensa é calar a verdade, as informações, deixar o povo brasileiro sem saber o que se passa na vida cotidiana da política e de todos os setores. Repudio com veemência essa ameaça. É uma coisa muito forte, não esperava que um presidente da República pudesse dizer", disse.

Otto faz oposição a Bolsonaro na Bahia. A maioria da bancada do PSD no Senado e na Câmara, porém, tem apoiado o presidente no Congresso Nacional em meio à aproximação do Palácio do Planalto com o centrão.

Ameaça a jornalista após pergunta

Um repórter do jornal O Globo fez a seguinte pergunta a Bolsonaro: "Presidente, por que a sua esposa recebeu R$ 89 mil reais do Fabrício Queiroz?", em referência a uma reportagem da revista Crusoé. O texto afirma que o ex-assessor do senador e filho do presidente, Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), Fabrício Queiroz e a mulher dele, Márcia Aguiar, repassaram R$ 89 mil para a conta de Michelle Bolsonaro entre 2011 e 2016.

Em resposta, Bolsonaro disse: "Minha vontade é encher tua boca com uma porrada, tá". Sem responder à pergunta, o presidente emendou: "Seu safado".

Até o momento, os depósitos a Michelle Bolsonaro não foram esclarecidos. Flávio e Queiroz, além de integrantes da família do ex-assessor, são investigados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro por suposto envolvimento em rachadinha - quando há devolução ilegal de parte de salários de funcionários a um político - no gabinete do parlamentar quando deputado estadual.