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Cristiane Brasil era 'fada madrinha' em esquema de corrupção, diz MP

A ex-deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ) - Reprodução/Twitter
A ex-deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ) Imagem: Reprodução/Twitter

Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

11/09/2020 17h09

Alvo de um mandado de prisão preventiva por supostamente participar de um esquema de desvios de até R$ 120 milhões no governo do Rio e na prefeitura da capital, a ex-deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ) é apontada pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio) como uma espécie de "fada madrinha" de empresa beneficiada em licitações manipuladas. Cristiane se apresentou à polícia na tarde de hoje.

De acordo com denúncia do MP-RJ, ela possuía contato estreito com Flávio Chadud, que é dono da Servilog Rio. Se valendo de forte influência política, ela e o atual secretário estadual do Educação, Pedro Fernandes (PSC), implantaram um esquema criminoso entre 2013 e 2018, acusam os promotores.

O MP afirma que o grupo criminoso utilizava-se de empresas compostas por familiares, empregados e pessoas próximas, assim como de OSs (Organizações Sociais), para conferir aparência de competitividade e fraudar licitações da Secretaria do Envelhecimento Saudável da Prefeitura do Rio (pasta gerida por Cristiane nos primeiros anos do esquema).

Posteriormente, a Fundação Leão 13 —entidade comandada por Fernandes— teria sido incluída no esquema.

As investigações mostram que as disputas por contratos já estavam destinadas à vitória da Servilog Rio —empresa ligada aos denunciados Flávio Chadud (que também foi preso) e de sua mulher, Marcelle Chadud (que foi denunciada). Em troca, o grupo recebia propina que variava de 5% a 25% dos valores finais pagos pelos contratos.

Cristiane teria recebido repasses em euros por meio de outras duas pessoas citadas na denúncia. É nesse contexto que Cristiane é mencionada pelo MP como "fada madrinha" da Servilog, já que mesmo sem cargo público ela seguiria exercendo influência política para beneficiar a empresa e recebendo propina.

As fraudes da organização criminosa teriam se expandido para contratos dos projetos Qualimóvel, Agente Social e Rio Cidadão I e II, todos ligados ao poder público.

Em trocas de mensagens de WhatsApp obtidas na investigação, alguns dos integrantes do esquema se referem a Fernandes como "chefe". No entanto, não há evidências de que ele tenha seguido comandando a organização criminosa depois de 2018, quando assumiu a Secretaria Estadual de Educação, segundo diz a Promotoria.

Ex-deputado estadual, Fernandes foi localizado em sua casa na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio, mas teve a prisão preventiva convertida em domiciliar ao apresentar um atestado médico mostrando que se recupera da covid-19.

Na 1ª fase da operação, no ano passado, sete empresários foram presos. As suspeitas sobre os contratos que envolvem o governo do estado se concentram no período das gestões dos ex-governadores Luiz Fernando Pezão e Sérgio Cabral (ambos do MDB). À época, Fernandes, que foi candidato a governador em 2018, ocupou por dois períodos a Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos.

Mais recentemente, durante a gestão do prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), o ex-deputado esteve no comando da Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos, antes de ser convidado para assumir a Secretaria Estadual de Educação do Rio no início do ano passado.

Ex-deputada fala em perseguição política

Em nota, Cristiane Brasil alegou "perseguição política". Segundo a ex-deputada, as ações visam atingir ela e seu pai, o ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ), em razão de sua pré-candidatura à Prefeitura do Rio.

"Tiveram oito anos para investigar essa denúncia sem fundamento, feita em 2012 contra mim, e não fizeram pois não quiseram. Mas aparecem agora que sou pré-candidata a prefeita numa tentativa clara de me perseguir politicamente, a mim e ao meu pai", afirmou Cristiane.

A ex-deputada acusou Martha Rocha (PDT), também pré-candidata à Prefeitura do Rio, e o presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio), André Ceciliano (PT), de estarem por trás das ações.

"Isso deve ter dedo da candidata Martha Rocha, do Cowitzel [apelido pejorativo dado ao governador afastado Wilson Witzel] e do André Ceciliano. Vingança e política não são papel do Ministério Público nem da Polícia Civil", concluiu Cristiane.

Pedro Fernandes se diz indignado

Por meio de nota, a assessoria de imprensa de Pedro Fernandes informou que ele "ficou indignado com a ordem de prisão". O secretário diz confiar que a inocência dele será provada.

"O advogado dele vinha pedindo acesso ao processo desde o final de julho, mas não conseguiu. A defesa colocou Pedro à disposição das autoridades para esclarecimentos na oportunidade. No entanto, Pedro nunca foi ouvido e só soube pela imprensa de que estava sendo investigado por algo que ainda não tem certeza do que é", diz o comunicado.